JESSÉ SOUZA

Prefeituras roraimenses assinam pacto inédito em favor de crianças migrantes  

Membros da Escola de Música da Orquestra “Música sem Fronteiras”, da Associação de Migrantes Indígenas de Roraima (AMIR), no evento realizado no TCE (Foto: Ascom/TCERR)
Membros da Escola de Música da Orquestra “Música sem Fronteiras”, da Associação de Migrantes Indígenas de Roraima (AMIR), no evento realizado no TCE (Foto: Ascom/TCERR)
Membros da Escola de Música da Orquestra “Música sem Fronteiras”, da Associação de Migrantes Indígenas de Roraima (AMIR), no evento realizado no TCE (Foto: Ascom/TCERR)

Em um evento inédito, representantes e prefeito dos 15 municípios roraimenses assinaram o termo de adesão ao Selo Unicef +, na terça-feira passada, 17, em que eles se comprometem a investir na Primeira Infância, especialmente adotando uma metodologia proposta para fortalecer as políticas públicas voltadas aos direitos de crianças indígenas, refugiadas e migrantes, com ações intersetoriais e integradas.

A iniciativa é uma parceria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Tribunal de Contas de Roraima (TCERR), que sediou o evento, em que os municípios irão passar por capacitações, receberão bibliografia especializada e suporte técnico da equipe do Unicef e parceiros. As prefeituras se comprometeram a desenvolver um plano de ação, de outubro de 2023 a julho de 2024, mobilizando a comunidade local para participar das decisões e acompanhando a evolução de indicadores sociais.

É um momento importante diante do preocupante quadro em que Roraima se encontra, com a chegada em massa de famílias venezuelanas que passam a morar com suas crianças e adolescentes na rua, dormindo em barracas improvisadas ou enroladas em lençóis nos gramados no entorno da Rodoviária de Boa Vista, nas calçadas e marquises do comércio ou mesmo no meio-fio das avenidas, principalmente nos bairros 13 de Setembro e São Vicente, conforme o artigo de segunda-feira, 16, intitulado “A fila do brinquedo e a importância de investir na Primeira Infância”.

No referido artigo, foi comentado também que apenas o Município de Boa Vista adotou uma política pública (e isso há 10 anos!) voltada para a Primeira Infância, executada por meio do Programa Família que Acolhe (FQA), atualmente destinando 7% do orçamento municipal para a Primeira Infância, o que representa R$166 milhões por ano em investimento. Com esse pacto assinado pelos municípios, além do governo estadual, espera-se que os gestores de todo o Estado assumam suas obrigações não só com a infância que está sendo ignorada, com a Primeira Infância de uma forma geral.

Afinal, há mais de 20 anos que o Nobel de Economia James Heckman vem afirmando que investir em educação para a Primeira Infância é a melhor  estratégia anticrime, pois isso tem tudo a ver com a desigualdade social e o potencial que há nessa fase da vida (de zero a 6 anos de idade) para mudanças que possam tirar pessoas da pobreza. Há pesquisas apontando que Educação de qualidade na Primeira Infância tem impacto na vida da pessoa e em etapas seguintes da vida.

Conforme James Heckman, na etapa entre o nascimento e os 5 anos de idade o cérebro da criança se desenvolve rapidamente e é mais maleável, tornando mais fácil incentivar habilidades cognitivas e de personalidade – ou seja, atenção, motivação, autocontrole e sociabilidade – necessárias para o sucesso na escola, na saúde, na carreira e na vida. Apesar das mais de duas décadas que o Nobel vem falando isso, as autoridades somente agora estão tomando atitudes. Obviamente que, antes de tudo, não há interesse dos políticos em formar cidadãos sadios e críticos.

A assinatura do compromisso dos gestores municipais com as crianças imigrantes e indígenas é um passo importante e decisivo. Cabe não só ao TCE, mas à sociedade em geral acompanhar e cobrar que as ações sejam colocadas em prática. Porque é o futuro de Roraima que está em jogo. Se não tivermos uma infância sadia hoje, dentro de sala de aula e fora dela recebendo todo o suporte necessário, não tardará para o cenário de criminalidade que presenciamos hoje piorar.

*Colunista

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