Polícia

Festa de odontologia termina com vereador detido por desacato

Parlamentar conta que só reagiu com xingamentos após sofrer injuria racial por parte de um dos guardas municipais

Um vereador do munícipio do Cantá foi detido por desacato durante uma comemoração de acadêmicos do curso de odontologia no final da noite desta quinta-feira, dia 14, no bairro São Vicente. Em entrevista à Folha, Roberlandio da Malacacheta (PV) contou que só reagiu com xingamentos após sofrer injuria racial por parte de um dos guardas municipais.

Tudo começou devido ao excesso de barulho na festa que gerou incômodo aos moradores vizinhos à casa. Após denuncias por meio do 190 e 156, a situação foi atentida pelos fiscais do meio ambiente e aproximadamente às 23h, a guarda civil municipal foi acionada para dar suporte durante a ação.

No relatório da ocorrência, a equipe descreve que os responsáveis pelo evento foram chamados para receberem a autuação e que, enquanto o documento era confeccionado, Roberlandio teria se apresentado como ‘vereador’ e ‘doutor’ “na tentativa de intimidar os servidores no local”.

“Foi solicitado ao senhor Roberlandio que voltasse ao interior do imóvel e parasse de obstruir o trabalho dos fiscais e da guarnição. Após o pedido, o mesmo chamou as guarnições de “zé b*****” e voltou a repetir que era vereador e doutor”, diz trecho do relatório. 

Entretanto, a versão é contestada por Roberlandio. Segundo ele, devido à festa ser organizada por toda turma e o imóvel ter sido apenas alugado por eles, nenhum dos alunos quis assinar o auto de infração. Somente após o responsável ser chamado, o parlamentar teria ido até a porta, já que a alocação foi feita por ele.

“Quando fui lá falar, eles entraram na casa e eu disse que não tinham autorização, que precisavam respeitar o ambiente porque nós estávamos em uma comemoração. Ai ele perguntou “quem é tu pra tá falando isso comigo?”. Eu falei pra eles que sou acadêmico e em nenhum momento eu disse que era doutor. Falei que era casado com uma médica e que sou vereador no município do Cantá”, explicou.

Conforme o relato do parlamentar, que pertence à etnia indigena Wapichana, depois que se apresentou foi chamado de “caboco burro e mentiroso” por um dos guardas e confirma que revidou com palavrões.

“Quando ele me chamou de caboco burro e mentiroso eu peguei e fechei o portão. Falei pra todo mundo “vamos fechar o portão e deixa esse zé b***** de fora”. Foi quando eles invadiram e já foram pegando a gente”, lembrou.

De acordo com a GCM, um dos amigos do vereador que filmava toda a conversa, se envolveu no momento em que o parlamentar era algemado e teria tentado retirar a arma de um dos guardas, o que a outra parte nega.

No relatório consta que os dois foram presos por desacato e encaminhados para o 5º Distrito Policial. O vereador teve sua integridade física preservada, mas o amigo sofreu ferimentos no punho e canela. Eles foram ouvidos pela delegada plantonista e liberados em seguida.

Mesmo que toda situação tenha sido filmada, Roberlandio preferiu não prestar queixa contra o GCM e nem divulgar as imagens. Porém, afirmou que dependendo de uma repercussão negativa do acontecido, poderá abrir um processo com os vídeos anexados como prova.

SMST afirma que a ação dos guardas foi legítima

Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito declarou por meio de nota que todos os registros sobre o fato apontam para uma ação legítima dos guardas civis municipais durante o atendimento da ocorrência e que tomaram as medidas necessárias, dentro da legalidade. “Eles estavam fazendo o seu trabalho e aplicando a lei independente da pessoa em questão”, diz trecho.

Informou que nos casos onde os cidadãos se sintam prejudicados ou ofendidos, devem procurar a corregedoria e ouvidoria da SMST, para entrega das informações com os indícios de prova. Assim, será instaurado procedimento para apuração dos fatos, com direito de ampla defesa aos guardas municipais acusados.