
O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 16 anos e um mês de prisão por participação na tentativa de golpe de Estado, teria deixado o Brasil de forma clandestina por Boa Vista, em Roraima. É o que aponta a investigação conduzida pela Polícia Federal (PF), que tenta reconstituir o trajeto usado pelo parlamentar para chegar aos Estados Unidos, onde foi localizado em um condomínio de luxo em North Miami.
De acordo com investigadores consultados pelo Metrópoles, Ramagem esteve na capital roraimense antes de desaparecer do alcance das autoridades. A PF apura se o deputado atravessou a fronteira pela Venezuela ou pela Guiana, ambas acessíveis por Boa Vista, rotas frequentemente utilizadas em deslocamentos não registrados.
Mais informações detalham que o deputado chegou aos EUA em setembro e teria seguido trajeto que incluiu um voo até Boa Vista e, depois, viagem de carro até uma das fronteiras.
A presença de Ramagem em Roraima antes da viagem também reacende sua antiga ligação com o estado. Antes de ingressar na política, o deputado atuou como delegado da Polícia Federal em Boa Vista, nos anos 2000, período em que conduziu investigações importantes como o caso de compra de votos do ex-governador José de Anchieta Júnior que resultou em sua cassação em 2011. Além disso, o deputado é casado com Rebeca Ramagem, advogada, ex-delegada da Polícia Civil e procuradora do Estado de Roraima.
Prisão preventiva e implicações
A investigação contra de Ramagem ocorre no momento em que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decretou a prisão preventiva do parlamentar. A decisão não está diretamente ligada à possível fuga, mas foi tomada após o PSol solicitar a prisão com base em reportagens que confirmaram sua presença nos Estados Unidos, apesar das medidas cautelares que o impediam de viajar.
Além de estar proibido de deixar o país, Ramagem estava obrigado a entregar todos os passaportes – nacionais e estrangeiros. Ele, porém, segue com passaporte diplomático válido até 2027, e o STF não informou se houve qualquer alteração na cautelar que o impedia de sair do Brasil.
Denúncias e Processos Legais
O deputado foi condenado por três dos cinco crimes denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na ação penal sobre a trama golpista. Em junho, também foi indiciado no inquérito da chamada Abin Paralela. O processo está na fase de embargos, com prazo para apresentação dos segundos embargos até segunda-feira (24/11).
Com o trânsito em julgado, a execução da pena ainda depende de deliberação da Câmara dos Deputados, responsável por autorizar o cumprimento da prisão de parlamentares em exercício. Para o PSol, porém, a permanência de Ramagem no exterior reforça o risco de fuga. No pedido enviado ao STF, os parlamentares afirmam:
“A residência ou permanência no exterior, conforme noticiado, pode configurar risco real de fuga, justificado para a decretação de prisão cautelar. Além disso, a gravidade dos crimes imputados – tentativa de golpe, organização criminosa – reforça a necessidade de cautela e intervenção judicial urgente para garantir a aplicação da lei.”
Alexandre Ramagem ainda não se manifestou e sua defesa informou que não vai comentar o caso.