Policiais militares procuraram a FolhaBV para relatar um suposto cenário de desmotivação dentro da tropa, que, segundo eles, estaria contribuindo para o aumento da criminalidade no Estado.
Entre as principais queixas, os militares destacam a sobrecarga de atribuições. De acordo com os relatos, a corporação é frequentemente acionada para apoiar órgãos federais, estaduais e autarquias — como Detran, Femarh, Aderr, Tribunal de Justiça, Ministério Público Estadual, Iteraima e Defensoria Pública. Segundo eles, muitas dessas demandas extrapolam a competência constitucional da Polícia Militar, desviando policiais de suas funções principais de policiamento ostensivo.
“O efetivo já é insuficiente, e quase metade está cedida a órgãos dos Três Poderes, exercendo funções administrativas. Isso diminui ainda mais a presença de policiais nas ruas”, relatou um militar.
Os policiais também denunciam a defasagem salarial, que estaria provocando desmotivação, dificuldades de retenção e a busca por alternativas de renda. “Tenho colegas que, na folga, trabalham de motorista de aplicativo ou empreendem para sustentar a família. Prometeram reajuste, mas até agora ninguém fala nada”, disse outro servidor.
Segundo eles, a tropa já inicia o serviço desmotivada. “A principal causa é a falta de valorização. A PM não tem reajuste há anos e a grande hipocrisia vendida pelo governo de que as coisas estão indo bem, só serve para o alto escalão. Para aumentar os salários dos secretários não se fala em estudo de impacto orçamentário, mas para conceder algo legítimo aos servidores sempre dizem que não há dinheiro. O parcelamento de 4% foi ridículo”, afirmou o policial.
“Hoje você não ver os policiais fazendo patrulhamento, só atendem ocorrência quando são acionados, e isso tem refletido no aumento de delitos pela cidade e interior, pois a bandidagem se sente livre pra agir”, acrescentou um dos policiais ouvidos.
Reclamações e críticas à gestão
Críticas também foram direcionadas ao comando da corporação. “Todo mundo sabe que o atual comando da PM está na base do governo apenas para tapar buraco. O governador sequer recebe os comandantes para despachar assuntos da PM, prefere tratar isso com o chefe da Casa Militar. Além disso, a atual gestão se preocupa em vender uma PM ‘instagramável’, fazendo ações pontuais que não resolvem a criminalidade”, disse outro.
Ainda segundo relatos, o curso de Técnicas Policiais (CTP), realizado semanalmente, estaria desgastando ainda mais os militares. “Ele não resolve a segurança pública, apenas sobrecarrega os policiais que precisam se desdobrar entre serviço e capacitação, sem contar os custos extras exigidos em alguns materiais”, relatou.
Outras reclamações incluem alegações de fraudes em processos de promoção, punições excessivas sem fundamentação jurídica, assédio moral por parte de comandantes, promoções atrasadas, além de redução no combustível e no Serviço Voluntário Indenizado (SVI), que, de acordo com policiais, estaria sendo usado de forma estática apenas “para tirar foto”.
“Os comandantes de unidades não estão preocupados em fazer um bom serviço. A maioria é empresário e cumpre apenas expediente na PM, alguns nem isso”, disse o militar.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar de Roraima, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto.