Economia

Roraima pode exportar combustível para a Venezuela

Se aumentar a escassez de óleo diesel no país vizinho, a mercadoria de Roraima corre o risco de não chegar a este mercado

A diminuição da atividade industrial na Venezuela tem afetado o abastecimento de combustível, o que pode interferir na economia de Roraima. O país vizinho é o principal destino das exportações locais, e para evitar que ele deixe de comprar por não ter como fazer o transporte, o Governo do Estado estuda a alternativa de exportar combustível para o mercado venezuelano. 

A informação foi dada pelo presidente da Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio e Indústria de Roraima, Eduardo Oestreicher, em entrevista ao programa Agenda da Semana deste domingo (4), transmitido pela Rádio Folha 100.3, com apresentação do economista Getúlio Cruz. 

A situação preocupa porque durante a pandemia, os caminhões com produtos brasileiros não podem ir até o destino final na Venezuela. A venda tem sido feito da seguinte forma: a carga sai de Roraima e na aduana em Pacaraima, ou na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, a mercadoria é transbordada para um veículo venezuelano. Deste modo, se não houver combustível no país vizinho, a mercadoria de Roraima não chega a este mercado. 

Uma alternativa encontrada foi a venda de combustível para o país vizinho. Oestreicher explicou que foi identificado que um dos associados à Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio e Indústria de Roraima possui registro junto a ANP (Agência Nacional de Petróleo), como agente de comércio exterior.

A partir disso, após articulação do senador Telmário Mota, a Câmara teve uma reunião preliminar com representantes da Petrobrás, na qual apresentou a situação. “Agora é tentar verificar a melhor maneira de adquirir e fazer essa exportação para que não pare esse fluxo de exportação.”

O presidente pontuou que é possível que esta operação goze de isenção de impostos, desde que a autorização permita que o agente possa comprar diretamente da refinaria, o que vai possibilitar baratear o custo. “Nunca imaginamos que poderíamos entrar nessa seara de exportação de combustível para a Venezuela, pois sempre foi o contrário. Como é um tema novo, estamos fazendo uma leitura de todas as normativas”, disse, ao afirmar que espera que as relações políticas não interfiram nesta questão comercial. 

Exportações

A Venezuela atualmente é o principal parceiro comercial de Roraima, e recebe 96% das exportações locais, formadas principalmente por gêneros alimentícios. Este volume ainda não é suficiente para atender nem um terço da demanda no Estado de Bolívar, na Venezuela. Isso indica que ainda há margem para crescimento das vendas internacionais.

Estes números vêm numa crescente desde 2016 e passaram de US$  5 milhões em maio de 2019 para quase US$ 26 milhões no mesmo período deste ano. Há cinco anos o país permitiu a entrada de gêneros de primeira necessidade sem precisar de registro nos ministérios venezuelanos. “O Estado se tornou um grande entreposto comercial, e passa a ser visto como local que pode concentrar produtos para a Venezuela e Guiana e atingir mercado do Caricom [Mercado Comum e Comunidade do Caribe]”, prospectou.

Outro facilitador destas operações é a possibilidade de os compradores efetuarem o pagamento em Real, modalidade que tem se tornado comum e representado 70% do total. “Mesmo que os produtos exportados sejam comprados de outros estados, isto é vantajoso para o Estado pois gera emprego e renda aqui, como no caso dos supermercados e atacados”, destacou Oestreicher. 

Investimentos ao Norte

Segundo o presidente, a Câmara tem feito uma análise mais profunda, e contato com diversas embaixadas brasileiras em países das ilhas caribenhas, para levantar necessidades, comparação de competitividade e a melhor maneira de o Estado também participar deste mercado. 

Um dos caminhos para este mercado é pela Guiana, cujo Produto Interno Bruto (PIB) tem a maior projeção de crescimento da América Latina por conta do petróleo. A exportação de Roraima para o país saiu de US$ 1 milhão de dólares em 2015 para US$ 5,8 milhões em 2019, entre materiais de construção, água mineral, gás de cozinha e mais recentemente, alimentos. “Este crescimento nos enche os olhos de expectativa. Temos que retomar esse diálogo para avançarmos, mas um ponto crucial é a finalização do acordo de transporte”.