Cotidiano

Fábrica de cerâmica foca em produto diferenciado e satisfação do cliente

Cerca de 15 produtos diferentes são produzidos diariamente, que atendem a clientela de Roraima, Amazonas e até Venezuela e Guiana

Raros são aqueles que conseguem aliar profissão e vocação de trabalho. Muitas das vezes, as pessoas costumam deixar de lado o seu sonho de infância e trabalhar em um ofício diferente do que se esperava na juventude por conta da necessidade ou outro motivo indeterminado. Felizmente, esse não é o caso do boa-vistense Adriano Filino de Oliveira, de 31 anos, empresário do ramo da construção civil e dono da Cerâmica SB.

A paixão pelo trabalho com cerâmica nasceu com o pai, Benjamin. Segundo Adriano, o pai, junto de sua mãe Nelsi, chegaram em Roraima de Rondônia em 1978 e trabalhavam na área do comércio varejista. Pouco tempo depois, ao perceber uma oportunidade de demanda no Estado, o pai iniciou uma empresa de fornecimento de cerâmica chamada ‘Senhor do Bonfim’.

“Quando eu nasci, o meu pai já mexia com cerâmica fazia cinco anos. Eu e meu irmão fomos criados dentro da empresa. Como sempre fui mais curioso, quando comecei a me entender por gente, comecei a ter mais curiosidade pela coisa e comecei a gostar mais ainda do que o meu pai fazia”, revelou.

O fascínio pelo trabalho era tanto que Adriano relutava em ir à escola, somente para acompanhar a rotina do pai na empresa. “Eu amava cerâmica. Matava aula quando tinha uma máquina para consertar, quando tinha uma máquina nova para montar. Eu ficava bravo quando tinha que ir para a escola porque tinha máquina para montar e eu não podia acompanhar”, lembrou.

Em 2005, enquanto fazia o curso graduação no antigo Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima (CEFET), atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR), o pai de Adriano fez uma proposta que lhe pareceu irrecusável. “Meu pai me chamou para ser gerente de produção da fábrica. Quando essa proposta chegou pra mim, eu não pensei duas vezes. Larguei meu curso e fui para dentro da cerâmica”, explicou Adriano.

Com a divisão das tarefas, em que o pai atuava na área de vendas e Adriano atuando na produção, a empresa conseguiu dar uma alavancada no setor. Porém, as facilidades duraram pouco tempo. Por volta do ano de 2008, a empresa sofreu com a queda de produção por conta da época de chuvas, que alagou os terrenos da empresa do pai de Adriano, queimou equipamentos e causou prejuízos. Mas a pior notícia ainda estava por vir.

“Meu pai começou a se sentir muito mal, foi para Curitiba fazer uns exames e descobriu que estava com câncer no sangue. E com isso ele teve que se ausentar da fábrica e acabou tendo que levar a minha mãe, que trabalhava no setor administrativo. Meu irmão também ajudava na cerâmica, mas ele acabou desenvolvendo uma paixão por trabalhar com caminhão e para tocar a cerâmica, só sobrou para mim mesmo. Mas não era nenhum mal gosto para mim fazer isso, fazia isso com amor”, revelou.

A época em que teve que assumir a empresa do pai, disse Adriano, foi uma das piores da sua vida. “Quando eu fui para o escritório, a dificuldade foi muito grande, por que eu não tinha conhecimento da área, trabalhava no setor de produção. Alia  isso com os prejuízos que a gente teve com os alagamentos, os custos dos médicos do meu pai, que não tinha família nenhuma em Curitiba; então, quem pagava tudo era eu, hotel, alimentação”, disse o empresário.

As dificuldades, no entanto, motivaram Adriano a criar a sua própria empresa. “Foi muito difícil, mas a gente não pode desistir, até porque eu não tinha opção de desistir. Eu tinha que fazer a coisa rodar porque tudo dependia disso, o bem-estar do meu pai, o tratamento dele, eu não podia deixar ele se preocupar demais porque também ele poderia largar o tratamento dele para vir embora e eu tinha que dar meu jeito. Foi quando eu decidi parar a fábrica do meu pai e dar o arranque nessa fábrica aqui”, disse.

De ‘Senhor do Bonfim’ para SB

A nova empresa, chamada “SB” em homenagem ao nome da empresa do pai, “Senhor do Bonfim”, surgiu por conta da necessidade de obter um novo espaço e ampliar a produção, além de atender ao sonho de infância de Adriano, de ter o seu próprio empreendimento, montado na modalidade de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eirele).

O pai Benjamin já tinha um espaço na área do Distrito Industrial, com um pequeno galpão de armazenamento. Aos poucos, Adriano conseguiu recuperar máquinas antigas e quebradas, consertando-as sozinho nas horas vagas para iniciar a produção da nova empresa. Com a melhora da saúde do pai, Adriano conseguiu outro objetivo, comprar a empresa de Benjamin.

“O meu pai já tinha feito o tratamento dele, já tava estabilizado, conseguiu passar por essa guerra contra essa doença terrível. Mas por conta da saúde, não queria mais voltar para o Estado e não queria mais mexer com cerâmica. Então, surgiu a oportunidade de comprar a empresa do meu pai. A gente negociou uma forma de pagamento e, com os equipamentos comprados, aumentou a demanda e a necessidade de produção.

Nesse momento eu me vejo com uma fábrica de cerâmica na minha mão, um mercado que precisa de materiais, e muitas vezes o meu cliente me ligava pedindo por material, eu dizia que não tinha e isso me machucava muito. O cliente ligar para mim, pedir o tijolo e eu não ter”, lamentou.

À medida que os materiais iam ficando prontos, a empresa foi sendo ampliada e agora conta com a produção de 700 mil peças por semana, seis fornos de queima de cerâmica, galpões de armazenamento, estufa para secagem dos materiais e 16 funcionários atuantes. São cerca de 15 produtos diferentes prontos diariamente e que atendem a clientela de Boa Vista, dos municípios do interior, do Amazonas e até da Venezuela e Guiana, com materiais como o tijolos de seis e oito furos, com peças específicas para churrasqueiras, colunas, canaletas para cerâmica, bloco estrutural e outros materiais diferenciados que não são normalmente ofertados em mercado, além de um estoque de produtos que chegaria a atender a demanda do Estado em até quatro meses, caso houvesse alguma crise do setor.

“O bloco estrutural é um produto muito moderno que até então não tinha chegado em Roraima e gera uma economia de até 35% em uma obra. Por que ele despensa o reboco interno da casa, você pode estar aplicando o revestimento do produto e você não tem que quebrar o muro para fazer a tubulação da casa. Não precisa abrir a parede e depois tampar. Além de outros fatores na questão térmica e acústica”, revelou Adriano.

A diferenciação dos materiais foi uma forma de aumentar a renda da empresa, explicou o proprietário. “Quando surgiu essa necessidade de ampliar a produção, a gente foi atrás dessa parte do mercado que não era explorada. Todas as empresas se concentravam no tijolo comum, no arroz e feijão, que não pode faltar na mesa. E a gente começou a fazer outros produtos, para poder fugir um pouco dessa linha de concorrência desleal até hoje. Hoje eles representam até mais de 30% do faturamento da empresa, esses novos produtos que foram implantados de 2014 para cá”, disse.

Trabalhando mais e gastando menos

Com a chegada da crise financeira enfrentada pelo país, que se agravou no ano passado e coibiu o trabalho de empresas informais de cerâmica, que produzem material com um custo mais baixo, porém, de menor qualidade, Adriano informou que foi necessário buscar ajuda de parceiros e investir em conhecimento.

“Um dos nossos grandes parceiros é o Seu Álvaro, da Mecânica Souza, de Santa Catarina. Eu precisava muito de um equipamento novo, mas não tinha como financiar. E ele perguntou a forma como eu poderia pagar. Eu fiz os cálculos, fiz umas propostas e a gente conseguiu fechar negócio”, disse Adriano.

Com a compra desse novo equipamento, Adriano partiu em busca de treinamentos e inovações na área da construção civil. “Em 2014, eu fui para a primeira feira do ramo, o Encontro Nacional da Indústria da Cerâmica Vermelha. No primeiro encontro que eu fui, eu trouxe muitas técnicas inovadoras de produção, economia na produção, fabricar um produto com menor custo e com maior qualidade. Desde lá, não parei mais, sempre em busca de treinamento, cursos, trazendo profissionais da área para Roraima, buscando ajuda com consultores, sempre atento ao que pode ser feito para melhorar o trabalho. Notei a tendência nacional de redução de custos. Foi onde a gente começou a trabalhar a questão de produzir mais, gastando menos, mas sempre garantindo a qualidade do produto”, garantiu.

NOVOS HORIZONTES – Para 2017, o empresário visa concluir uma parceria de consultoria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Roraima (Senai-RR) sobre eficiência energética e, em seguida, ampliar a produção com a oferta de novos produtos. “Nesse ano de 2017, vamos concluir todos os planejamentos de 2016. A crise freou muitos planos”, disse. “Também vamos começar uma nova linha de produtos que vai ser a telha, algo que o cliente tem cobrado demais da gente e piso cerâmico para área externa, borda da piscina”, declarou.

Para Adriano, a atenção às necessidades do cliente garante um fundamento maior para onde a empresa deve investir. “Tudo o que o cliente fala, a gente aproveita. Se o cliente quer um produto, a gente vê se é viável e se é possível de se fabricar no setor”, acrescentou.

Para mais informações sobre a empresa, basta acessar a página da empresa no Facebook “Cerâmica SB” ou ligar para o telefone 99129-5222. O empreendimento funciona na Rua Di Sete, no Distrito Industrial, em horário comercial das 08h às 12h e das 14h às 18h. (P.C)