JESSÉ SOUZA

O caso Rorainópolis e o cenário que vem sendo desenhado há 16 anos de descaso

Serviço de videomonitoramento foi implantado em Rorainópolis, Sul de Roraima, em julho de 2016 (Foto: Divulgação)

Entrada de que vem principalmente de Manaus, Capital do Amazonas, pelo trecho sul da BR-174, o Município de Rorainópolis, no Sul de Roraima, registrou dois crimes brutais neste mês: o de uma adolescente de 17 anos, na calada da noite do dia 4, e de um empresário em frente ao seu estabelecimento comercial, à luz do dia desta terça-feira, 21, em pleno horário comercial, ambos executados com três tiros.

Quando os malfeitores sentem o mínimo de ausência do poder público e acreditam que podem ficar impunes de alguma forma, eles passam a agir de forma deliberada. Foi assim que três criminosos agiram, também em Rorainópolis, em 02 de dezembro de 2019, ao invadirem a casa da empresária Joice Camilo, na madrugada, e cometeram latrocínio.

Neste caso, os três elementos foram presos e condenados, no dia 15 de outubro de 2021, a 25 anos de cadeia em regime fechado. E o exemplo tem que ser seguido nos casos desses dois recentes bárbaros crimes, que mostram uma escalada de violência diante de uma Segurança Pública deficitária.

Rorainópolis era para ter a segurança sob controle absoluto, uma vez que, em julho de 2016, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) comemorava a implantação do sistema de monitoramento de vídeo na sede da 3ª Companhia Independente de Polícia Militar. À época, o governo divulgara que o serviço havia reduzido em 80% os índices de criminalidade naquele município.

A propósito, não foi apenas em Rorainópolis que tudo desandou. Em 2008 foi lançado um moderno projeto de videomonitoramento visando o combate à violência e à criminalidade, o qual nunca chegou ser executado em sua plenitude até ficar inoperante. O sistema Enafron (Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras), planejado por meio de convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), até chegou ser implantado em Rorainópolis e em Pacaraima, Norte do Estado, na fronteira com a Venezuela. Mas tudo virou sucata.

O Enafron foi anunciado pelo governo José de Anchieta Junior, mas só começou a ser executado em 2013, no governo Chico Rodrigues, e passou a ser implementado em 2015, no governo Suely Campos. E hoje ninguém lembra ou sequer faz questão de comentar sobre o assunto, descambando no que estamos vendo no atual governo de Antonio Denarium.

Ou seja, a insegurança pública não é um evento do acaso, mas algo construído pelos seguidos governos ao mostrarem falta de interesse. Enquanto isso, os criminosos só surfaram na onda e se organizaram, com fortalecimento das facções, as quais chegaram ao ápice nos tempos atuais, quando passaram a atuar no narcogarimpo.

O que estamos observando em Rorainópolis é só mais um alerta de tantos outros não ouvidos pelas autoridades ao longo dos seguidos governos.  Essa realidade de falta de estrutura na segurança da população não é exclusiva daquele município. A questão agora é quando irá eclodir, uma vez que o pequeno número de policiais que atuam no interior faz o que pode diante da falta de estrutura.

E a senha para a eclosão já foi distribuída desde quando policiais passaram a ser denunciados por envolvimento em crimes, inclusive milícias e grupo de extermínio. Em Rorainópolis, um dos crimes tem como suspeito um policial militar. Todos os ingredientes estão aí, à mesa. E não há ninguém preocupado com isso…

*Colunista

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