JESSÉ SOUZA

Chegada do Linhão de Tucuruí e as antigas ‘profecias’ dos políticos nunca cumpridas

Chegada do Linhão de Tucuruí e as antigas ‘profecias’ dos políticos nunca cumpridas
Tucuruí é a última promessa da chegada do sonhado desenvolvimento em Roraima (Foto: Divulgação)

A interligação de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia elétrica, por meio do Linhão do Tucuruí entre Manaus (AM) e Boa Vista, é a última “profecia” feitas por políticos para que o Estado finalmente deslanche para o prometido desenvolvimento. A resolução da questão energética, com a garantia de um sistema confiável, vem povoando a mente dos roraimenses há alguns anos.

No entanto, é preciso resgatar os antigos discursos desde o tempo de Território Federal, os quais eram repetidos como mantra por seguidos governos. A primeira grande promessa era a de que a construção da BR-174, interligando Roraima ao Amazonas, ao Sul, e à Venezuela, ao Norte, seria a grande redenção que iria permitir a conexão do mercado local ao Caribe, permitindo o Estado ser a grande rota do futuro.

Obra iniciada no governo militar, a conclusão do asfaltamento da BR-174 interligando o Estado ao restante do país e à Venezuela ocorreu somente em 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso, ainda na consolidação de Roraima como Estado, no primeiro governador eleito, Ottomar Pinto, já falecido. Porém, o tempo passou e a promessa do grande sonho não se concretizou e foi adiado.

Depois, disseram que faltava a conexão de Roraima à Guiana, por meio da BR-401, que poderia integrar a Rota da Ilha das Guianas junto com a BR-174, possibilitando um novo sonho de integração com os estados do Amapá, partes do território do Amazonas e do Pará. A 401 foi asfaltada e a ponte sobre o Rio Tacutu interligou Roraima à Guiana, mas nada foi concretizado em relação ao prometido desenvolvimento.

Como nada ocorreu, os políticos passaram a dizer que o grande gargalo era a indefinição fundiária, que não permitia segurança jurídica para grandes produtores comprar terras para investir em Roraima, impedindo a chegada de investidores. A transferência das terras da União para o Estado finalmente ocorreu, mas até hoje os processos não são concluídos em sua totalidade, embora algumas regiões tenham sido regularizadas, com seguidas denúncias de esquemas de grilagem de terra.

Com as BRs 174 e 401 asfaltadas, bem como a regularização fundiária saindo do papel, o grande salto do milênio para Roraima finalmente desenvolver não ocorreu da forma que foi prometido. Então, o discurso foi novamente adaptado. Agora, a solução definitiva seria a resolução da questão energética, já que Roraima não possuía uma matriz energética confiável, o que impossibilitava a chegada de grandes indústrias.

Então, a partir daí, todos os políticos passaram a dizer que somente o Linhão do Tucuruí seria a grande virada de achava, a solução final. Pois bem. Ontem a interligação por meio do Linhão de Tucuruí finalmente saiu do papel e passou a ser uma realidade, cumprindo-se a última “profecia” dos políticos para que Roraima finalmente possa deslanchar. Agora não há mais nenhuma desculpa a ser lançada, a não ser esperar pelo desenvolvimento tão almejado desde o tempo de Território Federal.

No entanto, os políticos nunca incluíram em seus discursos de promessa ou “profecia” os esquemas de corrupção (com dinheiro na cueca, licitações fraudadas, golpes de grandes projetos e outros casos revelados a cada operação da Polícia Federal), esses os verdadeiros motivos que impedem o Estado de Roraima de crescer, em seguidos governos, inclusive a corrupção eleitoral à qual o povo se habituou e até normalizou.

Ou seja, não será nenhuma matriz energética a solução final enquanto maletas e maços de dinheiro forem interceptados nas mãos ou na cueca dos políticos. Da mesma forma que asfaltamento de rodovias e regularização fundiária nunca se tornaram solução no passado recente. No mínimo, poderemos ter energia confiável, com a chegada de novos empreendimentos, mas com o tal “surto de desenvolvimento” sempre esbarrando nos grandes esquemas. Essa é a grande verdade.

*Colunista

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