RETROSPECTIVA

Incertezas: Veja como foi a economia de Roraima em 2023

Vem entender como as questões políticas, ambientais e climáticas balançaram as tomadas de decisões no estado

Incertezas: Veja como foi a economia de Roraima em 2023

Você reparou que 2023 foi um ano de incertezas na economia de Roraima? Isso porque questões políticas, ambientais e climáticas balançaram as tomadas de decisões, reafirmaram os problemas do estado e também fortaleceram setores econômicos.

Entretanto, apesar de altos e baixos, a economia do estado se manteve acima da média, conforme o assessor econômico da Fecomércio-RR e secretário-Adjunto da Seplan (Secretaria de Estado do Planejamento e Desenvolvimento de Roraima), Fábio Martinez. Confira a retrospectiva da economia roraimense!

Fortes influências econômicas

A economia roraimense sentiu a primeira influência no dia 1º de janeiro, quando não se sabia como seria a relação entre o Governo do Estado de Antonio Denarium e o Governo Federal de Lula. O viés político e econômico dos dois seguem rumos diferentes, em que conforme Martinez, “um lado é pela liberdade econômica e outro de preservação ambiental”. Só isso já causou incerteza aos empresários do agronegócio, setor que mais se desenvolveu no estado.

Em poucos dias, e depois em meses, com o alerta da crise humanitária Yanomami devido ao garimpo ilegal em terras indígenas, a movimentação da atividade teria causado impacto na economia, mesmo não sendo possível quantificar. De acordo com o economista, alguns setores sentiram a retração pontual do fechamento das áreas de garimpo em Roraima, no entanto, foi a melhor decisão para o futuro ambiental e econômico do estado.

Fábio Martinez é assessor econômico da Fecomércio-RR e secretário-Adjunto da Seplan. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

A gente teve um impacto econômico por conta da sede do garimpo, mas se ele persistisse a gente teria um impacto ambiental tamanho que a própria economia começaria a cair. Se o garimpo continuasse do jeito que ele estava, de uma forma predatória, nocivo para saúde, para o meio ambiente e para a própria economia, o risco mais na frente seria maior.

reforçou Fábio.

Após quase oito meses, já no segundo semestre de 2023, o verão chegou à região Norte de forma intensa e causou a seca nos rios do Amazonas. O impacto no estado não foi instantâneo, mas um mês depois, Roraima passou a ver o cimento, o limão e a energia cada vez mais caros e alguns até escasso. Conforme Martinez, isso apenas reforçou que o estado ainda é isolado e sofre com vias de acesso de rodovias, fluviais e áreas.

Em seguida, quando menos se esperou, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, requisitou a região de Essequibo, atualmente no território da Guiana. Os dois países fazem fronteira com Roraima, que pode ser afetada devido os laços estreitados com o país guianense, principalmente com a cidade de Lethem, a porta para o escoamento da agricultura roraimense.

A gente está em uma fase da agropecuária de não vender apenas produtos in natura, mas também produtos com algum tipo de processamento. A soja é o nosso principal produto […] e a gente conseguiu mais vender mais soja beneficiada [farelo] do que a soja in natura, mostrando que existe um processo industrial. Só que essa indústria só se instalou aqui porque os empresários viram a possibilidade de exportar para Guiana e para o Caribe. Se esse conflito se estender ainda mais, nos tornamos inviáveis para essa saída fazendo com que algumas empresas deixem de investir ou até mesmo saiam do estado de Roraima.

explica Fábio Martinez.

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Onde Roraima melhorou

De acordo com o secretário Adjunto da Seplan, Roraima continuou a crescer em postos de trabalho formais, foi o terceiro estado que mais gerou abertura de empresas, assim como foi o terceiro maior em crescimento do PIB 2021.

Maiores impactos

O maior impacto em 2023 foi o alto índice de desemprego no estado, que cresceu e atingiu 19 mil pessoas no terceiro trimestre. Segundo Fábio Martinez, a taxa vinha caindo desde 2021, mas nos últimos meses subiu com o aumento da migração venezuelana.

“Uma coisa é interessante, não porque diminuiu a quantidade de pessoas ocupadas, na verdade até aumentou, só que a quantidade de pessoas procurando emprego aumentou mais. E isso é justamente reflexo desse fluxo migratório. Cada vez mais há pessoas procurando emprego e acaba aumentando essa taxa desemprego”,

analisou.

Martinez ainda destacou que a inadimplência Roraima aumentou e a população “nunca esteve tão endividada” como neste ano. Na recente análise da Serasa Experian, quase 240 mil roraimenses estão com dívidas, o que representa 49% da população. A faixa etária de 26 a 40 anos foi a mais endividada, além de que contas de água, luz e gás (utilites) foram as que mais pesaram no orçamento mensal.

Outros destaques de 2023 foram os temidos combustíveis e carne bovina. Durante o primeiro semestre, a gasolina despontou como a mais cara da região Norte e do Brasil algumas vezes, mas depois de agosto estabilizou na média de R$ 6/L. Quanto à carne, foram três baixas nos preços anunciadas pela Coopercarne. A última, ocorrida em agosto, reduziu cerca 5,55%.

Ademir Santos, presidente da Fecomércio-RR. (Foto: Arquivo FolhaBV)

Para 2024, um ano menos traumático

Para o presidente da Fecomércio-RR, Ademir dos Santos, Roraima teve um ano complicado, com muitas incertezas e mudanças, uma vez que a Reforma Tributária foi aprovada e quase impactou as Áreas de Livre Comércio (ALCs) do estado. Apesar disso, a expectativa para 2024 é otimista.

“Tivemos um ano muito complicado, diferente. Nós tivemos a questão do garimpo, a questão de mudança de governo, em que o empresário ficou muito na expectativa de como seria. Além disso, a gente fala em reforma tributária, em reforma administrativa, mas isso é só o falar e não consegue ver como vai ser. Mas o empresário é um eterno otimista, por isso gente tem uma perspectiva de que vai ser um ano menos traumático do que foi 2023”, resume o presidente.