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O TEMPO DE VER AS PAISAGENS: Uma reflexão sobre viver com calma

O TEMPO DE VER AS PAISAGENS: Uma reflexão sobre viver com calma

Em um mundo que gira cada vez mais depressa, em que somos pressionados a alcançar metas antes mesmo de entendermos por que as desejamos, parar para contemplar as paisagens da vida parece um luxo. Mas talvez seja, na verdade, uma necessidade vital, algo que sustenta a alma e dá sentido à travessia. Essa reflexão não se trata apenas de desacelerar, mas de reaprender a viver cada fase com presença, sem querer saltar etapas como se a vida fosse uma escada que precisa ser vencida correndo.

A pressa nos engana com a promessa de plenitude. Corremos para crescer, para sermos adultos antes do tempo; corremos para provar nosso valor na juventude, como se a maturidade fosse um prêmio que só se conquista com resultados rápidos; e, quando percebemos, corremos também para evitar o envelhecimento, como se o tempo fosse um inimigo a ser derrotado. No entanto, ao chegarmos lá, olhamos para trás e vemos que tudo passou e, talvez não da forma que gostaríamos. O caminho se fez, mas as paisagens ficaram para trás, esquecidas.

O escritor Hermann Hesse certa vez afirmou: “Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido”. A frase ilumina uma verdade silenciosa: só compreendemos a vida quando realmente a vivemos, não quando a observamos de longe ou a atravessamos correndo. Cada etapa, seja ela a infância, adolescência, maturidade e velhice, carrega experiências únicas que não se repetem. São capítulos com ritmos, tons e texturas próprios, e ignorá-los é como pular páginas de um livro esperando que o final faça sentido.

Na infância, o mundo é um encantamento; tudo é descoberta e espanto. Há uma poesia no modo como uma criança segura uma folha seca como se fosse um tesouro. Na adolescência, há o ímpeto da liberdade, a intensidade das primeiras escolhas, a construção do “quem sou” no meio do ruído do mundo. A maturidade traz o peso e a leveza da responsabilidade, a consolidação dos afetos, a visão mais ampla das rotas possíveis. E o envelhecimento, longe de ser um ocaso, pode ser um alvorecer de sabedoria, o momento de unir os fios e contemplar o tapete que se teceu.

Quando pulamos essas fases, quando tratamos cada uma apenas como uma ponte para a próxima, perdemos não apenas o tempo delas, mas o que havia de único em cada uma. É como atravessar uma floresta com os olhos no relógio: chega-se ao outro lado, mas não se viu a beleza das árvores.

Vivemos numa cultura que idolatra a velocidade. O sucesso é medido por quem chega “primeiro”, como se a vida fosse uma corrida de cem metros. Mas a verdade é que muitas das coisas mais valiosas da existência não podem ser conquistadas pela pressa. Afeto, compreensão, sabedoria e sentido são frutos que amadurecem lentamente.

Sêneca advertia: “É muito comum acontecer de justamente quem viveu muito ter vivido pouco.” Quantos acumulam anos, cargos, prêmios, posses, mas não lembranças, não paisagens internas, não histórias que façam os olhos brilharem. Vivem com pressa de viver e acabam não vivendo de fato.

A conquista apressada também traz um efeito colateral: a frustração. Porque, ao alcançar o que se desejava, muitas vezes descobre-se que a meta era apenas um marco no caminho, e não o destino final. A felicidade não está no ponto de chegada, mas na forma como caminhamos até ele. Se o trajeto for feito às cegas, nenhum troféu o tornará mais significativo.

Olhar as paisagens da vida exige um tipo especial de coragem: a coragem de estar presente. É parar para ouvir uma música sem fazer nada além de ouvi-la. É sentar-se ao pôr do sol sem olhar o relógio. É rir de verdade com amigos, mesmo quando há trabalho acumulado. É olhar para trás e conseguir sorrir do que fomos, sem desprezar nenhuma versão de nós mesmos.

Esse “sabor” do instante não está reservado aos momentos grandiosos. Na verdade, ele se esconde justamente nos detalhes, o cheiro do café pela manhã, a mão que segura a nossa sem pedir nada, a lembrança de um brinquedo antigo, a sabedoria contida nas rugas de alguém que amamos. São essas pequenas paisagens que dão densidade à vida, e não os grandes feitos que estampamos em currículos ou redes sociais.

Saber saborear os instantes não significa abandonar os sonhos ou metas, mas compreender que eles não valem a pena se o caminho até eles for um deserto de pressa e esquecimento.

Parte do desafio de viver com calma é reconciliar-se com o tempo. Em vez de vê-lo como um adversário que nos rouba a juventude, é preciso vê-lo como um escultor silencioso que vai moldando nossas experiências. A infância não precisa ser negada quando chega a adolescência; a juventude não precisa ser descartada com a chegada da maturidade; e a velhice não é uma ruína, mas uma nova paisagem, mais serena e ampla, de onde se pode ver todo o caminho percorrido.

O tempo, quando respeitado, retribui com profundidade. Ele transforma as memórias em sabedoria, as perdas em compaixão, os erros em aprendizado. Mas isso só acontece se lhe dermos espaço para agir, se aceitarmos a cadência própria de cada etapa. Caso contrário, o tempo apenas passa e nós passamos com ele, sem deixar raízes.

Talvez o maior presente que possamos deixar ao mundo não sejam feitos grandiosos, mas o testemunho de uma vida bem vivida, uma vida que soube atravessar cada fase com plenitude, que contemplou suas paisagens e aprendeu com elas. Uma vida assim inspira não por ter corrido mais rápido, mas por ter caminhado com sentido.

A pressa nos promete vitórias; a presença nos entrega significado. E é esse significado que permanece quando os aplausos cessam, quando as conquistas perdem o brilho, quando o corpo já não acompanha a velocidade dos sonhos. O que fica são os olhares trocados, as memórias compartilhadas, as paisagens que guardamos dentro de nós.

Talvez este seja o maior aprendizado: viver não é conquistar o máximo no menor tempo possível, mas atravessar cada momento com o coração desperto. É um convite a diminuir o passo, a olhar em volta, a aceitar que a vida não é uma linha reta, mas um campo vasto cheio de estações. Cada uma delas floresce a seu tempo, e, é justamente isso que as torna belas.

A pressa transforma a vida em cronograma; a contemplação a devolve como poesia. E, no fim das contas, talvez não seja sobre chegar antes, mas sobre chegar inteiro. Não é sobre viver muito, mas sobre viver de verdade — de modo que, ao olhar para trás, possamos dizer que vimos as paisagens, que escutamos os silêncios, que provamos os instantes. E que, acima de tudo, estivemos presentes em nossa própria vida.

Por: Weber Negreiros
W.N Treinamento, Consultoria e Planejamento
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