Cotidiano

Avanços na educação marcam dia da Pessoa com Síndrome de Down

Os pais afirmam que hoje em dia é mais fácil encontrar escolas que trabalham com inclusão e atividades lúdico-educativas direcionadas

Carlos Eduardo Silva Bolognese tem 11 anos, é aluno do 6º ano da Escola de Aplicação da Universidade Federal de Roraima, adora jogar pingue-pongue e futebol, ama batata frita e tem síndrome de Down. O garoto faz parte de um grupo de 200 mil pessoas que nasceram com a condição genética no Brasil e demonstra grandes avanços, apesar dos obstáculos enfrentados no dia a dia.

Uma das formas de melhor desenvolver a capacidade intelectual de Cadu foi a busca por escolas que tivessem um plano de trabalho também voltado para atender pessoas com necessidades específicas e deficiências. Eliene Araújo, mãe do garoto, afirma que no início foi difícil, mas hoje em dia percebe um avanço no setor com as escolas trabalhando a inclusão.

Por conta disso, Cadu consegue cursar o 6º ano na Escola de Aplicação e nas sextas-feiras à tarde realiza aulas complementares, em horário alternado, para trabalhar suas habilidades. “Aqui a gente busca trabalhar o que ele tem mais facilidade e também trabalhar as suas necessidades, para fortalecer. Tudo isso baseado na avaliação do aluno e com um planejamento específico”, explicou Miriam Becker, professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Escola de Aplicação.

Hizonara Nogueira Carvalho, professora de Geografia do 6º ano, comentou que a presença do aluno na instituição também vira um aprendizado para os educadores, que precisam se atualizar das melhores formas de trabalhar o seu desempenho. “Como professora, eu procuro sempre buscar conhecer mais sobre o assunto quando tenho um aluno com necessidade especial. A gente precisa se atualizar, saber mais sobre inclusão. Cada dia tem uma novidade que a gente pode utilizar na sala de aula. A gente acaba aprendendo junto com eles”, acrescentou. “No caso do Cadu, eu trabalho com jogos, com atividades com gravuras, com charges, que eu percebi que ele gosta bastante. Que envolvam um pouco o lúdico também”, afirmou.

O incentivo tem mostrado resultados. Na escola, tem como aulas favoritas matemática e geografia. Quando questionado o que ele quer ser quando crescer, disse: “professor de matemática”. Nas horas vagas, adora brincar com os amigos, jogar futebol, viajar e passear nos shoppings fazendo compras com a família.

Atendimento especializado na saúde pública ainda é difícil, afirma mãe

Para Eliene Araújo, mãe de Cadu, as principais dificuldades para as pessoas com Síndrome de Down são no atendimento especializado de saúde no setor público. Para ela, ainda falta certo preparo para atender as pessoas com necessidades específicas e seus familiares.

A mãe cita, por exemplo, quando descobriu que Cadu nasceu com Down. O momento surpreendeu, pois não havia nenhum caso na família. O primeiro filho de Eliene, Caio, nasceu sem a síndrome. Além disso, a mãe também realizou os exames médicos durante a gestação que não constataram nada. “Foi só na hora dele nascer que descobrimos. De primeiro foi um susto. Até por que os médicos não estão preparados para dar a notícia para a mãe. É da pior maneira possível”, atesta.

A profissional de saúde que atendeu Eliene naquele dia agiu com preconceito contra o recém-nascido. “A médica me disse que se eu tivesse algum sonho na vida era melhor tirar o ‘cavalinho da chuva’ porque no máximo que meu filho poderia chegar era no 2º grau e arrastado. Meu mundo desabou na hora que ela falou aquilo. Mas, isso me motivou a sempre procurar o melhor para o meu filho. Hoje em dia, ele aprende tudo, é mais lento, mas aprende”, contou.

Viúva há quatro anos, Eliene hoje cuida sozinha de Cadu e Caio, agora com 17 anos. “Eu, meus filhos e Deus”, afirma. Ela diz que ainda enfrenta dificuldades na área da saúde pública, com a falta de terapeutas educacionais que tenham treinamento técnico para atender pessoas com necessidades específicas.

Apesar dos enfrentamentos, Eliene admite que, Cadu é a maior benção que Deus lhe deu. “Muita gente diz que é um castigo e eu não vejo assim, vejo como uma benção. Tem muitos pais que têm vergonha e têm que ter orgulho. Eu tenho orgulho do meu filho”, completou.

Governo realiza tarde de lazer com alunos do Rede Cidadania

A Secretaria Estadual de Trabalho e Bem Estar Social (Setrabes) informou que, em comemoração ao Dia Internacional da Pessoa com Síndrome de Down, a Rede Cidadania Atenção Especial realiza nesta quarta-feira, 21, uma tarde de lazer e sessão de cinema.

A programação contará com recepção com personagens infantis e brincadeiras no Clube da Criança. Pais, familiares e usuários com Síndrome de Down da unidade participam da programação. “O evento será um momento de interação social entre os próprios usuários, seus familiares e a comunidade, além de celebrar a luta pela igualdade de capacidade, quebrando barreiras e rompendo preconceitos”, afirma a Setrabes.

A Prefeitura de Boa Vista informou que, todas as unidades de ensino abordam o tema durante todo o ano letivo e, nesta semana em especial, as escolas realizam ações voltadas ao tema.

ATENDIMENTO – Atualmente, a Rede Cidadania Atenção Especial atende a 103 usuários com Síndrome de Down, de zero a 45 anos, que diariamente participam de diversas atividades na unidade, como balé, capoeira, karatê, coral, dança, futsal, horta, panificação, atividades na piscina, além dos atendimentos de saúde.

Já a Secretaria Municipal de Educação e Cultura atende a 25 alunos da educação especial com Síndrome de Down, distribuídos em escolas distintas. As vagas são oferecidas em todas as escolas do município e garante a matrícula na escola municipal mais próxima de sua residência. O Município desenvolve suas ações na Modalidade de Educação Especial com base na Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.

DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN – Segundo o portal Movimento Down, um dos principais relacionados ao tema no país, o Dia Internacional da Síndrome de Down foi criado pela organização Down Syndrome International e é comemorado desde 2006.

A data escolhida foi 21 de março para representar a singularidade da triplicação (trissomia) do cromossomo 21, que causa esta ocorrência genética. O objetivo da data é celebrar a vida das pessoas com Síndrome de Down e disseminar informações para promover a inclusão de todos na sociedade.

Uma resolução para designar a data como “Dia Internacional da Síndrome de Down” foi aprovada por consenso pela Assembleia Geral da ONU em dezembro de 2011. A resolução foi proposta e promovida pelo Brasil, e co-patrocinada por 78 Estados membros da ONU. (P.C)