Corta essa de ver a saudade como um sentimentalismo. Afinal, só sente saudade quem foi feliz. Quando a saudade chega, nos traz sempre lembranças de momentos que nos fizeram feliz. Ontem, primeiro dia do mês, senti muita saudade, pela manhã, assistindo a um programa musical, pelo computador. De certa forma, emocionei-me, assistindo a uma apresentação musical do Agnaldo Rayol. Os pensamentos me levaram ao início dos anos cinquentas. Com certeza, já falei disso, por aqui, faz muito tempo. Vou evitar de citar datas, porque não sou historiador, só quero falar sobre acontecimentos do passado. Foi quando assisti a uma apresentação do Agnaldo com três dos seus irmãos, no Teatro, em Natal-RN, em 1951. Não consigo mais me lembrar dos nomes dos irmãos dele. Mas acabei de me lembrar que o nome da irmã dele, era Zilma Rayol. Quando ela terminou de cantar, apontou para mim, que estava sentado na primeira fila da bancada, e falou:
– Esse jovem de camisa listada, por favor, suba ao palco, para receber minha dedicatória.
Subi ao palco e ela me entregou um papel com uma dedicatória extraordinária. Guardei aquele papel pelo tempo que pude. Mas, mais de três décadas depois, mudei-me para Roraima e minha mudança, que saiu do Rio de Janeiro, até hoje não chegou a Roraima. E a dedicatória que tanto me orgulhou, sumiu com a mudança. Durante todo esse período de afastamento, tive algumas oportunidades de assistir a apresentações do Agnaldo Rayol, mas não assisti. No iniciozinho dos anos 2000, eu estava morando ali na Sé, em São Pulo, quando o Agnaldo se apresentou no Teatro Municipal. Lamentei-me por não poder ir, apesar de estar tão pertinho do Teatro, mas tinha compromisso na clínica que cuidava do meu filho, Alexandre. Outras oportunidades aconteceram bem antes, quando o Agnaldo morava bem próximo à residência de minha irmã, Zizelda, em São Paulo. Eu já estava em Boa Vista e sempre que ia a Sampa, ficava tentado a visitar o Agnaldo. Mas não é meu estilo. E por isso sinto sempre saudade de velhos tempos que me fizeram feliz.
Você nem imagina quanta saudade de acontecimentos e atos a que assisti e participei em Boa Vista, eu sinto. Muitas vezes fico pensativo, e com um desejo quase incontrolável, de rever e abraçar amigos que me orgulham, aqui a meu lado e eu não os vejo. Se eu fosse citá-los aqui, não haveria espaço suficiente. E meu maior inimigo é minha condição de péssimo fisionomista. Às vezes me encontro com um deles e não os reconheço, embora sinta que é um deles. Pense nisso.
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