Pesquisa divulgada pela Serasa Experian continua apontando Roraima como campeão de cheques sem fundo. Porém, o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Roraima (CDL), Edson Freitas, discorda das estatísticas apresentadas, pois os empresários sequer aceitam mais essa forma de transação. “Quem controla isso é o Banco Central, é uma informação inclusive que não está na nossa plataforma do SPC. E a Serasa busca informação do Banco Central sobre a movimentação financeira de cheque”, frisou.
Ele afirmou que grande parte dos lojistas do Estado não está mais aceitando cheques como forma de pagamento. “Eu não sei como a gente não sai dessa estatística. Os lojistas quase não recebem mais cheques, não sei como isso ainda continua no ranking. Se você for a dez lojas daqui, hoje, nenhuma vai receber”, disse.
Freitas relatou que o fato de o Estado estar no topo do ranking de devoluções de cheque tem causado constrangimentos ao setor. “A Serasa busca esses números junto ao Banco Central e coloca a gente numa situação de constrangimento, com o Estado vivendo num cheque sem fundo. Não se recebe mais cheques nas lojas justamente por ter se tornado uma prática comum a devolução de cheque sem fundo. Então, os lojistas deixaram de aceitar essa forma de pagamento”, frisou.
ESTATÍSTICA – Conforme a Serasa Experian, o percentual de cheques devolvidos por falta de fundos cresceu 2,66% em março, o maior índice registrado desde 1991. Em fevereiro, as devoluções alcançaram 2,27% do total compensado, e em março do ano passado, a taxa foi 2,32%.
O Estado de Roraima foi o único onde não houve crescimento sobre fevereiro. O índice passou de 11,07% para 10,66% em março. Por regiões, o Norte do Brasil lidera a inadimplência com cheques, acumulando, nos três primeiros meses do ano, a taxa 4,75%.
Na comparação com o mesmo período do ano passado, as devoluções deste ano foram maiores. Em março de 2015, o índice era de 9,84% do total de cheques compensados.
REFLEXO – Para o economista Dorcílio de Souza, o alto índice de devolução de cheques sem fundo reflete o momento econômico que o País vive. “Para aceitar cheques, tem certa burocracia. Tem que ter um cadastro e são clientes já fidelizados. Então não é uma questão de má-fé, de honestidade, e sim do momento econômico que o País está vivendo e forçando as pessoas a chegarem nessa situação”, disse.
Conforme ele, o custo de vida mais caro e a falta de planejamento têm feito com que as famílias busquem diversas modalidades de crédito. “As pessoas perderam o poder de consumo, os preços aumentaram e o mecanismo que elas encontram para manter o padrão de consumo igual é o crédito. O cheque sem fundo é uma modalidade de crédito direto do comerciante para o cliente, que vende a prazo na expectativa que em determinado dia do mês vai resgatar e depositar aquele cheque”, explicou.
De acordo com o economista, a devolução de cheques sem fundo traz como consequência o endividamento das famílias e prejuízos ao comércio. “O lado mais negativo vai para o comércio, que é quem vai arcar com esse prejuízo, que perde o capital de giro para poder comprar outra mercadoria, uma vez que não recebeu por aquela”, afirmou.