Esporte

Flu vai avaliar menina indígena que viaja 100km para treinar em Boa Vista

Em época de gasolina cara, o pai de Sofia se vira realizando bingos e recebendo ajuda de amigos para custear a viagem

O vídeo que mostra trecho da viagem de uma pequena jogadora indígena, que sai da comunidade indígena Vista Alegre, na zona rural de Boa Vista, para treinar futebol na capital, viralizou nas redes sociais.

Essa é a rotina da atacante Sofia Rebeca Ferreira Cunha, de apenas sete anos de idade, que às 14h de terças e quintas-feiras, embarca na garupa da moto pilotada pelo pai, o autônomo Tancredo Maruai Cunha, 34, para chegar a tempo no treino das 17h.

O percurso inclui estrada de terra, passagem de balsa no rio Uraricoera, na região do Passarão, e ainda as rodovias RR-319 e BR-174. Da casa dela para a escolinha, são 100 quilômetros. Depois do treino, ela e o pai se hospedam na casa de um familiar em Boa Vista para, no dia seguinte, percorrem mais 100 quilômetros de volta para a comunidade indígena.

“Esperava a repercussão [do vídeo], porque uma história dessa é muito bonita, por fazer todo esse percurso, sair de moto com o pai, faça chuva ou sol, atravessar o rio de balsa. É diferente, difícil de se ver. É só pra quem é apaixonado pelo esporte. E ela é, e o pai dela a incentiva”, destacou o técnico dela, Rosivaldo Lima, conhecido como “Peteleco”, que já revelou nomes como o meia João Cardoso, hoje no Santa Cruz.


Tancredo Maruai é pai de Sofia Rebeca (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Em época de gasolina cara, Tancredo Maruai, que é pai de cinco filhos, se vira realizando bingos e recebendo ajuda de amigos para custear a viagem. “Seria difícil sem esse apoio. Vamos fazer mais esses bingos, torneios masculino e feminino na minha comunidade”, disse.

Talento que será avaliado no Fluminense


Menina é treinada pelo técnico Peteleco (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O talento de Sofia foi descoberto por um advogado em um retiro espiritual. O profissional indicou a menina para Peteleco, que a partir de então passou a ensinar fundamentos do futebol para a menina de 1,30m. “Ele falou muito bem da Sofia. E realmente ela é diferente de outros atletas da categoria dela. Não tinha nem fundamento. Fiz trabalho direitinho, corrigimos muitos erros e rapidinho ela pegou os ensinamentos sobre coordenação motora, trabalho com e sem bola”, disse o treinador.

Peteleco pretende recompensar o esforço de Sofia e sua família, ao levá-la para uma avaliação nas categorias de base do Fluminense. A viagem para o Rio de Janeiro está marcada para o próximo dia 25. “Criou-se uma expectativa em torno dessa criança, que é diferente pra quem tem oito anos. Ela é acima da média”, declarou.

Em campo, Sofia sabe chutar e driblar com as duas pernas, e costuma jogar entre os meninos. “Teve um torneio no Campo Alegre [comunidade indígena] que ela jogou no time mirim masculino e fez dois gols. Todo mundo ficou impressionado”, lembrou o pai.

Na brincadeira, ela sabe até fazer embaixadinhas. Na sua primeira entrevista da vida, concedida à FolhaBV, ela exibe timidez, mas confirma que, apesar de tentar uma vaga na fase do Flu, é torcedora do Flamengo, fã do atacante Gabigol e que está ansiosa em viajar de avião pela primeira vez.