Cotidiano

Ensino à distância não é tão eficaz para crianças

A metodologia EaD é vista com certa dificuldade junto ao Ensino Fundamental, principalmente com as crianças do 1º ao 5º ano

Frente a suspensão de aulas presenciais por tempo indeterminado devido a pandemia do novo coronavírus, uma das saídas adotadas por escolas, faculdades e universidades para não perder o calendário letivo foi a metodologia de EaD (Educação à Distância). O método, no entanto, não é eficaz para todos os níveis de ensino.

Conforme explicou a psicopedagoga Graziela Ziebert, a tecnologia EaD é vista com dificuldade junto ao Ensino Fundamental, principalmente às crianças do 1º ao 5º ano.

“Quando se trabalha o presencial existe a interação, a explicação do professor e os esclarecimentos de dúvidas. À distância, mesmo que tenhamos vídeos explicativos, o professor não consegue sanar as dúvidas que surgem”, falou.

Por isso, a psicopedagoga ressaltou que durante o período de ensino à distância a colaboração dos pais é fundamental, ainda que não tenham formação específica para conseguir ajudar os filhos.

“Notamos um déficit em relação às crianças que têm pais com essa formação e aquelas que não possuem o apoio, tanto por conta dos pais, quanto pelo acesso à pesquisa, porque tem aluno que só assiste os vídeos que a escola produz, mas também têm aqueles com acesso a outros vídeos”, disse.

Graziela destacou ainda que a desigualdade de ferramentas para estudar em casa é um ponto significativo, tendo em vista que nem todos os alunos contam com acesso à internet e apoio de algum parente durante as vídeo aulas.

CONSEQUÊNCIAS – A mudança do método de ensino também traz consequências fisiológicas aos estudantes devido à exposição constante junto a tela do computador, como cansaço e dor de cabeça. 

“A aprendizagem se dá pelos sentidos. Ainda que pelo computador eu veja e escute o professor, a visão é forçada. Inclusive, algumas crianças descobriram problemas de visão durante as aulas. Então os pais precisam observar se a exposição está causando algum tipo de problema de saúde na criança”, ressaltou.

FUNDAMENTAL II – A dificuldade constatada junto aos alunos do 1° ao 5° ano do fundamental já não é vista nos estudantes a partir do 6º ano. Um dos motivos, conforme Graziela, é o fato dos jovens terem maior contato, e até domínio, da internet e seus redes. Para este público em específico, a EaD deve ser vista como uma oportunidade de se transformarem em alunos pesquisadores.

A psicopedagoga reforçou que muitos estudantes estão aproveitando não somente as vídeos aulas das escolas, mas complementando com outros vídeos e artigos. “Nada substitui o presencial, mas isso não quer dizer que eles não tenham capacidade de aprender à distância. Novamente entra a família com o papel de incentivar e apoiar o filho para que ele busque ampliar o conhecimento que está sendo transmitido”, relatou.

PAPEL DOS PAIS – Se antes eles atuavam como coadjuvantes, hoje passaram a assumir o papel de mediador principal da educação dos filhos. Graziela destacou a importância dos pais no processo de estímulo e auxílio na hora dos estudos.

“Ele não deve dar a aula, deve estimular a criança a ter independência de assistir a aula e entender o conteúdo. Somente se for necessário, aí sim eles entram com o conhecimento que têm e que foi adquirido assistindo a aula, contribuindo assim no entendimento do conteúdo”, contou.

Governo e Prefeitura ainda não têm previsão para retorno das aulas presenciais

Durante o período de pandemia, conforme explicou em nota a Prefeitura de Boa Vista, não há ensino remoto. Entretanto, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura tem desenvolvido o projeto Aprendendo em Casa BV via grupos de aplicativo de mensagem, Instagram e pelo site da PMBV.

O projeto disponibiliza aos pais e alunos atividades extracurriculares diárias, no intuito de manter o ritmo de desenvolvimento escolar e aprendizado e fortalecer os vínculos familiares.

A Secretaria de Educação e Desporto de Roraima (Seed), por sua vez, esclareceu que a rede de ensino, que inclui escolas da capital, interior e de comunidades indígenas, está com o ensino remoto desde o dia 6 de abril, conforme Decreto N° 28. 663-E, publicado no dia 31 de março no Diário Oficial do Estado (DOE).

Em nota, a pasta explicou que as atividades presenciais só vão retornar quando for seguro para toda comunidade escolar, ou seja, para professores, pais, alunos e servidores da escola. A data dependerá das definições e das orientações do Comitê de Crise da Saúde do Estado e das demais autoridades sanitárias.

A Seed também está trabalhando no ‘protocolo de retomada das atividades presenciais’, seguindo as orientações emanadas pelo CNE (Conselho Nacional de Educação), Consed (Conselho Nacional dos Secretários de Educação) e CEE/RR (Conselho de Educação do Estado de Roraima).

O protocolo ainda está em fase de elaboração, e está sendo construído por meio do regime de colaboração entre Estado e municípios e, assim que for finalizado, será amplamente divulgado. 

Em relação aos estudantes concludentes da 3ª série do Ensino Médio, a Seed informou que também seguirá as orientações emanadas pelo CNE (Parecer CNE/CP N° 05/20) e CEE/RR (Parecer N° 12/2020).

Neste sentido, os alunos somente poderão concluir esta etapa de ensino quando, no retorno das aulas presenciais nas escolas, forem validadas as atividades não presenciais, cumpridos obrigatoriamente 60% dos dias letivos na forma presencial e cumprida a carga horária mínima de aulas exigida em lei, que é de 800 horas. A regra valerá para todas as modalidades e etapas de ensino.