Saulo Monteiro*

Em meio a um cenário macroeconômico instável, o mercado de trabalho temporário no Brasil apresenta vitalidade surpreendente. De acordo com a Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), no segundo trimestre deste ano houve um crescimento de aproximadamente 5% na criação de vagas em relação ao mesmo período do ano anterior, o que corresponde a cerca de 630 mil novas oportunidades. A indústria lidera esse movimento, com 40% das contratações, seguida pelo setor de serviços, com 30%, e pelo comércio, responsável por 25%.

Esses números revelam que o trabalho temporário não deve ser visto apenas como uma alternativa transitória para complementar renda, mas sim como um canal estratégico de inserção no mercado. O próprio Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que entre 20% e 30% das vagas temporárias abertas no fim do ano resultam em contratações efetivas no início do ano seguinte.

Com a proximidade do período de maior movimentação no comércio e nos serviços, surgem milhares de vagas adicionais, sobretudo no varejo, na logística e no e-commerce. Trata-se, portanto, de um momento crucial para trabalhadores em busca de recolocação profissional ou de uma primeira experiência no mercado.

O ponto central, contudo, é compreender que a efetivação não decorre do acaso. Para transformar uma oportunidade temporária em carreira sólida, o trabalhador precisa adotar postura estratégica. A começar pelo processo seletivo, em que currículos devem destacar competências diretamente ligadas à função — como atendimento ao cliente, capacidade de organização e flexibilidade de horários — e entrevistas devem evidenciar disposição, profissionalismo e habilidade para lidar com situações de pressão.

Uma vez contratado, o desafio é maior: é preciso agir como se já fosse parte definitiva da equipe. Comprometimento, pontualidade e proatividade são elementos decisivos para se destacar. Construir boas relações com colegas e superiores, assim como buscar feedbacks constantes, aumenta significativamente as chances de reconhecimento. Mais do que cumprir tarefas, o trabalhador deve demonstrar resultados concretos e capacidade de se integrar à cultura organizacional.

O trabalho temporário, nesse sentido, funciona como um teste bilateral: a empresa avalia o desempenho do profissional, enquanto este conhece o ambiente e pode projetar seu futuro naquele espaço. Quando bem aproveitado, esse período torna-se não apenas uma experiência pontual, mas o início de uma trajetória consistente.

Por isso, encarar o trabalho temporário apenas como uma ocupação passageira é subestimar seu potencial. Em um país onde a concorrência por oportunidades é elevada, essa modalidade pode representar o primeiro passo para uma carreira estável. Cabe ao trabalhador transformar o que, à primeira vista, é temporário, em algo duradouro.

* Administrador, especialista em finanças e professor dos cursos de Gestão da Estácio