JESSÉ SOUZA

Semana Santa e o calvário do povo venezuelano caminhando para uma nova eleição

Migração em massa de venezuelanos segue na fronteira Norte de Roraima em direção a Boa Vista (Foto: Divulgação/UOL)

Enquanto os brasileiros iniciam a Semana Santa, conforme tradição católica, do lado de lá da fronteira os venezuelanos seguem com o seu calvário rumo a uma nova eleição, antecipada para o dia 28 de julho (não por acaso dia de aniversário de Hugo Chávez), quando a população irá votar se quer continuar ou não com o regime ditatorial do presidente Nicolás Maduro, há uma década no poder.

Hoje encerra-se o prazo para a inscrição de candidaturas que desejem concorrer com Maduro. No entanto, como tudo se desenha para uma eleição encenada, com a oposição perseguida e presa, provavelmente Maduro deverá concorrer contra candidaturas fantoches e se confirmar no poder por mais um período, caso não ocorra nenhuma reviravolta na política daquele país em frangalhos.

Como ingrediente a mais para desviar a atenção e despistar a opinião pública, sob às ordens de Maduro a Venezuela decidiu criar o novo estado de Essequibo, uma zona disputada com a Guiana que representa 70% do território vizinho. É mais um capítulo do que já foi descrito em artigo anterior, intitulado “Rompante para desviar a atenção de um governo em crise na Venezuela”, publicado em 08.11.2023.

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Alimentar um conflito com a Guiana faz parte da receita já identificada pela Missão de Apuração de Fatos, criada pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que apontou que o governo venezuelano passou a invocar conspirações para intimidar, prender e processar oponentes ou críticos. E o caso Essequibo faz parte do grande enredo para desviar o foco a fim de manter Maduro no poder.

Enquanto os fatos desenrolam, continua chegando um grande número de venezuelanos ao Estado de Roraima a partir da cidade fronteiriça de Pacaraima, fugindo da crise e da fome. Mas agora há um ingrediente a mais: os imigrantes descobriram a facilidade de conseguir benefícios sociais, como Bolsa Família, bem como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é concedido a idosos acima de 65 anos e para pessoas deficientes, chamada popularmente de “aposentadoria” no valor de um salário mínimo.

A política de distribuir cesta básica por políticos também tem servido de atrativo para famílias de venezuelanos arriscarem tudo para atravessar a fronteira em busca dessas facilidades. Inclusive, nesta semana, o governo estadual começou a distribuir peixe para a população em todo o Estado, durante a Semana Santa, sob a justificativa de fazer parte do programa social, nutricional e de segurança alimentar. São 100 toneladas de tambaqui que custaram R$1 milhão aos cofres estaduais.

Desde a década de 1980, os seguidos governos colocaram em prática uma política explicitamente assistencialista que sempre colocou as pessoas na fila de entrega de peixe, de frango (na época chamado de galeto), da buchada e de presentes em datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Pais, Semana Santa e Natal, que incluía doação de redes, mosqueteiros, bermudas para homens, vestidos para mulheres, brinquedos para as crianças e até enxoval para as grávidas.

Nos tempos atuais, os políticos perceberam que a distribuição de cestas básicas e de peixe é um bom negócio para eles. Porém, esse tipo de política tem servido de atrativo para que mais estrangeiros cheguem em massa ao Estado, enquanto o presidente venezuelano Maduro fecha os olhos para a questão, com total conivência do governo brasileiro.

*Colunista

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