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Como as mudanças climáticas podem interferir no cenário agropecuário?

Como as mudanças climáticas podem interferir no cenário agropecuário?

O ano de 2024 é marcado por fenômenos de todos os portes que vêm afetando negativamente a produção agrícola nacional. O país apresenta uma sequência de prejuízos significativos em todas as regiões. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que, somente na região Centro-Oeste, as perdas chegam a 11%, motivadas pela falta de chuva em momentos cruciais para o plantio. Nas regiões Sudeste, 8%; Nordeste, 7%; e Norte, 5%; a única região que iria contrapor a balança, a região Sul, vem enfrentando fortes chuvas que já destruíram imensas áreas de plantio. No Rio Grande do Sul, já o Paraná sofre com a ausência de chuvas.

A sétima estimativa da safra de grãos 2023/2024, divulgada pela Conab em 11 de abril, aponta que a produção de grãos no país deverá atingir um total de 294,1 milhões de toneladas, o que representa uma redução de 8% em relação à obtida na temporada passada, ou seja, 25,7 milhões de toneladas a menos a serem colhidas. Estamos falando do setor que representa aproximadamente ¼ do PIB nacional, e isso é extremamente preocupante.

Em um estudo recente apresentado pelo Banco Bradesco, as tragédias no Rio Grande do Sul (RS) deverão afetar ainda mais negativamente esses números apresentados pelo estudo da Conab, que terá de rever suas previsões. Quando as fortes chuvas iniciaram no RS, por volta de 27 a 29 de abril, cerca de 80% da produção de grãos já havia sido colhida. Porém, estavam sendo transportadas, armazenadas, beneficiadas, o que significa que a perda pode ser maior do que os aproximadamente 20%, que seriam dos dados de colheita. Mas o que isso significa para o cenário nacional? O RS é responsável por 12,6% do PIB agrícola nacional. Ele é o maior produtor de arroz do Brasil, com 71% de toda a produção, é o maior produtor de trigo e um dos maiores produtores de soja, além de 12% do abate de suínos e 9,5% de frango.

Em Roraima, a expectativa de passar por uma boa época climática, apresentando boas condições para o plantio, poderia ser uma boa notícia e aumentar as áreas plantadas, porém as decisões dos produtores em plantar ou não já foram tomadas lá em dezembro de 23 até no máximo em fevereiro de 24, e, mesmo se decidirem plantar para aproveitar um possível aumento no preço da soja, Roraima tem gargalos logísticos que inviabilizam qualquer mudança na tomada de decisão, e é isso que faz ela acontecer de forma tão antecipada.

O preço da soja, segundo o indicador da Soja ESALQ/B3 – Paranaguá, mostra que em 29/04/2024 a soja estava sendo cotada a R$ 128,67. Já em seu último fechamento, em 13/05/24, estava a R$ 134,97. E como isso interfere na vida do leitor? A base de todas as rações animais é feita de soja e milho, e eles custando mais caro, cria-se um efeito cascata aumentando o custo de produção, que certamente chegará à mesa deste leitor.

Gustavo Menezes Domingues