Jessé Souza

O maior butim de todos 40

Jessé Souza*

Desde o início da década de 90, quando comecei a escrever neste espaço, venho alertando que o principal objetivo da maioria dos políticos, daqueles que mantinham um ferrenho discurso contra a questão indígena, era ocultar o interesse de se apropriar das terras do Estado. Na garganta desses políticos, o índio era colocado como o principal empecilho ao desenvolvimento desta terra, um inimigo que estaria tomando as propriedades não apenas dos grandes produtores de arroz, que por lá chegaram se anunciando donos de tudo, mas de todo o povo roraimense, como se cada cidadão não índio tivesse direito a um naco de terras naquelas áreas. O objetivo de todo alarido era esconder o real interesse dos verdadeiros surrupiadores das terras produtivas e das mais ricas em minérios. Na primeira oportunidade, quando a União transferiu as terras do ex-Território Federal para propriedade do Estado de Roraima, esses políticos do alarido da internacionalização da Amazônia foram os primeiros a se apropriarem de grandes áreas produtivas e das mais valorizadas. Foi um verdadeiro butim ao bem público, reféns desses políticos, desta vez tomando áreas de quem não tinha documento e se apropriando daquelas que ainda não estavam ocupadas, inclusive áreas de proteção. O Instituto de Terras de Roraima (Iteraima) foi usado para tentar legalizar o assalto feito em bando. Todo essa corrida à apropriação das terras de Roraima (desta vez, sim, ao bem de toda população) está registrada nos autos das investigações que estão nas mãos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, processos estes sabe-se lá onde estão. Paralelo a isso, os mesmos políticos agiam por outro flanco: criaram empresas de mineração e estão fazendo pesquisas da existência de minérios em todo o Estado, em todas as áreas possíveis, inclusive nas terras de famílias que nunca tiveram conflitos com a questão indígena e que acreditavam que estavam livres e seguras do pesadelo de perderem tudo. Agora o ciclo está completo. Os verdadeiros inimigos do povo, aqueles que sempre quiseram se apropriar das riquezas roraimenses, mostraram sua cara. Depois de se apropriarem de imensas terras, tornando-se os verdadeiros latifundiários, agora querem arrancar, de forma legalizada, os minérios que existem para que assim fiquem mais ricos e mais poderosos. O poder eles já têm nas mãos. Mas eles querem mais. Eles querem ser donos de Roraima, das terras produtivas e dos minérios que existem no subsolo de todas as áreas, sejam elas produtivas ou não. E não interessa se sejam áreas de serra ou propícias ao turismo, como é o caso de Tepequém. Eles querem tudo. Infelizmente, precisamos de duas décadas para se cumprir aquilo que eu vinha alertando. Os verdadeiros inimigos de Roraima não têm mais como esconder suas pretensões. Eles mentiam dizendo que o perigo era a internacionalização da Amazônia e os índios. Agora todos estão vendo que o perigo é justamente suas ações nefastas que tentam tomar Roraima de assalto.

*Jornalista

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