Parabólica

Parabolica 23 03 2018 5877

Bom dia,

E mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal (STF) revelou, ontem, a quantas anda essa republiqueta brasileira. Numa tarde inteira, com a abusiva utilização de expressões latinas e um juridiquês incompreensível para a esmagadora maioria da população brasileira os ministros e ministras que compõem aquela Corte Suprema da justiça brasileira deram demonstrações de que temos razão para pensar que estamos no fundo do poço, numa crise de moralidade como nunca na vida nacional.

Primeiro, consumiram mais de seis horas para decidir se queriam julgar dois Habeas Corpus impetrados pela defesa do ex-presidente Lula da Silva (PT) para evitar que o juiz Sérgio Moro o mande para cadeia, se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) julgar seus recursos (Embargos de Declaração), na próxima segunda-feira (26), em Porto Alegre. Caso perca esses recursos –existem fortíssimos indícios que isso vá ocorrer –, o ex-presidente poderia ser mandando para a cadeia no mesmo dia. Pois bem, depois de uma longa e desnecessária discussão, por maioria os ministros decidiram que iriam apreciar os pedidos de Lula.

Quando começaria a discussão sobre o mérito dos pedidos, isto é, se os Habeas Corpus seriam concedidos, o ministro Marco Aurélio de Mello comunicou que estava com embarque marcado dentro de uma hora para voltar ao Rio de Janeiro, e pediu a suspensão da sessão. Foi acompanhado pela maioria de seus colegas que alegaram, entre outras coisas que já estavam cansados àquela hora, e o prolongamento da sessão os deixaria exaustos. A ministra Cármen Lúcia, que presidia a sessão, acatou a decisão da maioria, e disse para a surpresa dos brasileiros e das brasileiras que ela, a sessão, só voltaria a ter continuidade no dia 4 de abril, primeira quarta-feira do mês.

E os ministros tinham pressa para sair logo do STF, e nem mesmo o apelo do ministro-relator Luís Edson Fachin, para que antecipasse seu voto foi suficiente para demovê-los de abandonar o recinto. Sobre o fato de adiar o reinício da votação por 13 dias, um intervalo de tempo muito grande, sobretudo por conta do julgamento de Lula em Porto Alegre, a explicação de Cármen Lúcia foi exemplar e reveladora de como as coisas funcionam na justiça tupiniquim: “Na próxima semana teremos a Páscoa”, disse a ministra, descartando qualquer possibilidade de convocar uma sessão extraordinária para “matar” o assunto. Quem assistia tudo aquilo, saiu pensando que os trabalhadores brasileiros, estão liberados do trabalho na próxima semana para gozar a Páscoa, que ocorre no domingo.

Ao perceber que a maioria dos ministros do STF não queria mais trabalhar, o advogado de Lula da Silva fez requerimento verbal pedindo que fosse concedida uma medida liminar com a finalidade de sustar a prisão de seu cliente até que eles voltassem a apreciar os Habeas Corpus. Embora esse pedido não tenha amparo legal, de novo, por maioria, esse pedido foi aceito pelos ministros, e sendo assim, mesmo que venha ter sua condenação confirmada pelo TRF-4, na segunda-feira, o juiz Sérgio Moro está impedido de decretar a prisão de Lula, pelo menos até o dia 4 de abril.

No triste espetáculo ocorrido na tarde/noite, de ontem, durante a votação dos recursos de Lula da Silva para não ser preso, demonstrou cabalmente, mais uma vez, que o Supremo Tribunal Federal tem uma quase intransponível dificuldade de punir políticos poderosos. Daí a razão pela qual, após mais de quatro anos de Lava Jato, seus ministros não terem julgado qualquer político com privilégio de foro. Viva a impunidade! Está a todo vapor um acordão para estancar a sangria da Lava Jato. Dá vergonha ser brasileiro.

AUSÊNCIASejam quais forem as justificativas dadas, a ausência do deputado federal Hiran Gonçalves, que preside o PP no estado, na reunião do partido – na verdade um ato público –, inclusive com a presença de lideranças nacionais para o pré-lançamento da candidatura da governadora Suely Campos à reeleição, é, sem qualquer dúvida, um ato político muito significativo. Ou Hiran sinaliza que Suely não tem seu apoio, ou faz movimento estratégico para barganhar uma coligação do PP nas coligações das eleições proporcionais que lhe sejam favoráveis, afinal, ele também vai disputar a reeleição.

ENTUSIASMOMuitos políticos apostaram que o pré-lançamento da pré-candidatura à reeleição da governadora Suely Campos fosse marcado pela falta de entusiasmo das bases políticas dos partidos que a apoiam. Um político que esteve na reunião, e veio aqui na Parabólica conversar, se disse impressionado com o clima de otimismo dos políticos presentes – estavam lá, doze deputados estaduais, representantes de nove partidos, seis prefeitos, dois vice-prefeitos, e um deputado federal –, que indicavam um clima de união da base para reeleger Suely Campos. “Eu nunca pensei que existiria um clima de tanto otimismo, e discurso de que é possível daqui para frente, reconstruir um clima político extremamente positivo”, disse o visitante.

SURPRESAOutra pessoa que esteve presente no lançamento da pré-candidatura de Suely Campos disse à Parabólica que uma das maiores surpresas no evento foi a leitura de uma mensagem mandada especialmente para o encontro pelo ex-governador Neudo Campos, dando conta de que os deputados federais Abel Galinha (DEM) e Remídio Monai (PR) estariam dispostos a apoiar a reeleição da governadora. O primeiro, ao que corria nos bastidores da política local, estaria a caminho de apoiar Anchieta Júnior (PSDB), e o partido do segundo parece estar inclinado a fechar apoio à Teresa Surita (PMDB).