Política

Jucá pede afastamento depois de gravação divulgada pela imprensa

Embora Jucá tenha falado em “licenciamento”, para voltar ao Senado ele terá que ser exonerado do Ministério do Planejamento

O primeiro ministro do governo interino de Michel Temer a se afastar do cargo, durou apenas dez dias após o PMDB assumir a Presidência da República, diante da abertura do processo de afastamento de Dilma Rousseff (PT). Após a divulgação de gravações sobre a Operação Lava Jato, o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), anunciou, ontem, que entrará de licença do governo a partir de hoje e reassumirá seu mandato de senador por Roraima.

Na prática, porém, o peemedebista terá que pedir exoneração do cargo. “Tecnicamente vou pedir exoneração e meu secretário executivo [Dyogo Oliveira] assume”, afirmou. Ele disse que ficará afastado do governo Temer até o dia em que o Ministério Público ou o Supremo Tribunal Federal se posicione se há crime ou irregularidade na conversa entre ele o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado (PMDB). Na conversa, o senador propõe um “pacto” para acabar com a Lava Jato.

Ao ser interrompido por diversas vezes por manifestações que o chamavam de “golpista”, Jucá disse que o governo não tem “medo de cara feia, nem de gritaria de gente irresponsável que quebrou o País”. “Por causa de babaquices como essas [gritos de golpista] vamos fazer o enfrentamento”, retrucou.

OUTRO LADO – A Folha procurou a assessoria de imprensa do senador Romero Jucá, mas não obteve resposta. Em entrevista coletiva em Brasília, Jucá afirmou que não devia “nada a ninguém” e não via “nenhum motivo para pedir afastamento”. Disse também que o termo “estancar a sangria”, usado na conversa com Machado, se referia à economia.

O CASO – Alvo da Lava Jato, na gravação, Jucá discute sobre a operação na conversa com Machado, também investigado, e chega a falar em “estancar” a investigação, mostrando preocupação com as apurações em curso que avançam sobre peemedebistas e também outros partidos, como o PSDB.

Nas conversas, de cerca de 1h15, que estão em poder dos investigadores do esquema de corrupção na Petrobras e ocorreram semanas antes da votação da admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff, no plenário da Câmara dos Deputados, Jucá disse, sem citar nomes, que tinha conversado sobre a necessidade de brecar a Lava Jato com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele disse que um governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional com o STF. E o ex-diretor da Transpetro retrucou: “Aí parava tudo”. “E delimitava onde está, pronto”, respondeu Jucá.

Em um outro trecho, divulgado pelo jornal, Machado diz a Jucá: “O Janot [Rodrigo Janot] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho… Ele acha que eu sou o caixa de vocês”. O ex-dirigente da Transpetro estava preocupado que as apurações que envolvem o seu nome fossem transferidas de Brasília, onde tramitam no STF, para a Vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba. E chegou a dizer que novas delações no âmbito da Lava Jato não deixariam “pedra sobre pedra”. Jucá concordou que o caso não poderia ficar nas mãos de Moro.

Machado é alvo de inquérito no STF, ao lado de Calheiros. O ministro também é alvo no STF de inquérito derivado da Lava Jato por suposto recebimento de propina.