João Joaquim, ou JJ, como gosta de ser chamado, saiu de um casamento de muitas décadas. Pacato cidadão, desses que passa despercebido por onde anda, está experimentando um mundo novo. E, quê mundo! Após a debandada da companheira, vem descobrindo as maravilhas da vida de solteira, tendo a tecnologia como parceira. Aos poucos vai aprendendo a lidar com ferramentas atuais, necessárias para socializar. Para quem só conhecia o WhatsApp, por necessidade, agora é assíduo usuário, -lembra dependente químico-, do Tinder, Mensagen, Instagram, TikTok. JJ se encantou com o que viu. Pouco afeito a lugares públicos, recluso em casa, está deslumbrado com o cardápio diário de moças, e outras nem tão jovens, que os aplicativos lhe oferecem. Mulheres de todos os tamanhos, idades e matizes. Após observar atentamente o perfil de cada uma: curti, manda coraçãozinho, beijinhos. Com isso JJ já conquistou muitas; saiu com algumas.
Para quem ouvia da antiga companheira, “Tu não é de nada”, JJ se descobriu um Dom Juan. Criou coragem, adquiriu segurança e está um pinto no lixo, ciscando em diversos terreiros. Já que a ex levou o único carro do casal, JJ aprendeu a andar de carro de aplicativo; baixou todos que lhe facilitam a vida. Ganhou mobilidade.
Preso aos dogmas do casamento, conservador, metódico, JJ, foi coroinha da igreja, reza no “Terço dos homens”, assíduo na missa dominical, onde comunga e recebe a hóstia. Levava uma vida insossa até a esposa abandoná-lo. Por longo tempo nutriu o sentimento da culpa, por não ter conseguido segurar a companheira de longevo convívio. Todos ao seu entorno aconselharam-o a fazer terapia, para suportar os reverses da vida. JJ, rezou, meditou, jejuou, se penitenciou, cobriu de cinzas, como ensinam as Sagradas Escrituras. Após sua via crucis, se achou, se reinventou. Optou por não fazer terapia. Não acha legal falar de suas mazelas, sentado ou deitado em um divã. Acha mercantilista, narrar seus infernos, saltar seus demônios, e após 45 minutos, no auge de sua aflição, ter que levantar e ir embora. “Acho broxante no clímax da conversa, o terapeuta dizer: Sr. João Joaquim continuaremos na próxima sessão”. Na cabeça de JJ, para isso existem os verdadeiros amigos: para ouvi-lo, sem hora marcada ou tempo cronometrado, de preferência em mesa de bar, muitas cervas geladas, alguns tira-gostos e muitas gargalhas. E, o melhor, de graça. JJ ri alto de seus infortúnios. Para ele, “A tragédia de ontem e a comédia de hoje”. “Não há problema sem solução, se ainda não está resolvido, logo mais estará; assim é vida. Tudo tem solução, basta ter sabedoria e paciência”, repete JJ.
JJ já saiu com mulheres de 20 a 60 anos; se divertiu com quase todas. Em cada encontro, JJ se descobre. Aprendeu a conversar na linguagem da pretendente. Em época de espontaneidade, onde algumas jovens, antes do primeiro encontro lhe pedem pix, JJ logo se posiciona: “Querida, não sou do pesque e pague, minha religião condena essa prática. Tudo comigo é por amor”.
Para JJ tudo na vida é troca. Calmo, observa cada momento. Atento, aos pouco vai descobrindo o universo feminino. Acha as mulheres mais sábias do que os homens. Provoca-as para ouvir suas maravilhosas respostas. Conversando com as mulheres, ouvindo suas queixas, JJ descobriu que há uma carência de homens como ele no mercado. Uma coisa que JJ desenvolveu foi a capacidade de ouvir as mulheres.
Mas, quem é João Joaquim? Ele responde:
“Só eu sei, as esquinas por que passei.
Sabe lá, o que é não ter, que ter pra dar….
Só eu sei os desertos que atravessei…
Só eu sei, só eu sei
Sabe lá o que é morrer em frente ao mar…”, Djavan. Cantarolando, JJ segue a vida.
Sentado à beira-mar, após tantas mudanças, JJ contempla o horizonte.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter, autor do livro “Das muletas fiz asas”
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