INCLUSÃO NO ESPORTE

“Futebol é para todos”: casal roda o Brasil avaliando acessibilidade nos estádios

Caçadores de Estádios desembarcam em Boa Vista para conhecer o Canarinho, vivenciam a festa com a torcida do Gás e avaliam a acessibilidade para PCD.

“Futebol é para todos”: casal roda o Brasil avaliando acessibilidade nos estádios

Cláudio e Karla Bazoli, conhecidos nas redes como os Caçadores de Estádios de Futebol, transformaram a paixão pelo futebol em missão social. Ele, advogado de 48 anos; ela, jornalista de 39. Juntos, viajam pelo Brasil e pelo mundo avaliando como os estádios recebem pessoas com deficiência (PCD).

A história começou com um objetivo de visitar os 12 estádios utilizados na Copa do Mundo de 2014. “Assistimos jogos e registramos os espaços de acessibilidade em todos”, contou Cláudio. E esse foi só o começo. “A gente bate uma meta e já estipula outra,” completa o caçador de estádio.

Foi na visita à Arena da Amazônia, em Manaus, que eles se depararam com uma realidade mais difícil. “Ali a gente entendeu que a Região Norte seria a mais complicada de fechar. Não tem voo direto do Rio. Mesmo de São Paulo ou Brasília, são quase quatro horas de viagem”, explicou. Por isso, o casal resolveu começar por onde era mais fácil chegar. “Fechamos tudo que era relativamente próximo do Rio, fomos para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Depois encaramos o Nordeste, difícil, mas conseguimos. Agora só faltam três estados do Norte: Tocantins, Acre e Amapá,” relatou Cláudio.

Lista de estádios que ainda faltam para os Caçadores de estádios de futebol conhecerem (Foto: Arquivo Pessoal)

Recepção calorosa no Canarinho

Roraima era um desses destinos pendentes, até que eles decidiram vir. E a estreia em solo roraimense teve um sabor especial, Cláudio e Karla vieram acompanhar o jogo entre Grêmio Atlético Sampaio (GAS) e Sport Clube Humaitá, pelo Brasileirão Série D, no Estádio Canarinho.

Caçadores de estádio de futebol em visita ao Canarinho (Foto: Arquivo pessoal)

Antes de chegar, Cláudio não conhecia ninguém daqui. “Fiz um comentário na postagem do clube, falei que estávamos saindo do Rio para prestigiar o jogo. Descobri que era o presidente e mandei inbox. Ele respondeu na hora, foi super receptivo”, contou. A recepção não ficou só na internet. “Chegamos lá e ele nos recebeu, deu boné, trocou ideia com a gente, tirou foto, marcou a gente nos stories. Já começamos a viagem com o pé direito ”, contou Cláudio.

Mas o ponto alto foi a recepção da torcida do G.A.S. “A galera foi incrível. Quando viram que eu era cadeirante e que o elevador do estádio não estava funcionando, vieram logo perguntando se queriam me ajudar a subir. Falaram: ‘Se quiser, a gente carrega você até o terceiro andar’. Fiquei emocionado com essa sensibilidade. Eu disse que estava tranquilo ali no segundo nível, mas só o fato deles se oferecerem já disse tudo.”

Para Cláudio, a estrutura acessível do estádio é importante, mas o que mais marcou foi o clima acolhedor da torcida. “Foi superdivertido! Conhecemos vários torcedores que estavam fazendo a festa, cantando, a gente participou”, contou. Ele e a companheira, Karla, se sentiram verdadeiros torcedores do Gás durante o jogo. E reforçou: “E vamos que vamos, que futebol tem que ser para todos, né? Independente da sua condição física”.

Caçadores de estádio de futebol com a torcida do GAS no Canarinho (Foto: Reprodução do Instagram)

Acessibilidade no Canarinho

No Estádio Canarinho, o acesso às arquibancadas do primeiro e segundo andares foi considerado tranquilo. Apesar da rampa ser um pouco íngreme, o fato de não precisar subir escadas já representou um alívio. “Isso facilita bastante, não só para cadeirantes, mas também para pessoas idosas, obesas, grávidas ou com dificuldade de locomoção. A acessibilidade tem que atender a todos”, destacou Cláudio.

Ele foi informado no local que o elevador seguia fora de funcionamento, situação que persiste desde o início do Campeonato Roraimense, o que impediu o acesso ao terceiro andar, onde há cobertura contra sol e chuva. Membros da torcida até se ofereceram para ajudá-lo a subir pelos degraus, mas ele recusou, por estar confortável nos dois andares inferiores. “Fiquei bem ali, tranquilo, mas se tivesse chovido ou feito muito sol, eu teria me molhado. Por isso, é essencial consertar o elevador e garantir o acesso completo”, falou o caçadores de Estádios.

Além disso, ele elogiou o atendimento na bilheteria: “Fui lá, falei que era cadeirante e a moça me explicou certinho. A gratuidade foi garantida. E olha, isso é importante demais. Muita gente deixa de ir ao jogo por achar que vai gastar muito, e nem sabe que tem esse direito. Informação é inclusão”, disse Cláudio.

Caçador de Estádios utilizou o direito à gratuidade no ingresso, garantido por lei a PCD (Foto: Reprodução/Instagram)

A legislação brasileira garante que pessoas com deficiência (PCD) e seus acompanhantes tenham direito a ingressos gratuitos ou com desconto em estádios, conforme a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Além disso, o Projeto de Lei 2172/23 propõe a gratuidade em eventos, incluindo estádios, para PCDs e seus acompanhantes.

Conexões e planos que não param

Além da troca de informações, o projeto criou laços. “A gente conheceu a torcida Esporte Acessível, em Recife, a Tubautistas, de Londrina, formada por autistas, e agora queremos ir pra São Paulo pra assistir um jogo no Morumbi com a torcida tricolor PCD”, diz.

E o Brasil já está quase todo carimbado. “Faltam só três estados. Depois disso, a meta é fechar a América do Sul. Já fomos a seis países e estamos mapeando o restante. Em maio, por exemplo, fomos ver Vasco e Lanús pela Sul-Americana. Aproveitamos e vimos seis jogos em seis dias, cada um em um estádio diferente”, conta Cláudio.

Mapa com os países da América do Sul que querem conhecer os estádios (Foto: Arquivo pessoal)
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