Opinião

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Série Netflix – Round 6:  Histórias violentas podem fazer mal para a saúde mental de crianças e adolescentes

Fabiano de Abreu 

Round 6 é a série coreana de maior sucesso na história da Netflix. O enredo gira ao redor de pessoas endividadas que podem ser resgatadas da crise por meio de um jogo perigoso. Porém, a classificação etária não está sendo obedecida, e isso pode trazer problemas à saúde mental de crianças e adolescentes.

Na França, cinco crianças foram hospitalizadas; o acidente foi causado por um confronto entre alunos do terceiro e do sexto ano do College George-Sand. A brincadeira teria “fugido do controle” e se transformado em uma situação violenta, que levou as crianças a passar por atendimento médico. Esse tipo de conduta preocupa o PhD , neurocientista, psicanalista, biólogo e antropólogo, Dr. Fabiano de Abreu. “Isso evidencia o quanto é necessária uma espécie de controle por parte dos pais, afinal, a série apresenta cenas de violência explícita, tortura psicológica, suicídio, tráfico de órgãos, sexo, palavras de baixo calão, e isso chama a atenção pois são crianças comentando sobre o assunto como se fosse algo normal delas assistirem”.

Diante da repercussão da série, muito tem se comentado sobre a violência gratuita apresentada em seus episódios, daí a recomendação da classificação indicativa, ainda que esta esteja sendo ignorada, analisa Fabiano: “Essa recomendação não existe à toa, pois o conteúdo apresentado pela série pode afetar a percepção e o comportamento dos mais jovens. Ao assistir estas produções repletas de cunho violento, as crianças e adolescentes acabam ‘normalizando’ isso e tratando o assunto como algo comum”, pondera.

Os efeitos disso é que as crianças e jovens podem se tornar mais reativas e agressivas, alerta o neurocientista “Nesta fase da vida, eles ainda são imaturos e muito vulneráveis a estímulos que podem se tornar incontroláveis e até mesmo viciantes. Além disso, nesta idade o cérebro tem menos ‘freios’ na regulação das emoções. A escola é o ambiente que mais se assemelha ao lar, com leis e regras, mas também acolhimento e amor. Por todo segmento educacional com interface da saúde mental estão preocupados com a repercussão dessa série. As crianças tendem a fazer o que vêem, não o que os pais e professores sugerem. A Netflix está preocupada com a audiência e numa casa, um e-mail da acesso à todos”, acrescenta.

Diante deste cenário, a ação preventiva preconiza o controle de tempo e de conteúdo da tela para crianças e adolescentes, recomenda Abreu. “É importante considerar ainda que a criança não tem a mesma percepção preventiva do adulto, já que a região do lobo frontal, relacionada à tomada de decisões, lógica e prevenção está em formação. Assim como a cognição com base na experiência não está desenvolvida. São discernimentos diferentes na percepção do adulto e da criança. Neste caso, recomendo aos pais que deve-se ter cuidado ao acesso das crianças e explicar com argumentos coerentes para a faixa etária, de maneira que entenda o real e o abstrato assim como suas consequências”.

Para quem ainda não conhece, a série utiliza-se de brincadeiras simples de criança como “Batatinha frita 1,2,3”, “Cabo de guerra”, “Bolas de gude” e outras, para assassinar a “sangue frio” as pessoas que não atingem o objetivo final. A produção estreou na plataforma de streaming em 17 de setembro e, no dia 12 de outubro, a Netflix confirmou que ela se tornou a mais visualizada da história da plataforma, com 111 milhões de acessos.

Artigo escrito pelo cientista

Classificação etária não existe à toa, afinal, histórias violentas podem fazer mal para a saúde mental de crianças e adolescentes

A série coreana Round 6 se tornou um grande sucesso do público infanto-juvenil. Porém, a classificação etária não está sendo obedecida, e isso pode trazer problemas à saúde mental de crianças e adolescentes.

No último dia 12, a Netflix confirmou que a série Round 6 se tornou a mais visualizada da história da plataforma, com 111 milhões de acessos. No ar desde o dia 17 de setembro, o conteúdo tem chamado a atenção de pais e educadores de crianças e adolescentes, ainda que sua classificação etária seja indicada para maiores de 16 anos.

Diante da repercussão da série, muito se tem comentado sobre a violência gratuita apresentada em seus episódios. Porém, o que não foi comentado até agora é que a classificação etária não está sendo seguida, e isso pode afetar a percepção e o comportamento dos mais jovens. É importante lembrar que este limite não existe à toa, e que ao assistir estas produções repletas de conteúdo de cunho violento, as crianças e adolescentes acabam o “normalizando” e tomando isso como algo comum.

Sobre os efeitos destes programas na saúde mental, é fundamental observar que nunca podemos generalizar isso. O ser humano é derivado de genótipo e fenótipo, este primeiro como precursor e este segundo como resultado da experiência com o ambiente externo como educação, criação, influências, traumas, inteligência, entre qualquer outro fator que interfira na personalidade que revelam comportamentos que possam se desdobrar em consequências em outras etapas da vida. Uma criança pode ver algo ruim e não repetir, com a consciência de que aquilo não é bom ou não faz bem, como pode querer repetir desafiando ou querendo chamar a atenção. Porque pessoas diferentes, respondem de forma diferente ao mesmo estímulo. Logo, cada um deve observado individualmente, inclusive, em sua influência sobre as demais.

Além disso, as crianças e adolescentes ao ter contato direto com tamanha violência podem se tornar reativas e agressivas. Nesta fase da vida eles ainda são imaturos e muito vulneráveis a estímulos que podem se tornar incontroláveis e até mesmo viciantes. Outro detalhe é que, nesta idade, o cérebro tem menos “freios” na regulação das emoções. Basta considerar que a escola é o ambiente que mais se assemelha ao lar, com leis e regras, mas também acolhimento e amor. Por todo segmento educacional com interface da saúde mental, estão todos preocupados com a repercussão dessa série. As crianças tendem a fazer o que veem, não o que os pais e professores sugerem.

Diante deste cenário, a ação preventiva preconiza o controle de tempo e de conteúdo da tela para crianças e adolescentes. Afinal, a criança não tem a mesma percepção preventiva do adulto, já que a região do lobo frontal, relacionada à tomada de decisões, lógica e prevenção está em formação. Assim como a cognição com base na experiência não está desenvolvida. São discernimentos diferentes na percepção do adulto e da criança. Neste caso, recomendo aos pais que deve-se ter cuidado ao acesso das crianças e explicar com argumentos coerentes para a faixa etária, de maneira que entenda o real e o abstrato assim como suas consequências.

Para quem não assistiu, a série apresenta cenas de violência explícita, tortura psicológica, suicídio, tráfico de órgãos, sexo, palavras de baixo calão, e isso é algo realmente preocupante, pois cada
vez mais há crianças comentando sobre o assunto como se fosse algo normal delas assistirem. O enredo utiliza-se de brincadeiras simples de criança como: ‘Batatinha frita 1,2,3’, ‘Cabo de guerra’, ‘Bolas de gude’ e outras, para assassinar a ‘sangue frio’ as pessoas que não atingem o objetivo final.

*PhD em neurociência, mestre em psicanálise e biólogo, Dr. Fabiano de Abreu alerta sobre o risco do Round 6 para crianças: “estruturas no cérebro se modificam e trazem danos presentes e/ou futuros.”

Como evoluir

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Se você pensa que o autoconhecimento exige muito esforço, tente evoluir com a ignorância”. (Waldo Vieira)

Não tente, porque você vai cair do cavalo. Não há como evoluir com ignorância. Já falei pra você do pensamento que li na capa do meu caderno escolar, quando eu era criança: “A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira”. Somos o que somos e por isso só nós mesmos podemos nos melhorar. E nos aprimoramos no autoconhecimento. Na medida em que vamos nos conhecendo no que realmente somos, vamos procurando melhorar a cada instante. Precisamos nos conhecer para sermos. É com nossa presença que mostramos quem somos. 

Um dos caminhos mais eficazes para sermos cada vez melhor, é seguir o Victor Hugo: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. É assim que crescemos. E como vivemos num mundo em evolução, não devemos deixar de evoluir o tempo todo. E evoluir no autoconhecimento. Senão nunca vamos deixar de ser o que somos. Mas, o mais importante é que não deixemos de lado o esteio maior da evolução, que é a Educação. Porque sem educação não seremos mais do que títeres tentando evoluir, na ignorância. Porque, queiramos ou não, o mundo vive um processo evolutivo constante. O que nos orienta a acompanhar o processo de evolução. 

Pouco antes de falecer, Dom Elder Câmara disse que agradecia a Deus por ter vivido no século vinte. E Dom Elder se referia ao progresso que alcançamos no século passado. Imagino se Dom Elder estivesse vivo hoje, o que ele não diria. E o mais importante é que saibamos acompanhar o ritmo do progresso. Porque não basta que tenhamos, por exemplo, um celular de altíssima qualidade. O importante é que saibamos usá-lo. Porque ele não foi criado para o desvio do progresso. E este nem sempre está na evolução tecnológica, mas não evolução racional. 

Estamos vivendo uma pandemia muito mais perigosa e ameaçadora do que a Covid-19, que é o descontrole mental que ainda está camuflado. Continuamos nos preparando nas faculdades para criarmos leis estapafúrdias, que em vez de nos unir, separam-nos. E a separação vem nas discriminações fantasiosas. E se você está balançando a cabeça, achando que estou pirando, faça uma análise sobre a lei das cotas nas faculdades. E o que me alivia é saber que temos um número admirável de negros que se presam e lutam contra as cotas. Porque elas são uma falta de respeito aos negros. Já lhe falei aqui, de um manifesto a que assisti na Praça da Sé, em São Paulo, dos negros, contra as cotas. Mas este é apenas um dos muitos protestos abafados por virem de leis duvidosas. Pense nisso. 

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