Coisas de Renato

Wallber Aguiar*

É gente humilde, que vontade de chorar

Chico Buarque

Ainda hoje escuto o barulho do copo quebrado

cacos espatifados pelo chão

percebo no quarto escuro adolescente

a ausência contida

na garganta da escuridão

ainda hoje ouço a voz do trovador solitário

com seus desabafos e fascinações riscadas na parede

na parede da memória dessa geração autêntica

poço de água limpa

sem ferrugem nos sorrisos

ainda lembro dos castanhos olhos da tempestade

da princesa e do príncipe nos castelos medievais

de uma escravidão consentida

de um amor ironicamente acorrentado

um servo de orelha furada

ainda sinto o cheiro dos cantos secos e sujos de concreto

meu coração continua com toda a pressa

velas a todo pano

pois dispersa a esperança

teatralizamos a verdade

de óculos escuros no camarim da solidão

ainda mastigo os desejos de menino

adolescente de alma lilás

ainda procuro teus braços dançando no ar

quando a janela se abre de par em par

e contemplo estrelas escondidas

na distância

ainda sinto o joelho doer

mas minha mãe não está aqui

percebo apenas um anjo sonolento

em pequenos pontos de interrogação

ainda tenho muito que sentir o absurdo

kierkegaardiano

transbordando em loucas orquídeas lilaseadas

ainda compreendo por agora tua ausência

tua louca e fascinante ausência

só por hoje

só por hoje

ainda sinto…

Ainda sinto a grandeza de Renato Russo, o poeta, profeta da juventude brasileira. Um legado

de tanta letra, tanto amor, tanto sentimento, tanta vontade de amar e de mudar um país inteiro.

Um país de tanta gente louca, obtusa, que acredita no messianismo triunfalista, no sarcasmo sem vida, na promoção do ódio. Mas, muito ainda na vida, na galhardia, no Deus da fé e da esperança…

“O Brasil é uma república cheia de palmeiras e gente dizendo adeus…”

*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]

FORO PRIVILEGIADO  

Marlene de Andrade*

“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas.” (Filipenses 4:8)

No Brasil, 54.990 pessoas têm foro especial por prerrogativa de função. Esse foro também é conhecido como foro privilegiado. Os beneficiados que possuem direito ao foro privilegiado são: presidente e vice, ministros, comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais, juízes, membros do MP federal e estadual e entre outros, ministros do STF.  

Mas afinal de contas, o que vem a ser foro especial? Esse foro garante a alguns seres humanos de carne e osso como qualquer outro ser vivente, o direito de ser julgado por determinados órgãos judiciais e bota tempo para que sejam julgados. E o que chama atenção é perceber que, em grande parte, esses processos são arquivados porque transitaram em julgado.  

Como podemos perceber é levado em conta à posição ocupada pelo indivíduo e não a pessoa. Nesse rastro, são protegidos funções e não o ser humano, ficando então no ar a seguinte pergunta: Será que isso é certo?

Vejamos agora como fica o caso da Flordelis, a qual é Deputada Federal e que está sendo acusada de ser a mandante do bárbaro assassinato do seu marido, o qual já foi seu filho adotado, depois namorado de uma de suas filhas legítimas e com quem ela se casou posteriormente.  

A briga de Flordelis parece envolver traição e a fortuna que o casal possuía e aí como a parlamentar tem foro privilegiado, no que vai dar esse imbróglio? Será que ela vai ser afastada do cargo de Deputada Federal? Será que esse enredo confuso e criminoso vai acabar em pizza? Caso a resposta seja sim, mais uma criminosa não será condenada, devido estarmos no Brasil. E aí fazer o quê? Pedir para parar a fim que possamos saltar? Mas saltar para onde? Pois é, né? Eis a questão que muitos gostariam de saber.  

Que possamos como, brasileiros de bem, entender que o Brasil precisa passar por uma grande reforma, a qual deve começar não pela política e sim pela ética e os bons costumes. E tem mais: crimes como esse cometido pela Deputada Federal Flordelis não pode passar em branco. Ela tem que ser presa e pagar pelo que fez. Outra situação que deve ser revista é implantar no Brasil para crimes como esse, a pena de prisão perpétua sem direito a saidinhas, tendo que trabalhar, dentro da prisão, para ter direito a alimentação.  

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT-AMB-CRM

CRM/RR: 339 RQE 431

CONTINUAM OS MESMOS

Afonso rodrigues de Oliveira*

“Os políticos são os mesmos em toda parte. Prometem construir uma ponte mesmo onde não há rio.” (Nikita Kruschev)

E olha que ele falou isso no século dezenove. E pelo que vemos, a coisa vem de muito longe. E pelo que noto, atualmente, nada mudou no que estamos vendo. O Rei Henrique IV, na França do século XVII também disse: “Todo povo é uma besta que se deixa levar pelo cabresto.” E pelo que vemos continuamos os mesmos.

Fique magoado comigo, não. Estou apenas tentando ser sincero. E isso me custa muito. Sei que estou ofendendo os pouquíssimos, mas bons políticos. Mas não posso deixar de ser honesto. Ontem ouvi um papo entre dois cidadãos, e um deles falava sobre o risco de ser multado se faltar às eleições. E seu receio era pagar multa, caso não tivesse como estar presente às urnas.

Cheguei a casa e fiquei refletindo sobre o problema do cidadão. Desde quando uma democracia multa o cidadão porque ele não votou? Até quando vamos ficar presos ao cabresto, sem nos conscientizarmos de que ainda não somos cidadãos?

Não há democracia com a obrigatoriedade no voto. E pelas arengas que começamos a ouvir, Brasil afora, vejo que ainda estamos muito longe de sermos cidadãos. Decepciona-me, ouvir, pelas televisões, blá-blá-blás vazios de candidatos despreparados e afoitos. E pela reação dos participantes nos encontros, nada mudou. Para eles, o bom político é o que promete construir uma ponte mesmo onde não há rio. E lá vamos nós na correnteza do despreparo.

Chega de desperdiçarmos nosso precioso voto. Precisamos nos educar para podermos encarar a política como ela realmente é. Essa de confundir política com falatório é coisa do passado. E como continuamos acreditando nos que falam mais, continuamos vivendo um passado que deveria ser passado.

Vamos fazer nossa parte no desenvolvimento da nossa política. E comecemos respeitando a importância que a política tem para o desenvolvimento da humanidade. E cada um de nós tem o poder de mudar o rumo da história. E comecemos não seguindo os maus exemplos dos países que consideramos desenvolvidos e continuam navegando em pirogas furadas, quanto à política mundial. Vamos trabalhar para que sejamos um país desenvolvido. Temos tudo, menos a educação que merecemos e não nos dão.

Não se deixe iludir e levar pelo falatório
de candidatos que sabemos não merecerem nossa confiança, para trabalharem para nós. Nunca venda seu voto. O candidato que compra o voto do eleitor, é corrupto. E o eleitor que vende seu voto é igualmente corrupto. E por isso não tem o direito de ir para as ruas protestar contra o erro que ele mesmo cometeu. Pense nisso.

*Articulista

Email: [email protected]

95-99121-1460

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