JESSÉ SOUZA

Operação Esculápio e a situação da saúde pública com seus antigos problemas

Imagem da Operação Esculápio deflagrada na saúde pública estadual em agosto do ano passado (Foto: Divulgação/PF)

A saúde pública é sempre uma grande preocupação não apenas pelos históricos problemas enfrentados pela população, mas também por operações policiais apontando supostos casos de desmandos ao longo dos seguidos governos. E uma cena vista na semana passada, na inauguração de um pronto socorro particular, mostrou uma solenidade que parecia mais o cenário de um pub do que mesmo de uma unidade de saúde.

Enquanto o setor público caminha a passos lentos, cujas obras demoram uma eternidade, a exemplo do caso da maternidade pública estadual, ampliando o sofrimento da população, o setor privado avança com estruturas modernas. E o significado é esse mesmo: o setor privado floresce graças à situação do setor público que não consegue garantir um atendimento ágil e de qualidade, no que pese os avanços conquistados ao longo dos anos.

Não se trata apenas de burocracia ou de incompetência administrativa. A corrupção sistêmica que se abateu sobre a saúde pública nos últimos anos é a grande responsável por este cenário. A Operação Esculápio, deflagrada pela Polícia Federal em agosto do ano passado, é o caso mais recente que deram pistas sobre os desmandos que tanto mal fizeram ao povo.

Não custa lembrar que o suposto esquema investigado aponta que um grupo fraudava processo licitatório na Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) para a compra de materiais odontológico para o Hospital Geral de Roraima (HGR) e que ainda desviava pacientes da rede pública para uma clínica particular, inclusive os orientando a procurar a Justiça a fim de obrigar o governo a pagar a realização de procedimentos em clínicas particulares.

Não é nenhuma novidade que a corrupção sistêmica se apoderou do setor, aponto de, ainda em 2019, as seguidas trocas de secretários de Saúde, sob barulhentas denúncias de corrupção, ter provocado a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa, cujo relatório final foi aprovado no dia 08.12.2021.    

A CPI da Saúde havia sido instalada no dia 29 de agosto de 2019, exatamente após a bombástica publicação do secretário demissionário que apontou a corrupção sistêmica na Sesau. Apesar de todos os embaraços da CPI, a lista de indiciados no relatório incluiu 13 empresas, um senador e um ex-secretário de Saúde, estes dois últimos que já vinham sendo investigados pela PF, alvos da operação no caso do dinheiro na cueca.

Relembrar tais fatos servem para contextualizar o tamanho do buraco que havia se tornado a saúde estadual, com os fatos conectados e que remontam a outros governos, quando a saúde pública sempre era usada como moeda eleitoral. Conforme o secretário demissionário havia alertado, a Operação Esculápio mostrou indícios de parlamentares e outros políticos envolvidos no suposto esquema.

Não custa lembrar a denúncia do secretário demissionário de 2019: “Enquanto forem permitidas empresas de deputados estaduais, federais e senadores vendendo serviços dentro da secretaria; enquanto for permitido uma cooperativa distribuindo plantões a quem não trabalha; enquanto forem permitidas famílias com poder político vendendo serviços dentro da secretaria; enquanto forem permitidos médicos concursados vendendo serviços para a secretaria; enquanto forem permitidos judicializar procedimentos para beneficiar um grupo de pessoas, haverá corrupção no governo”.

São palavras de cinco anos atrás, mas que deveriam ecoar até hoje no inconsciente coletivo. E enquanto a saúde pública não consegue resolver seus problemas e expurgar os desmanados, a população sofre nas filas. E quem tem dinheiro recorre ao setor privado, o qual está cada vez mais estruturado.

*Colunista

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