Opinião

Opiniao 04 08 2018 6693

A morte de um filho – Flavio Melo Ribeiro*

Os pais sonham com o filho e o que farão juntos antes mesmo da gravidez. Esse desejo de construir uma família e de dar continuação ao seu próprio ser através da existência de um filho é uma ideia bastante comum entre pais e mães. O amor pela criança só aumenta com a espera durante a gravidez, os cuidados depois de nascer, as preocupações e a satisfação de o ver crescer e descobrir o mundo.

A morte desse filho é um drama que se inicia com a notícia do seu falecimento, visto que o sentido da vida se dá a partir dos desejos e projetos que a pessoa coloca em ação. E a morte é a interrupção abrupta dos projetos ainda em curso. Nesse caso, é uma dupla interrupção, pois além de indicar a perda do filho, desmancha o sonho de compartilhar a vida em família.

Já o nascimento aponta a responsabilidade que a mãe e o pai terão pela frente, fazendo com que mudem sua forma de pensar, de agir e de sentir. Os significados que norteavam sua vida até aqui mudam radicalmente. Então, a notícia de que um filho veio a óbito traz um vazio insuperável.

Pode parecer que os pais superaram, mas no íntimo, a lembrança se faz diária: através de lembranças e de projeções de um futuro que nunca se deu “o que ele estaria fazendo se estivesse vivo ou como gostaria que ele estivesse participando desse evento”.

Amenizar o sofrimento é construir um novo projeto. No entanto, para isso é preciso ter paciência para que o tempo cicatrize as feridas. E por mais que amigos e conhecidos tentem animar os pais enlutados com frases como: “Vocês são novos, podem ter outro filho”, “ Faz parte da vida e talvez ele tenha uma outra missão”. Isso não ajuda. Muitas vezes o resultado é o contrário, faz aumentar a raiva da perda do filho.

Portanto, caso queira consolar com eficiência, fique ao lado em silêncio e no máximo diga que está disposto a conversar. Escute as queixas, as lamentações e as raivas. É isso que uma pessoa que está passando por uma perda quer. Deixe passar uns dias e então, se necessário, converse a respeito e dê sua opinião. Entenda que é o futuro que puxa a pessoa para a vida. E o filho representa o futuro dos pais, por isso é muito difícil lidar com a morte. Além disso, existe a expectativa de que os filhos enterrem os pais e quando o contrário acontece, é difícil aceitar.

*Psicólogo; CRP12/00449 E-mail: [email protected] Contatos:(48) 9921-8811 (48) 3223-4386

Inteligência Emocional na Escola

Marina Madureira Silva de Deus* Wanderley Gurgel de Almeida**

É comum no ambiente escolar, ouvir a narração sobre diferentes conflitos. De um lado, os alunos: o menino que não tem paciência de esperar a sua vez, o colega que não respeita o espaço do outro, entre tantos relatos de problemas ocasionados pela falta de tolerância, de empatia, de compaixão, e por não saber lidar com suas próprias emoções. Do outro lado, o professor que não consegue trabalhar a sua aula planejada, o conteúdo que ficou comprometido, o aluno com baixo rendimento na leitura e na matemática, o pai que não veio à reunião, e muitas outras situações.

E o resultado!? Um trabalho frustrado.

E assim um tempo precioso da aula vai se comprometendo, enquanto não se percebe que só trabalhar os conteúdos curriculares não é mais o suficiente e os conflitos “tolos” vão se tornando problemas sérios. Como podemos perceber, conforme a publicação do Mapa da Violência Brasil 2015, no período de 1980 a 2013, o aumento na taxa de óbito por suicídio, na faixa etária de 16 a 17 anos, de 156 casos para 282, o que pode ser considerado como um dos indicadores da incapacidade da pessoa em lidar com suas próprias emoções, chegando ao ponto de uma violência extrema contra si mesmo. É necessário objetivar uma educação sócio-emocional.

Daniel Goleman (2001) em seu livro Inteligência Emocional (Objetiva), publicado há quase duas décadas, nos traz um assunto que embora esteja em evidência, é um tema recorrente que interfere diretamente no desenvolvimento da inteligência do indivíduo, influenciando positivamente ou negativamente para o sucesso ou para o fracasso escolar. Ele nos traz com a incapacidade de lidar com as emoções pode determinar, negativamente, o futuro do aluno e nos permite uma reflexão sobre a importância de atuar diretamente sobre a inteligência emocional para coordenarmos um futuro de equilíbrio emocional em face de uma crescente e expansiva realidade social intempestiva e intolerante. Acredita-se que sociedade e educadores já se preocupam para além das notas: precisam trabalhar a alfabetização emocional.

Mas, o que é inteligência emocional e alfabetização emocional? Para Goleman, a Inteligência Emocional é a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos e Alfabetização Emocional é um processo que trabalha e educa justamente as emoções do indivíduo, fazendo com que ele consiga lidar melhor com seus medos, angústias e frustrações para, assim, se relacionar de maneira mais saudável consigo mesmo e com os outros. E como trabalhar a inteligência emocional na escola?

Primeiro, não se pode esperar que a escola faça milagres e nem que os pais serão a única solução. Mas, que ambos formem uma equipe e devam estar motivados para o mesmo objetivo. Portanto devem seguir os mesmos princípios e compreender que é necessário fazer algo e fazer agora. Goleman propõe que deixemos de ignorar o tecido emocional da vida das crianças. Já sugere-se que não se ignore o emocional do professor e nem o da família do aluno.

Em meio a tantas informações e à correria da sociedade atual, precisamos ir além do ensinamento intelectual. Devemos ensinar um conjunto de aptidões e compreensões emocionais e sociais, como: a autoconsciência, a auto-observação, o autoconhecimento; também os seus sentimentos, sabendo nomeá-los, fazer ligação entre eles como exercício sobre o pensamento e as reações, e assim, ser capaz de distinguir o que motiva suas ações, leva à utilização da força e ao enfrentamento as fraquezas para torná-las ações conscientes.

Ao Professor, caberia ensinar a controlar o impulso, a raiva; encontrar soluções criativas para conflitos; assumir a responsabilidade por suas atitudes e cumprir compromissos; aprender a compreender os sentimentos do outro e a se importar com outro; aprender a ouvir e a questionar quando convier; tomar decisões assertivas.

Trabalhar Educação sócio-emocional na escola não significa negar a sua existência, mas pode permitir resolvê-los de forma assertiva. E antes que alguém diga… Não! Não, é um tempo que se perde, é um tempo que se ganha, pois Goleman em seu livro apresenta resultados que não só irão interferir positivamente na escola, onde reduzirá os conflitos que roubam o tempo da aula, mas que vão influenciar a cadeia das relações sociais para o resto da vida: a criança mais responsável, mais assertiva, mais popular e aberta, mais pró-social e prestativa, mais atenciosa e interessada, mais harmoniosa, mais democrática e com melhores aptidões na solução de conflitos. E à medida que a escola e a família embarcam nesta jornada, também aprendem juntos e se aproximam.

*Grad
uada em Pedagogia (UERR) e em Letras (IFRR) e Especialista em Mídias na Educação e Produção de Material Didático para Educação à Distância (UFRR); E-mail: [email protected]

** Graduado em Ciências Sociais (UERN), Especialista em Metodologias do Ensino Superior e da Pesquisa Científica (UERN), Mestre Antropologia Social (UFRN) e doutorando em Biociências e Enfermagem (UNIRIO/UFRJ). E-mail: [email protected]

Perigo à vista – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O homem superior atribui a culpa a si próprio. O homem comum, aos outros.” (Confúcio)

É bom que assumamos a culpa pelos deslizes que temos de enfrentar, todos os dias. Afinal de contas somos responsáveis pelos políticos que elegemos. Então vamos parar de gritar contra nós mesmos. Vamos amadurecer e fazer o que devemos fazer como deve ser feito. Peguei o jornal, depois das nove da manhã. Saí e logo encontrei uma mulher sentada na calçada pedindo esmolas. Mais na frente, um morador de rua estava dormindo, enrolado em panos imundos, sobre uma calçada imunda. Eu passava e ele abriu os olhos e me olhou com olhar de quem não estava gostando de mim. Saí sem saber se ria ou se sentia, pela desgraça do casal que não é casal.

Acho que eu sou o único boa-vistense que leu aquela matéria. Foi na revista “Manchete”, em 1982. Era uma matéria sobre o casamento do príncipe Charles com a Diane. Nas duas páginas centrais da revista estavam as fotos do casal. E em baixo das fotos estava uma matéria sobre a cidade de Boa Vista. Acho que só eu li aquela matéria. Já falei dela várias vezes e não houve manifestação. O título da matéria era: “O Paraíso Terrestre.” Dizia que em Boa Vista não existia moradores de rua, pedintes, mendigos, e os abomináveis guardadores de carros. E finalizava perguntando: Até quando?

Ainda éramos um Território Federal. Aos trancos e barrancos viramos Estado. E, sem nenhum preparo, para a mudança. E por incrível que pareça, continuamos despreparados. E com certeza, vamos continuar na gangorra do despreparo. A demonstração dos jovens, na preocupação com as próximas eleições, pode até estar animando, mas me preocupa. E isso não significa que não devemos protestar. Mas os protestos devem ser moderados, de acordo com a racionalidade. Será que estamos preparados para as mudanças? O importante é que caminhemos pelas veredas da razão. Não adianta você dizer que Brasil você quer para o futuro. O importante é que você se prepare para construir o Brasil que todos nós queremos e merecemos.

Vamos mudar, mas com consciência. E esta nos diz que nada muda de uma hora para outra. O que também nos indica que ainda vamos viver momentos de dissabores com os políticos que elegermos nas próximas eleições. Afonso Arinos nos adverte: “Os partidos nacionais são arapucas eleitorais, e balcões de vendas.” E o único meio de corrigirmos isso é cuidando da nossa preparação como cidadãos. E só conseguiremos isso com uma Educação com E maiúsculo. Não deixe de votar, mas comece a peneirar a política jogando para o lixo os políticos que nos mantêm no baú da incompetência. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460