Cotidiano

Greve dos professores completa um mês

Depois de anúncio de corte de ponto dos grevistas e fim de negociações por parte do governo, grevistas querem montar vigília à noite

Os professores da rede estadual de ensino se reuniram ontem na Praça do Centro Cívico, nas proximidades da Assembleia Legislativa, para avaliar e discutir o primeiro mês de greve, completado no dia 10. Durante o final da tarde e início da noite, houve apresentações culturais e exibição de um filme enquanto uma sopa era servida a que estavam no local. A ideia do comando de greve é fazer com que os professores montem uma vigília no período noturno.

As lideranças do movimento afirmam que o objetivo do governo, ao anunciar o fim das negociações e desconto no salário pelos dias de greve, seria enfraquecê-los. “Um governo que só abre as portas para a primeira negociação dez dias depois do início de uma greve é uma indicação de que não quer negociar. Eles ficam veiculando na mídia que é o comando de greve que é intransigente. Mas se não somos atendidos em nenhuma pauta, como eles afirmam que atenderam as 37?”, questionou o professor João Luiz Pereira.

A categoria afirma que se pelo menos cinco reivindicações da pauta fossem acatadas pela gestão estadual, a greve já teria sido encerrada. “Mas eles querem fazer negociação colocando prazo para 2016, 2017 e 2018. Isso é incoerente!”, acrescentou Pereira.

Quanto ao desconto nos salários dos profissionais pelos dias não trabalhados por causa da greve, decisão publicada na imprensa durante a semana, as lideranças afirmam que a iniciativa governamental reforça ainda mais o desejo da categoria de continuar em greve. “Todos nós somos trabalhadores, temos ciência e saúde para resolver esses problemas. Se tivermos um corte nos salários, somos sensatos para fazer outras coisas. Fome ninguém vai passar. Venderemos até carro se for o caso, porque estamos lutando por um benefício futuro, que vai permanecer ao longo da carreira estatutária, e não pelo presente. É isso que o governo não está entendendo. Não seremos vencidos pelo cansaço. Agora é que vamos permanecer mais unidos. Se lutar pelos direitos é ser radical, somos radicais”, disse um dos profissionais que integra o comando de greve.  

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima (Sinter), Ornildo Roberto, o movimento não está enfraquecido e nem dividido em grupos. “As pessoas têm o direito de se expressar, isso é processo democrático. Quem ouve não necessariamente precisa concordar, mas todas as discussões são importantes e isso fortalece a categoria, nos dá mais ânimo e faz refletir a respeito do que foi colocado pelos companheiros”, frisou.

O sindicalista acrescentou que recebeu com tristeza a resposta do governo de que não negociaria mais com os grevistas. “Nós entendemos que no Estado democrático de direito ninguém pode se furtar ao diálogo, que é muito importante, haja vista que, se nós não dialogarmos, com certeza as coisas não caminham. Então, mesmo depois que a governadora disse que não nos atenderia, protocolamos um ofício no Palácio Senador Hélio Campos e vamos protocolar ofícios todos os dias até que nos atenda. Não é fechando as portas que vamos vencer os problemas”, frisou.

Governo fala de intransigência de sindicato e confirma corte de ponto

O Governo do Estado, por meio de nota, afirmou que depois de sete tentativas de negociação, desde o mês de fevereiro, não teve outra alternativa senão se retirar da mesa de negociações, sendo obrigado, por força da Justiça e frente à intransigência do Sinter, em não aceitar nenhum tipo de acordo, nem mesmo o tratado em audiência promovida pelo Tribunal de Justiça.

Conforme frisou, será cumprida a decisão do Tribunal de Justiça, que declarou ser ilegal a greve do Sinter, e será executada a multa estipulada pela Justiça ao sindicato no valor de R$ 10 mil por dia, prazo contado a partir da decisão judicial durante os dias paralisados.

Enquanto a categoria permanecer em greve, o governo afirmou que não pretende sugerir nenhum outro acordo e que, a partir do próximo pagamento salarial, os professores terão descontados os dias em que eles ficarem paralisados.

INDÍGENAS – Ainda na tarde de ontem, ocorreu uma reunião com os professores indígenas no Palácio Senador Hélio Campos para discutir os pontos de pauta reivindicados, uma vez que o texto que trata da educação das comunidades indígenas foi reinserido no Plano Estadual de Educação (PEE), que era uma das exigências do grupo de profissionais pertencentes às etnias constituídas em Roraima.

Mas não houve acordo. Depois de uma reunião marcada por desentendimentos e até bate-boca, as lideranças indígenas se retiraram da sala alegando que foram impedidas de falar e também de gravar o encontro.