Empresário candidato nega acusações relacionadas ao garimpo ilegal

Rodrigo Cataratas defendeu que nenhuma denúncia contra ele foi provada e detalhou ação de policiais federais durante as operações em que foi alvo

Ao lado de seus advogados, o empresário Rodrigo Cataratas concedeu entrevista coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (25) para negar as acusações ligando o seu nome ao garimpo ilegal, que constam em processos em segredo de justiça, veiculadas principalmente pela imprensa nacional.

Candidato ao cargo de deputado federal pelo PL – o partido do presidente Jair Bolsonaro -, ele enfatizou que nenhuma denúncia foi provada, que respeita o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a Polícia Federal (PF), mas acredita na existência de agentes “mal intencionados” dentro dos órgãos e que, por criticá-los, é acusado de intimidá-los.

“Não existe nenhuma ação penal contra mim. O que existem são suposições, denúncias por parte de órgãos indígenas. Mas até o momento não se provou nenhuma ação legal a minha pessoa por sonegação, atentado e garimpo ilegal. Todas as minhas atividades são regulares”, afirmou ele, que voltou a alegar “perseguição”, principalmente em período eleitoral para supostamente prejudicá-lo.

Ele começou a entrevista dizendo que é alvo de investigações por suposto envolvimento com o garimpo ilegal desde 2007, que elas se intensificaram em 2017 e disse que não possui garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Yanomami. “A minha atividade garimpeira é fora da reserva indígena”, declarou.

Denunciado por supostamente fomentar o garimpo no território indígena, Cataratas disse que prestava serviços de táxi aéreo para o Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) Yanomami até 2019. “Essa atividade é denunciada desde 2014, porque eu tinha aeronaves arrendadas para empresas de táxi aéreo”, disse.

Operações em que foi alvo

Sobre a operação contra o garimpo ilegal realizada em 26 de agosto de 2021 pela Polícia Federal (PF), em conjunto com Ibama e Anac, tendo ele como um dos alvos, Rodrigo Cataratas disse que os agentes entraram em sua empresa sem apresentar mandado judicial, que eles se negaram a ver sua documentação que comprovaria a regularidade de seu heliponto, dos tanques de abastecimento, a licença de táxi aéreo e de seu garimpo regular.

“Eles falaram que não iam olhar nenhuma documentação de regularidade, porque tinham mandado que corria em segredo de justiça e que estavam somente para fazer a apreensão das aeronaves”, disse ele, que acompanhou a apreensão de seus seis helicópteros.

O empresário disse que denunciou os policiais “mal intencionados” ao Ministério Público Federal (MPF), a quem acusa de ter plantado provas. Ele disse que, durante a fiscalização, confirmou ser o dono do combustível encontrado em tambores plásticos e que os agentes falaram que o armazenamento não podia ser feito daquela forma.

“Falaram que aquilo não poderia ocorrer, apesar de ter a licença de combustível, eu não podia ter nenhum litro de combustível dentro de tambores plásticos. Eles me perguntaram se eu era responsável pelo combustível, falei que era. Não comunicaram a minha prisão no momento e eu fui embora tranquilamente pra casa, achando que ia ocorrer com tranquilidade. Depois da meia-noite, fui comunicado que houve a prisão de uma pessoa aqui na Cataratas justamente por esse motivo”, disse, sobre ter saído do local antes do fim da longa fiscalização.

Segundo ele, cinco dias depois, os agentes fizeram um novo auto de apreensão, no qual incluíram a existência de mercúrio e munição durante a fiscalização. Ele disse ter se negado a assiná-lo.

“Aí já havia má fé desses agentes, querendo plantar provas contra a minha pessoa. Então, não assinei, mesmo assim eles fizeram a entrega desse mercúrio e dessa munição na Polícia Federal. O delegado recebeu esse material mesmo sendo cinco dias após essa fiscalização aqui na empresa e isso também é um ato irregular, porque ele estava presente na fiscalização e não poderia receber esse material cinco dias após a fiscalização. Identificamos também essa irregularidade e posteriormente acabamos por denunciar esses agentes federais. Respeito a Polícia Federal, o Ibama, são órgãos de credibilidade a toda sociedade, mas que há agentes mal intencionados dentro dessas corporações que acabam manchando as instituições”, declarou.

Em uma outra operação que teve a residência como alvo, o empresário contestou a informação de que a esposa, que no momento usava roupas íntimas, teria se insinuado para impedir a entrada de policiais federais. Ele considera a situação como “constrangedora” e “uma falta de respeito e consideração com as mulheres”.

“Pedi acesso aos vídeos dessa operação na minha residência, não tive acesso, a permissão do juiz, mas que fique registrado aqui que a gente escutou o arrombamento do portão da minha residência, eu estava no banheiro, a minha esposa – porque tenho um filho de 11 anos – se levantou pra ver o que acontecia e quando viu a entrada de vários agentes da Polícia Federal, ela se ajoelhou, pediu calma aos agentes para poder acessar o quarto do filho porque ela queria preservar o susto com a entrada tão abrupta dos agentes”, disse.

Ataque ao Ibama


Suposto ataque ocorreu no dia 12 de setembro do ano passado, dentro do pátio da PF (Foto: PF)

Rodrigo Cataratas também negou envolvimento com supostos atentados, sendo um ao carro do Ibama e outro ao helicóptero da autarquia, ocorridos em setembro de 2021. Ao afirmar que teve acesso às investigações do caso, ele levantou questionamentos sobre algumas informações.

“Na sede do Ibama: foram colocados vídeos mostrando a fuga das pessoas que estavam nessa ação com ano de 2010 e o horário, mesmo que fosse um erro de formatação das câmeras, o horário das fugas se deu meia hora antes do relatado do início do incêndio. Como que o incêndio começou meia hora após as pessoas terem fugido?”.

Além disso, segundo ele, um vigilante da PF relatou que havia um agente do Ibama naquela noite anterior tirando pertences do helicóptero, como maletas, e que houve o derramamento de líquido. “O perito posterior a isso relatou que o líquido encontrado era inflamável – isso foi noticiado, está na investigação – por parte desse vigilante. O que gera curiosidade é: que não chamaram o agente do Ibama para relatar o que ele tirou da aeronave”.

Ademais, Rodrigo Cataratas citou depoimentos “iguais” de três vigilantes da PF que estavam na sede da corporação. “Os textos são iguais ao depoimento dos três vigilantes”.

Sobre a informação de que o carro usado no atentado ao helicóptero estava na Cataratas Poços Artesianos dias antes, o empresário declarou que “o suposto motorista que cometeu esse crime relatou que é motorista de Uber e que eles [PF] estão me ligando à ação, porque o motorista, alguns dias anteriores, esteve na sede do Ibama, na sede da PF e esteve próximo à sede da minha empresa […]. É uma suposição que ele tenha sido o autor dos dois atentados”.

Acusado de ter pago R$ 5 mil para executar as ações, Cataratas disse que não realizou nenhum pagamento. “Não conheço quem foi preso e nem ligação com ela. Não tem como haver depósito a ela”.

Lavagem de dinheiro

Indiciado pela PF por lavagem de dinheiro, Rodrigo Cataratas negou ter recebido R$ 2 milhões da mineradora Gana Gold, do Pará. “Todas as minhas empresas e a minha atividade garimpeira cumprem toda a legislação e determinações da Receita Federal”, disse.

‘Dinheiro no colchão’

Rodrigo Cataratas declarou à Justiça Eleitoral possuir R$ 4,5 milhões em espécie e ganhou notoriedade na imprensa nacional por encabeçar uma lista de candidatos com “dinheiro no colchão”. Ele criticou a mídia por divulgar a informação, embora ela esteja no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“É uma falta de respeito colocar a minha segurança física e a minha casa em risco você pegar uma declaração do Imposto de Renda e colocar pra toda sociedade. A minha declaração cumpre todas as exigências […]. Toda minha movimentação financeira cumpre as movimentações da Receita e não há nenhuma multa sobre a minha movimentação financeira”, finalizou.

Defensor da legalização do garimpo

Ao reafirmar o posicionamento pela legalização do garimpo, o líder do Movimento Garimpo é Legal criticou ONGs (Organizações Não-Governamentais) que supostamente tentam criminalizar os garimpeiros e impedir o acesso das riquezas do Estado à população de Roraima, e confirmou defender a mineração em terras indígenas, como prerrogativas das comunidades.

“Existe uma minoria indígena que é contra o garimpo. Temos que respeitá-la, mas a maioria é a favor, como a Sodiurr (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima) e outras entidades querem que o índio saia da miséria”, enfatizou.

Ele disse acreditar que as denúncias de lideranças indígenas contra garimpeiros são motivadas para sensibilizar a sociedade e responsabilizar os garimpeiros por crimes praticados contra os povos indígenas.

Cataratas ainda criticou e contestou o estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Socioambiental (ISA), do Instituto Evandro Chagas e da Universidade Federal de Roraima (UFRR), que revelou que peixes de rios de Roraima foram contaminados devido à ação do garimpo ilegal.

Ademais, ele criticou a imprensa nacional por não repercutir a morte de cinco garimpeiros brasileiros em território venezuelano e voltou a falar de conflito judicial em torno da decisão judicial sobre a apreensão de seus helicópteros.