Opinião

Opiniao 23 09 2014 81

Desgostos em setembro – Walber Aguiar* …Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda… Renato Russo Era setembro. Tempo de trovões, relâmpagos e céu cinza. Também era tempo de vasculhar a alma humana e arrancar de lá todas as quinquilharias existenciais que foram se entulhando com o tempo. Naquela geografia da dor e da angústia, o desagendamento do amanhã era extremamente previsível. Naquela noite as águas pareceram mais negras do que de costume. A vontade de saltar nos braços da escuridão só não foi maior que o desejo de viver e de existir pra Deus, numa ânsia de pertencer e ser pertencido. Um rasgo na alma tomou conta das trevas que percorriam o ambiente, iluminando o caminho. Noutro canto alguém estava tomado por uma intensa vontade de morrer. Na verdade, a angústia é uma espada que penetra sutilmente o coração do indivíduo. No auge, ela aparece sob a forma de depressão, o que enfraquece o sistema imunológico. Elias, homem de Deus, esteve deprimido numa caverna. Não entendia como alguém que vira a mão de Deus em corvos que traziam sustento e fogo que descia do céu pudesse desampará-lo naquele momento de tensão e conflitividade. Não conseguia compreender o aparente abandono divino diante da adversidade iminente.  Jó, em processo visível de angústia e depressão, amaldiçoou o dia em que nasceu, enquanto tentavaentender o mal que lhe acometera.  De Ezequiel Deus levou a mulher e permitiu que Judas caísse em profunda tristeza e remorso pela traição e aceitação de trinta moedas de prata. Ora, Jesus suou sangue em sua angústia no jardim, mas compreendeu a grandeza e a essencialidade de sua missão. A solidão forçada leva ao isolamento. A partir daí o indivíduo passa a pensar que pode seguir sozinho, sem a ajuda de amigos ou de um especialista. A depressão é uma doença como qualquer outra. É a dor de dente da alma, é a necrose do espírito em decadência, é a vontade de mergulhar nos buracos negros da individualidade em conflito,uma espécie de desgosto por um ou vários acontecimentos inesperados. Passando pela vale de Baca, pelo deserto existencial que nos habita, sucumbimos ou nos aprofundamos em nós mesmos. Depois de toda dor e agonia de alma, Jó mergulhou em si e descobriu que o sentido de tudo era o autoconhecimento, o salto em sua própriadireção . Quando passou a conhecer-se melhor, viu a Deus e descobriu a verdadeira vida. Naqueles dias sombrios de setembro, eles partiram. Os homens de colarinho clerical também precisam deitar no  divã de Deus. Através do ato extremo gritaram bem alto que a depressão  não poupa nem os homens que cuidam de feridos e abatidos, cativos e quebrantados. Mesmo assim, não dá pra lançar no inferno os atingidos pela angústia, ainda que os fundamentalistas condenem a priori  aqueles que apelam para o salto mais radical dos abatidos pelo desespero… Só o Eterno pode julgar… *Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected] ———————————————————- A Igreja é um hospital – Marlene de Andrade* Na Igreja é celebrada com alegria a restauração operada através de Jesus Cristo na vida dos fiéis. Muitas pessoas começam a frequentar uma denominação, genuinamente cristã, às vezes, com suas vidas destruídas, porém ao começarem a se congregar, melhoram profundamente em todas as áreas do seu viver. Não é à toa que ladrões perigosos deixam de ser ladrões, estupradores se regeneram, matadores de aluguel se rendem ao Senhorio de Jesus e entre outros, corruptos também se convertem ao Senhor dos Senhores. Não estou falando de seitas e sim da Igreja, genuinamente cristã, independentemente de sua placa. A Igreja além de ser o Corpo de Cristo, funciona também como um hospital de excelente padrão. Nela as pessoas chegam, muitas vezes, adoecidas psicologicamente e até com ideação suicida e lá, em meio à pregação da Palavra de Deus, louvores ao Senhor e apoio dos irmãos, elas se regeneram, pois a Palavra de Deus é viva, eficaz e não volta vazia. Assisti a uma palestra, na UFRR, proferida pelo Dr. Edilson M. Bonfim, advogado, exercendo hoje o cargo de Corregedor Geral do Município de São Paulo e autor de 25 obras de direito, o qual explicou que não era religioso, contudo afirmou que bandido só se regenera quando entra para uma Igreja. Ele disse que não entendia como os pastores conseguiam fazer a vida desses facínoras se transformarem para melhor. Que equívoco! A multidão de almas organizadas nas Casas de Oração, ou seja, nos templos de barro são apenas colaboradores da Obra Vicária de Cristo. Que fique bem entendido então: não são os pastores os responsáveis pelo milagre da restauração das vidas e sim Jesus, nosso Salvador. Ele, e somente Ele, traz a Graça que nos redime da ação do pecado em nossas vidas. Depois da conversão, Jesus promove em nós a frutificação do fruto do Espírito Santo, o qual é: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio…” (Gálatas 5: 22). Mas não se engane, dentro das congregações há também o joio, porém todos possuem liberdade para escolher ser trigo. * Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT WWW.facebook/marlene.de.andrade47 ——————————————————- Como será depois? – Afonso Rodrigues de Oliveira* “A alma humana é como a água: ela vem do céu e volta para o céu, e depois retorna à terra, num eterno ir e vir”. (Goethe) Por reconhecer isso é que não me preocupo com os vai e vem da vida. Afinal de contras já estou entrando na terceira idade; não vai demorar muito. E sem pensar nem me preocupar com isso, rio na vida e da vida. E isso me faz feliz. Acontecimentos que deveriam me preocupar divertem-me. Rio deles e não de mim. Faz uma diferença enorme. Quando você se preocupa com o inferior, está se nivelando a ele. Ultimamente ando repetindo “histórias” sobre acontecimentos que já foram citados aqui. E não é por falta de assunto. É que não me lembro mais se já falei deles anteriormente. Mas se repito é porque ele foi interessante no meu aprendizado. Eles estão na grade da maior universidade do universo: “A Universidade do Asfalto”, onde me formei e continuo estudando. Certa vez, tive a honra de ser convidado pelo 7° BIS, para um evento social. Quando cheguei à entrada do prédio deparei-me com um busto do Duque de Caxias. É um trabalho diferente dos que conhecemos, pela sua robustez. Encantei-me com o trabalho, aproximei-me e comecei a acariciar, emocionado, a escultura. Meu filho, Rômulo, ficou me olhando e falei pra ele: – Puxa, filho, eu já vi essa escultura antes. Não sei onde, mas já a vi. Acho que foi lá encima, no primeiro andar. Rômulo franziu a resta, mas não comentou. Assistimos ao evento e já na saída deleitei-me mais, acariciando o Duque de Caxias, com carinho e emoção. Acho que o Rômulo achou que eu estava brincando, por isso não comentou nada. Os dias se passaram e, numa tarde, sentei-me aqui ao computador para a matéria do dia. Peguei minha agenda para escolher uma frase para o dia. Quando abri a agenda, abri um sorriso que logo virou riso controlado. Lá estava uma foto daquela estátua que tanto me emocionara naquele dia. Olhei no verso da foto e lá estava escrito o seguinte: “25-Ago-94. Ao senhor Afonso. Os agradecimentos do Comt. e demais integrantes do cfr/7° Bis. SELVA!” Claro que logo a baixo está a assinatura do então comandante do 7° Bis. Ri porque só aí foi que me lembrei de que fui eu quem fez aquela escultura que, para mim, é linda. Mas fica difícil acreditar numa história maluca como esta. Mas elas são muito comuns em mim. E o melhor é que sempre foi assim. Sempre que construo uma nova amizade faço questão de lembrar ao novo amigo que sou um péssimo fisionomista. E que por isso é provável que não o reconheça, no próximo encontro. São pessoas que me cumprimentam e fico sem saber de quem se trata. Pense nisso. *Articulista [email protected]     9121-1460