Walber Aguiar*
Aí pergunto a Deus , escute amigo, se foi pra desfazer porque é que fez?
Vinicius de Moraes
Fazia frio. Fazia escuro. Senti medo; medo do tempo, do espaço, da solidão. Medo de enfrentar a vida desarmado, de lutar contra a carranca da desigualdade. Encurralado pelas paredes do universo, tateei pela escuridão. Claustrofobicamente, tentei entender o tudo e o nada.
Não! Definitivamente não havia satisfação para a alma humana em apenas ver, tocar e tanger o visível. A frieza de objetos animados e inanimados empurrou-me para o ético. Vi o comportamento, chorei a hipocrisia social, lamentei o estoicismo esseniano que nada valia diante da experiência diária. Havia algum fundamento no comportamento legalista, no universo frio, mudo e assustador? Não houve nenhuma resposta; conheci o estranho, estranhei o conhecido.
Assim, não resisti ao Deus institucionalizado pela igreja. O Deus da tradição, do ponto batido, da hora marcada. O Deus transformado em mercadoria de prateleira pela teologia da prosperidade, o Deus caricaturizado por um tradicionalismo oco, estéril, hermético. Saltei no escuro, percebi que tudo convergia para um senhorio cósmico, metafísico.
O frio continuava. O escuro permanecia. Apenas o medo deu lugar a um espaço novo na alma: a brecha do otimismo, o canto da luz, a geografia do humano. Entendi que não adianta tirarmos o homem de dentro da favela, se não tirarmos a favela de dentro do homem. Assim, compreendi a mim mesmo. Fechei os olhos para ver…
*Advogado, poeta, historiador, membro da Academia Roraimense de Letras, professor de filosofia, membro da Academia de Letras da Amazônia.