Jessé Souza

A grande culpa 23 09 2014 50

Jessé Souza* Em governos que não prezam pela transparência, a imprensa passa a ser apontada como inimiga, autora de perseguições e considerada culpada por tudo de errado que ocorre na administração pública. É a inversão dos fatos. Por isso a liberdade de expressão é tão atacada por governos corruptos e centralizadores. Em Roraima, os seguidos escândalos no sistema prisional vinham descambando para uma nefasta ação das autoridades policiais: o discurso de criminalizar a imprensa por supostamente vazar informações a presos rebelados e amotinados. Sim, foi dito isso com todas as letras: IMPRENSA. No final de semana passado, passou a circular a informação de que a polícia iria abordar carros da imprensa para verificar se os jornalistas estariam usando rádios com a frequência da polícia, subestimando qualquer inteligência daqueles que têm conhecimento do mais poderoso instrumento de comunicação moderno: o WhatsApp. Não estou aqui para dar consultoria sobre a mídia, por isso meu papel não é explicar como nós, que trabalhamos em veículos diários de comunicação, nos movimentamos e até surfamos nessas ondas de Wi-Fi e nos espectros por onde circula a banda larga (não tem larga assim, é verdade). Mas vale lembrar que, nós temos fontes, de policiais a bandidos (a polícia chama isso de informantes, mas nem por isso ninguém acusa policiais de estarem mancomunado com o crime). No impresso, temos também as maiores fontes (ou informantes) que podem existir nesses tempos de avanços tecnológicos: o leitor que confia no nosso trabalho e transmite tudo on-line por esses celulares cada vez mais modernos. A Operação Weak Link, desencadeada pelo Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) e Polícia Federal, na semana passada, comprovou a fragilidade desse sistema prisional, mais uma vez, que estava (e continua sendo) comandado por organizações criminosas. Os presos estão tão articulados que eles gravam os vídeos de seus motins e os transmitem “ao vivo” por WhatsApp e Facebook. Então, querendo desviar a atenção do público (e do eleitor), aparecem autoridades querendo fazer a opinião pública a acreditar que a imprensa passa informações para bandidos. É o inverso: os bandidos, de tão articulados e com livre acesso a celulares com internet na prisão, é que têm a audácia de passar as informações não só para a imprensa, mas para grupos de WhatsApp dos quais inclusive há policiais fazendo parte (e nem por isso eles são criminosos). Querer criminalizar o papel da imprensa é uma tática de autoridades que tentam ocultar as falhas de governo e o desaparelhamento do poder público para encarar os problemas que afligem a sociedade. Portanto, quando aparecer alguém culpado a imprensa, tenham uma certeza: trata-se de uma tática antiga a de perseguir a liberdade de expressão e de imprensa praticada por governos não afeitos à democracia. *Jornalista [email protected]