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O QUE HAVIA ANTES DA GUARDA TERRITORIAL?

O Tenente João de Azevedo Cruz nasceu em Campina Grande, na Paraíba, no dia 26 de Junho de 1898.

O Contingente Federal em Boa Vista. O Tenente João de Azevedo Cruz era o Comandante.

O Tenente João de Azevedo Cruz nasceu em Campina Grande, na Paraíba, no dia 26 de Junho de 1898. Era filho do casal Manuel Azevedo Cruz e Genuína Guedes de Azevedo Cruz.

Aos vinte anos foi para Manaus, no Amazonas, com o desejo de servir ao Exército, pois soube da chegada naquela cidade do “45º Batalhão de Caçadores do 15º Regimento de Infantaria”, vindo do Mato Grosso, criado pelo Decreto nº 11.498, de 23 de fevereiro de 1915, e que estava alistando jovens para servir na unidade militar.

Em 1919, o Decreto nº 13.916 – de 11 de dezembro, transformou o 45º Batalhão de Caçadores, originário do Estado do Mato Grosso, em “27º Batalhão de Caçadores”, como primeira Unidade militar de Infantaria na Amazônia.

Em 1920, o Exército na Amazônia criou os “Pelotões de Fronteira”, chamados inicialmente de “Destacamentos”, depois receberam a denominação de “Contingentes Especiais de Fronteira”.

João de Azevedo Cruz alistou-se e passou a servir como Soldado de Infantaria de Selva, depois foi promovido a Cabo e, em 1925 a Sargento do Exército.

No início de 1926, o Sargento João de Azevedo Cruz recebeu a missão de instalar um “Contingente de Fronteira” (reconhecido como “Contingente Federal”) no Município de Boa Vista do Rio Branco (hoje Roraima).

A viagem, de Manaus a Boa Vista, foi feita no barco “Macuxi”, da família Brasil, que à época, fazia o transporte de pessoas e mercadorias neste trajeto.

Quando chegou, com a esposa Adélia, e dois filhos (a filha Rubeldite e o Roberval Maia de Azevedo Cruz), viu que não havia casas para alojamento da tropa, nem tampouco para ele morar com a família.

À época, Boa Vista tinha apenas três Ruas: Floriano Peixoto (a que passa em frente à Igreja Matriz), a Jaime Brasil (central) e a Sebastião Diniz. Praticamente, a cidade findava onde hoje está a Praça Capitão Clovis – defronte à Igreja de São Sebastião.

Havia pouquíssimas casas de alvenaria (de tijolos e telhas): a casa do coronel Theodoro Bento Brasil (onde hoje reside e pertence à neta Petita Brasil), a Igreja Matriz e a Casa das Madres – na Rua Floriano Peixoto. A maioria das casas era feita de adobe (barro trançado com varas) e cobertas com palhas de anajás ou de buritis.

O Sargento Azevedo, com a esposa Adélia e o casal de filhos, ficou hospedado inicialmente na residência da Família Brasil. Dias depois, procurou um espaço e material para construir um quartel. Para isto, solicitou inúmeras vezes recursos materiais ao Ministério da Guerra, porém responderam que não havia recursos. Enquanto isto, a tropa ficava ao relento, debaixo de barracas.

Em face da precária situação da cidade, o Sargento Azevedo resolveu construir um quartel com o que tinha à disposição. Juntou a tropa, embrenharam-se nas matas e trouxeram o “material” necessário.

O quartel foi construído no local onde hoje está o Hotel Lua Nova, na Rua Benjamin Constant (atrás do Colégio Oswaldo Cruz, próximo à Praça da Bandeira). Foi edificado com paredes de barro e coberto com palhas de anajás. Tempos depois, foi coberto com cavacos (pedaços) de madeira e dado maior sustentação às paredes.

Em 1930 eclodiu no Brasil uma revolução armada, organizada pelas oligarquias (grupos políticos) de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba contra o governo do Presidente da República Washington Luís, para depô-lo de poder, o que conseguiram no dia 24 de outubro de 1930. Este episódio passou para a história como “A Revolução de 1930”. Terminava ali a “República Velha”, e começava a “República Nova”, com o novo Presidente, o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas.

O Sargento João de Azevedo Cruz foi chamado pelo comando do 27º Batalhão de Caçadores, em Manaus, e de lá, foi designado para a cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde participou dos combates que aconteciam entre as tropas militares e os insurgentes adversários do governo federal.

O Sargento João de Azevedo, a frente de um Pelotão de Soldados, teve destaque nas lutas que aconteciam nesta Revolução, e recebeu elogios por sua atuação.

À época, era de inverno rigoroso e a temperatura baixou muito na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. A senhora Adélia, esposa do Sargento Azevedo, que o acompanhava nesta viagem, não se acostumou com o clima e adoeceu.

O Sargento Azevedo foi até ao comando e solicitou seu retorno a Manaus ou à Boa Vista. O comandante respondeu-lhe que não tinha autoridade para fazer tal transferência e só quem podia fazê-lo era o Ministro da Guerra. Mas, para isso, ele (o Sargento Azevedo) teria que viajar até ao Rio de Janeiro, que era a capital à época.

Candido Francisco

O Sargento Azevedo foi ao Rio de Janeiro e procurou o Ministro da Guerra, à época, o General Pedro Aurélio de Góis Monteiro (1889 -1956), e este negou o pedido, com a afirmação de que “Sargento” não podia pedir transferência, entre outras negativas de cunho militar.

O Sargento Azevedo não gostou e enfrentou o Ministro, informando-o que ele era um sargento sim, mas tinha o Curso de Comando de Pelotão – que lhe dava o direito de exercer a função de comandante de Pelotão e que já havia ocupado este posto em Boa Vista do Rio Branco. Disse ainda ao Ministro que aquele era um caso de emergência, pois sua mulher estava passando mal, adoentada por causa do frio e que necessitava com urgência de uma transferência.

No dia seguinte foi publicada sua transferência e, por sorte, para a cidade de João Pessoa, na Paraíba, próxima de Campina Grande, onde ele havia nascido.

O Sargento Azevedo Cruz serviu no quartel daquela cidade por algum tempo quando solicitou nova transferência, desta vez retornando à Manaus, onde sua mulher havia deixado sua mãe

O Sargento Azevedo ficou novamente no 27º Batalhão, em Manaus, até dezembro de 1931.

Em janeiro de 1931 o Batalhão lhe designou novamente para vir a Boa Vista comandar o Contingente Federal, ficando até 1932. Após esses dois anos no comando, ele retornou para o Batalhão em Manaus, e foi promovido a 1º Sargento.

Em janeiro de 1931 o Batalhão lhe designou novamente para vir a Boa Vista comandar o Contingente Federal, ficando até 1932. Após esses dois anos no comando, ele retornou para o Batalhão em Manaus, e foi promovido a 1º Sargento.

Em 1934, devido problemas de saúde, requereu sua Reserva. E, assim aconteceu no dia 05 de fevereiro de 1934. E, em 1936, mesmo estando na Reserva, foi promovido a 2º Tenente, em virtude de uma lei que havia sido aprovada e permitia-lhe a promoção.

Depois disso o Tenente Azevedo, com a família, veio de vez para Boa Vista. E, aqui comprou uma casa na Rua Cecília Brasil, próxima onde hoje está a Assembleia de Deus. E, também, adquiriu uma fazenda no interior onde passava boa parte do tempo

Em 1961, já com a saúde debilitada, faleceu no dia 12 de setembro daquele ano.

O Tenente Azevedo Cruz era casado com a senhora Adélia Maia de Azevedo Cruz (Adélia Maia do Rego, nome de solteira, nascida no Ceará).

O casal teve os filhos:

Ruberval, Rubimar (este falecido com um ano e meio), Rubeltide, Rubeldimar, Rubelmar (nasceu em Boa Vista e foi Prefeito do Município de Novo Airão, no interior do Estado do Amazonas), Ruzimar, Ruzival, Dorgival, Zilma Maria (todos com o sobrenome “Maia de Azevedo Cruz”), e a filha Wapixana Regina de Azevedo.

Destes filhos, dois nasceram em João Pessoa, na Paraíba: a filha Rubeldite e o Roberval Maia de Azevedo Cruz.

Um nasceu no Rio de Janeiro, o Rubelmar.

Dois nasceram em Manaus: Ruzimar e Rusival.

Quatro, nasceram em Boa Vista (Território Federal do Rio Branco): Ruberval, Rubeldimar, Dorgival e a filha Zilma Maria de Azevedo Nattrodt.

Interessante é que cada filho tinha um apelido, colocado por uma cabocla de nome Rosa que morava com a família.

Ela colocou os seguintes apelidos nos meninos:

– O Rubeldimar, era conhecido como “Beleza”.

– O Rubelmar era o “Preto Azevedo”.

– O Ruzimar, era chamado de “Poderoso”.

– O Ruzival era o “Doutor”.

– E, o Dorgival era o “Dodge” (marca de carro)..

As moças não receberam apelidos.

O Contingente Federal, sob seu comando, foi de suma importância para a consolidação da segurança pública em Boa Vista e fator de desenvolvimento econômico-social do Território Federal do Rio Branco.

Seu nome estava esquecido nos compêndios das escolas. Aliás, havia pouco registro em relação à história do primeiro Contingente Federal em Boa Vista.

Em sua homenagem, há a “Escola Estadual Tenente João de Azevedo Cruz”, na Vila Nova Colina, no Município de Rorainópolis, mas sobre o Patrono, pouco se sabe.

Em face desta incompreensível lacuna histórica é que em 2008, elaborei um Projeto de Lei denominando uma rua com o seu nome, e levei o Projeto à Câmara Municipal, pedi aos vereadores para assinar, levado à Plenário, votado e aprovado.

Assim, a antiga Rua R-12, no Bairro Cidade Satélite, recebeu o nome de: “Rua Tenente Azevedo Cruz” (conforme Lei nº 1058, de 01/07/2008, publicada no Diário Oficial do Município de Boa Vista, nº 2248, de 14/07/2008).

O que fiz, em denominar em Boa Vista, uma rua com o nome do Tenente Azevedo, foi uma homenagem e reconhecimento ao trabalho realizado por este pioneiro e à sua numerosa descendência, filhos, netos, bisnetos, tataranetos que nasceram e estão aqui em Boa Vista, participando do desenvolvimento socioeconômico do Estado de Roraima.