Opinião

Opiniao 19 10 2018 7101

Medo! Supere-o pelo planejamento

Flávio Melo Ribeiro*

O planejamento é utilizado para mapear o caminho que a pessoa irá trilhar para alcançar o seu objetivo. Dessa forma, a pessoa sabe o que precisa fazer e consegue manter o foco no que é necessário. Porém é bastante comum haver desistência do que foi planejado, e um dos fatores predominantes é o medo. Uma emoção que faz a pessoa paralisar, ou ficar numa situação tão insegura que ela não se vê em condições de enfrentar seus receios e, por conseguinte, tende a evitar as adversidades.

O medo faz a pessoa modificar organicamente seu corpo, diante de um perigo ocorre o estresse, que é uma resposta positiva do organismo se preparando para enfrentar o perigo ou fugir. Mas em algumas situações, ao invés disso, ocorre uma contradição, a pessoa quer fugir, mas em vez de se afastar do perigo, sente uma fraqueza tão grande em suas pernas que ela paralisa. Em situações mais severas, chega a ter diarreia. Toda essa reação do organismo, mesmo não tendo o efeito efetivo, é para a pessoa se proteger do que ela considera perigoso.

Em outras ocasiões, o perigo está no resultado a alcançar; muitas vezes está no meio do caminho, alguma ação que precisa ser realizada, mas colocam em xeque a segurança da pessoa e acabam não sendo nem mesmo enfrentadas. Por exemplo, a pessoa precisa divulgar determinado trabalho, e para isso decide falar em público; depois de tudo planejado se dá conta que tem medo de fazer essa ação. Fica apavorada só em pensar em enfrentar as pessoas, antecipa que dará um branco no pensamento e não conseguirá falar e consequentemente irão rir dela. Isto é tão forte que desiste de falar. Com isso não cumpre o que foi planejado e não vai adiante, desistindo do que se propôs.

Pode-se dizer que o medo paralisa, ou faz a pessoa evitar enfrentar seus receios. Então o que fazer? Utilizar o próprio planejamento para superar seus medos e buscar de forma objetivo seus sonhos. Da mesma forma que se planeja uma ação mais ampla, é possível planejar de forma detalhada cada uma das ações e, ao fazer isso, se combate o medo. Pois a consciência reflexiva passa a ter como objeto da sua atenção o EU, e ao fazer isso, ela toma distância do contexto que está vivendo e destrói a estrutura da emoção. Por exemplo, quando a pessoa, em alguma situação mais difícil, pensar “o que eu devo fazer?”, ela o faz sem emoção, pois a estrutura básica que a emoção necessita para ocorrer é a pessoa estar de tal forma envolvida com a situação, que ela não tem distância entre o que vai ocorrer e ela. O elemento essencial para isto é a crença, crer é acreditar com todo o seu corpo que suas antecipações irão ocorrer, pois é a mais pura verdade.

Para escapar do medo, corte a crença do fracasso através do pensamento “o que EU devo fazer?” e planeje os próximos passos. Parece fácil demais para ser verdade, mas essa é uma daquelas coisas da vida que é simples e dá resultado.

*Psicólogo – CRP12/00449

E-mail: [email protected] Contatos: (48) 9921-8811 (48) 3223-4386

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Quebrando para renascer

Taylor Santos*

Quando ganhei um não da Gordice fiz o que todo ser humano racional faria: quebrei o meu mundo em pedaços e passei a andar pela estrada de lamentações. Alimentei com a própria carne o ódio, a rebeldia, a mágoa, a autodestruição e uma imensa melancolia. Coloquei as vestes do vitimismo e comecei a narrar uma tragédia grega, na qual eu era a vítima mais frágil. Fiz daquilo que sentia uma praga, disseminada no meu falar. Era tanta dor do lado de cá, que prosa mais triste não existia. Por descuido de ser eu, deixei nascer de um instante qualquer os pensamentos perdidos dentro de mim. Como pode uma pessoa quebrar o meu mundo? Quem foi que autorizou tamanha atrocidade? Cadê o controle dos meus sentimentos? Quem foi que pegou a direção dos meus fatos? Naquele tempo real, que se apagava e feria, eu em pedaços fiquei e, em pedaços estava para morrer.

Catei com o coração os dizeres de uma Gordice machucada pela vida. Poderia julgá-la? Sem calcular os impulsos de negação fui para casa feito notícia de desastre. É impossível fechar os olhos e mergulhar de vez na aceitação. Quando estava cercado no meu quarto, deixei tempestades soltas nos olhos, algo golpeava o peito e uma dor surgia naquilo que era eu, cada lágrima era sepultada, no silêncio da madrugada. As horas apagaram-me entre os lençóis manchados pelos fatos acontecidos. Pela manhã, acordei decidido que alguém pagaria pela dor que estava sentido, procurei a minha autoestima esquecida no fundo da gaveta, lustrei-a e vi que ela ficara cheia de brilho e, obviamente pronta para reluzir novamente. Antes de vingar-me e nutrir a raiva, fiquei parado olhando o STATUS, no WhatsApp da Gordice, intimamente rezava para que tudo aquilo fosse um pesadelo, que ao abrir os olhos a Gordice estaria lá apertando a minha mão e dizendo: Acalma-te, que daqui eu não sairei.

Não era sonho, tudo era tão real. Passei a cultivar a autoestima com elogios falsos, sorrisos programados, dizia sempre: Sou ótimo, estou bem, sou maravilhoso, não me quis, tem quem queira! Desse modo, encenava a felicidade durante o dia, mas quando batia a porta de casa, entrava em desmoronamento, chorava ao ponto de deixar as lágrimas quentes e salgadas apagarem a energia do corpo.

Pela manhã postava na imagem uma frase: Amando-me em primeiro lugar, valorizando quem sou! Entretanto, por dentro uma ferida estava exposta e sangrava sem conter a dor, estava escondida por trás de uma maquiagem para que ninguém notasse a verdadeira imagem da obrigação de respirar e de viver. Fiz da minha vida uma montanha russa, pulei em festas, beijei bocas, bebi até a última gota da garrafa, procurando um conforto que não existia na minha solidão. Mil corpos notei e em mil corpos recordei da Gordice que me apaixonei. Tinha horas que procurava um colo, um abraço, palavras de carinho, era neste momento, que dava conta de que eu era sozinho. Esse vazio é particular não consigo matá-lo, aquela Gordice caberia perfeitamente aqui. Peguei o primeiro ônibus da vida e dizia com segurança: Ninguém será digno do meu afeto, quero apenas curtir o momento, quero liberdade! Assim, fiz da minha mentira uma verdade social e individual.

Pulei as estações, até que em um determinado momento, quando tudo passou a não ter mais sentido e a lógica estava apagada do meu mundo, dei-me a oportunidade de abraçar a dor e fui curti-la em casa, comprei soverte, três barras de chocolates, separei alguns filmes bem tristinhos, preparei a pipoca, desliguei o celular e fui degustar o meu próprio luto. Fiz de mim o próprio dilúvio, não tive receio de viver o que estava evitando. A vida passou feito um longa-metragem na minha frente, mexi na ferida até o sangramento aumentar, limpei até a última gota tórrida de sangue, e fiz o curativo da vida continua e, em volta coloquei aquele esparadrapo de seguir em frente. O efeito foi quase instantâneo, algo foi modificado, uma tranquilidade pousou em mim, comecei a apertar lentamente o botão da aceitação. O processo de amadurecimento tinha começado, estava renascendo para o novo, enquanto o mundo ficava perdido depois
da janela.

Lá fora, todo sorrido como recém-nascido, o vento cantarolava no meio do lavrado: A dor é necessária, mas o sofrimento é opcional! Contudo é sabido dizer que cada um tem o seu tempo especial para amadurecer, vale ressaltar, que sangramos conforme a nossa aprendizagem com a dor. #Seque-separanãoseafogaremdor!

*Articulista

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A necessidade do diálogo civilizado

Oscar D’Ambrosio*

Vivemos um mundo muito interessante. De um lado, via Facebook e Instagram, existe a possibilidade de falar de praticamente tudo e de toda maneira possível. Do outro, existem setores conservadores cada vez mais ativos nos mais diversos segmentos. O diálogo entre essas instâncias parece cada vez mais difícil numa sociedade polarizada.

A recente performance de um artista nu no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, SP, em que uma criança de aproximadamente quatro anos toca no pé dele gerou uma polêmica tão grande quanto o fechamento de exposição em Porto Alegre, RS, devido ao clamor de setores da sociedade.

Desta vez, temos muitos protagonistas. O artista Wagner Schwartz, o Museu, a curadoria, a mãe e a criança. Pelos relatos, embora houvesse aviso sobre a nudez, não havia informação de faixa etária ou normas sobre a filmagem da performance. A exposição pública da criança poderia ter sido evitada sem a viralização da cena pelas redes sociais.

Afinal, hoje tudo o que fazemos se torna mundialmente visível em segundos. E as leituras são imponderáveis, principalmente porque não estamos num país em que se lide com a nudez com naturalidade. O positivo de mais este episódio polêmico é ver a sociedade mobilizada discutindo, desde que isso ocorra com civilidade.

*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e mestre em Artes Visuais pela Unesp, onde atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa.

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Igual a quem?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Quando ela canta me lembra um pássaro. Não um pássaro cantando, mas um pássaro voando.” (Ferreira Goulart)

Estou ficando repetitivo? Tudo bem, mas isso faz parte do trabalho. Era a suavidade no cantar da Nara Leão que fazia o Ferreira Goulart sentir a suavidade de um pássaro voando. E embora isso não lhe pareça significante, é muito importante. O que importa é o que você é, e não o que você quer que os outros pensem ou achem que você é. No meu entender, está ficando ridícula essa batalha do ser humano pela igualdade negada pela cor da pele, o formato do cabelo, ou coisas assim. Na sua simplicidade o Bob Marley já falou: “Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos, haverá guerra.” E estamos vivendo uma guerra cultural que não tem nenhum valor racional, sobre o que realmente somos como seres racionais. Porque, isso sim, é o que somos, e não sabemos que somos.

“A deusa da minha rua tem os olhos onde a lua costuma se embriagar.” O brilho dos seus olhos reflete o seu valor. A cor da sua pele, o formato do seu cabelo, sua idade cronológica ou sua origem, nada significam. Eles se situam em você. O que significa que sua importância está em você; no que você é como você. Pare com essa tolice de brigar pela igualdade. Nenhuma mulher negra ou homem negro dos que fizeram a história do mundo, não o conseguiram pelo valor da pele ou do cabelo das pessoas brancas. Tudo que eles foram e conseguiram, conseguiram pelo seu próprio valor.

Já lhe falei do dia em que eu estava à janela do apartamento, em São Paulo, e ouvi um barulho de movimento na Praça da Sé. Desci e fui até lá. Era um grupo de pessoas negras protestando contra as cotas nas universidades. Fiquei ali, no meio deles, adorando os discursos elegantes e maduros, sobre o ridículo das cotas. Elas põem as pessoas negras no patamar mais baixo da dignidade. Antes de contestar meu pensamento, reflita sobre isso, mas com racionalidade. Não vamos debulhar o assunto. Ele já é muito claro para quem tem mente clara. Você é linda em você. Só os tolos e despreparados vão se importar com a cor da sua pele, sem olhar o brilho dos seus olhos. E por que você tem que se preocupar ou se incomodar com as tolices dos idiotas? “Essa que passa por aí, senhores, de olhos castanhos e fidalgo porte, é a princesa ideal dos meus amores. É a mais franzina pérola do Norte.” O poeta mirou-se nos olhos e no porte fidalgo. Seja você na sua postura, no seu comportamento, porque é aí que está o espelho do seu valor real. Seja e valorize-se no que você é, e não no que os outros gostariam que você fosse. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460