Opinião

Opiniao 15 08 2017 4783

Empatia e inclusão em regiões de fronteira – Joelma Fernandes de Oliveira*Viver em Roraima, Estado que faz fronteira com dois países diferentes, Venezuela e República da Guyana, suscita uma imagem de intercâmbio cultural em que é possível experienciar um cotidiano multicultural, haja vista a facilidade de encontrar pessoas de diferentes nacionalidades e etnias. Outra imagem comum é o ir e vir entre os países, já que se trata de uma fronteira: intercambiam-se produtos, serviços e histórias.

No que tange especificamente ao país hispanofalante, essa cena, porém, atualmente, não condiz propriamente com a realidade porque nós, moradores de Roraima, estamos vivendo dias diferentes daqueles aos quais estávamos acostumados. Fomos tirados sem aviso prévio daquele terreno conhecido, fomos afastados do que nos era familiar. Hoje os tempos são outros. A prática de ir ao país vizinho com frequência em busca de comércio barato, turismo ou minério não é mais recorrente porque a Venezuela, por exemplo, motivada por sua crise interna, não apresenta uma proposta convidativa de oferta: seus produtos e serviços sofrem o impacto da desvalorização de sua moeda, desmotivando os brasileiros a atravessarem a fronteira.

Por outro lado, o fluxo de gente de lá para cá tem aumentado – e muito! A turbulência pela qual passa o país em questão favoreceu um movimento de venezuelanos que desejam partir em busca de oportunidades: querem fugir das mazelas oriundas da falta de emprego, da saúde precária, dos problemas do país. Assim, a paisagem do dia a dia no Estado de Roraima é transformada pela acessibilidade que uma região de fronteira oferta e, então, o que se vê é um número bastante expressivo de estrangeiros que passaram a residir em Roraima como um todo, principalmente na Capital Boa Vista.

Nesses termos, intensificou-se a multiplicidade de idiomas ouvidos nessa região. Misturaram-se ainda mais os rostos e as origens. Seria muito interessante, não fossem as condições observadas: pessoas pedem ajuda, comida, emprego. Pessoas diversas, com formações diversificadas, oferecem serviços e, como são estrangeiras, submetem-se como mão de obra barata, em busca de uma solução para sanar suas necessidades básicas de sobrevivência, principalmente a FOME.

Essa questão, dentre outras situações, tem despertado diferentes sentimentos nos brasileiros, sobretudo nos roraimenses. Uns aproveitaram para expor sem pudor a xenofobia que estava guardada. Sem constrangimentos, disferem sua indignação a qualquer forma de acolhimento; sentem-se roubados – do pão ao teto. Outros expressam pesar, entendem o momento de crise pelo qual passa o país vizinho e, assim, empaticamente se colocam no lugar do outro e, portanto, passam a realizar ações para diminuir o sofrimento dos estrangeiros.

A busca dos venezuelanos por melhores condições de vida não tem se efetivado, pelo menos não de imediato, pois o quantitativo de imigrantes é alto. Quem sabe daí venha o registro de vermos uma grande quantidade de pessoas – incluindo crianças muito pequenas – andando pela via pública ou dormindo pelas calçadas de nossa bela Capital Boa Vista. Aos que têm empatia, esse cenário causa dor e comoção. Aos que têm temor da invasão estrangeira, essa situação de miséria e mendicância enfeia a cidade.

Saber das necessidades diversas que esse novo público existente possui no momento não é tarefa apenas de órgãos públicos governamentais, cabe à sociedade como um todo. Existem ações que podem ser pensadas para: 1) mostrar que o estrangeiro não é uma ameaça ao povo roraimense; 2) informar que xenofobia é preconceito; 3) desenvolver atitudes diárias que possam auxiliar numa vivência harmoniosa entre as pessoas; 4) dar possibilidades de os novos moradores movimentarem-se com maior autonomia em nosso país a fim de que eles não sejam explorados ou vivam em situação de miséria.

Visando à inclusão, o Instituto Federal de Roraima, apoiado pela coordenação de Diretoria de Extensão, Programas Especiais e Ações Inclusivas, elaborou e está realizando o curso “Português para Estrangeiros”, no qual eu estou tendo a oportunidade de participar e acompanhar as atividades. O curso está atendendo no momento uma turma com mais de 30 alunos e já está na sua quarta edição. É um lindo trabalho que, de forma gratuita, oportuniza a pessoas de diversos níveis de escolaridade a frequentarem as aulas e se apropriarem da língua portuguesa a fim de angariar uma melhor condição no Brasil.

A turma é bastante diversificada. Há falantes do espanhol e do francês, alguns com pouca formação acadêmica, outros com elevados níveis de conhecimento especializado como Mestre e Doutor em Educação, professores, fisioterapeutas dentre outras formações. Segundo relatos dos próprios alunos, suas especialidades não são reconhecidas por serem eles estrangeiros. Assim, para sobreviver, estão exercendo trabalhos completamente antagônicos à sua área de formação, tais como babás, domésticas e ajudantes de pedreiros. O idioma é um obstáculo que os impede, dentre outras questões, de que eles atuem em suas áreas de formação.

O olhar de gratidão assim como a participação efetiva nas aulas demonstra o quanto ações como essa contribuem para diminuir a marginalização dessas pessoas. Além disso, pela aprendizagem do idioma, sua integração é facilitada. Ademais, abre a possibilidade de que essas pessoas possam se expressar com maior segurança justo em um momento em que passam por situações sociais, financeiras e emocionais delicadas, que por si já fragilizam, mas têm sua carga acentuada devido à distância dos familiares e pelo fato de ter que recomeçar a vida, frente aos desafios impostos pela aprendizagem da língua e da cultura do país em que estão inseridos.

*Professora do Instituto Federal de Roraima- Campus Amajari

Vamos transformar o mundo? – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Os filósofos não fizeram senão interpretar o mundo. Devemos agora é transformá-lo.” (Karl Marx)Jaime Agostinho Agostinho, obrigado pelos e-mails que você nos manda. O último que recebi me transportou à década de sessenta do século passado. Fantástico esse e-mail do carro movido a água. Hoje eu tenho mais de cinco mil artigos no meu arquivo, no computador. Não tenho como localizar o artigo em que me referi a um programa do Sílvio Santos, na televisão, na década dos sessentas em que ele apresentava um mecânico de automóveis. O mecânico apresentava um motor de fusca, movido a água, numa invenção do próprio mecânico.

O programa foi assim: o motor estava no meio do palco, enquanto o mecânico explicava para o Sílvio, como a coisa funcionava. A explicação de então, era a mesma do Roberto, hoje. Não há nenhuma diferença. Mais de cinquenta anos se passaram e nunca mais se ouviu falar do assunto. Até que o Roberto o trouxe, agora, como uma tremenda novidade. Mas há uma explicação. Anos depois, eu trabalhava na Coldex, e um dia, conversando com um engenheiro, lhe falei sobre a esquisitice do silêncio. Ele riu e falou:

– Afonso… Você sabe onde está aquele mecânico? Ele está morando na praia de Guarujá, numa tremenda mansão!

Rimos bastante. Deu pra você ver o que acontece com as grandes invenções. Mas a tradução fica com você. A copa de 1982, eu a assisti pela televisão, lá dentro da mata da Confiança I, no Cantá. Ali eu tinha rádio, luz elétrica de boa qualidade, e televisão. E tudo isso num lugar que não tinha eletricidade. Mas eu tinha um painel solar. Que hoje está, trinta e cinco anos depois, sendo mostrado como uma inovação para a salvação da lavoura. Acho que está na hora de acordarmos e mudar o rumo da história. Devemos dar mais atenção ao pensamento do Conde de Cavour. Vamos valorizar a nossa liberdade e dar mais atenção e respeito à liberdade comercial, industrial e política.

A verdade é que devemos nos valorizar mais e trabalhar para as mudanças que estão engavetadas. E que por isso não mudam nem mudamos. O carro movido a água já deveria estar no arquivo do passado. Ainda bem que o Jaime me alertou para isso. Se um dia eu localizar minha matéria em que falo sobre o programa do Sílvio Santos a enviarei pra você, prometo. Todos nós sabemos que o tabaco é uma droga igual a todas as outras. Mas nenhum poder tem o poder de proibir sua industrialização, e venda. E isso traduz tudo, na hipocrisia das campanhas contra o uso do tabaco. Vamos mudar nosso mundo antes que seja tarde demais. Estamos sobre o monte, com risco de cair. Pense nisso.

*[email protected]