Opinião

Opiniao 08 01 2018 5446

Austeridade porque é preciso – Tom Zé Albuquerque*

Toda crise traz frutos, por mais indegustáveis que sejam, porque expõe os flancos fracos, inconsistentes, frágeis e não administráveis. Historicamente, nunca a gestão pública fora, no Brasil, tão enfatizada, justamente em razão da precariedade de recursos que tem comprometido a prestação de serviços à população, em qualquer esfera.

Para que a sociedade possa usufruir das efetivas ações prestadas pelos entes públicos, far-se-á imprescindível que os gestores tenham uma postura severa para com o trato da coisa pública. Não cabe mais na administração pública brasileira o amadorismo, a tolerância com o erro, a complacência com o desalinho às leis, a predominância do paternalismo que destruiu o patrimônio público brasileiro durante um século inteiro. Os excessivos privilégios no país (nos âmbitos federal, estadual e municipal) e suas ramificações já não mais conseguem se alimentar integralmente da rotineira inércia social de algumas décadas atrás.

Um dos mais bem sucedidos programas de austeridade administrativa tem ocorrido no Estado do Rio Grande do Sul, uma Unidade da Federação das mais ricas do País, mas que por conta da falta de responsabilidade de gestores públicos do passado e também a adoção de modelo de gerir imprevidente causou um estrago inacreditável naquele referenciado Estado. Problemas similares têm ocorrido com frequência no país, especialmente em municípios, todos culminados pela falta de gestão, ora por incompetência de profissionais sem formação ou sem expertise para o cargo, ora pelo descaso do gestor público para com o patrimônio da população, fator este de origem cultural e, pois, difícil de remover.

Ser rígido com a coisa pública (tal qual tem acontecido no Rio Grande do Sul), carece de profissionalização da gestão; renegociação de dívidas; aplicação de celeridade e transparência com regra imutável e inabalável para os dados e informações públicos; adoção de sistema de mediação e conciliação de receitas; atualização do sistema tributário pela implantação de mais controle, menos punição e supressão de benefícios que deterioram a capacidade financeira do ente; enxugamento de secretarias e, por conseguinte, de servidores não concursados; definição de critérios imparciais e meritocráticos na montagem de comissões de licitações; implantação de isonomia previdenciária; otimização no uso dos prédios públicos; uso amplo da tecnologia da informação por base nos princípios da eficiência e da economicidade; e tantos outros de igual importância.

Para tanto, é preciso ao homem público ousadia, zelo, probidade e contundência no agir, no desprendimento em formatar suas ações e, em suma, coragem para executar serviços em prol da coletividade, mesmo que estejamos inseridos numa sociedade farta de analfabetos funcionais e passiva em exigir seus direitos. Gerir com responsabilidade a coisa pública é obrigação visceral.

*Administrador

Eu fui à Venezuela… E não voltei – Alexandre Lima*

Saí de Manaus cheio de sonhos, querendo observar e aprender tudo pelo caminho. O olhar geográfico e crítico já me são peculiar, e para este sim, a viagem foi um prato cheio.

Vi na altitude de Pacaraima uma precária fronteira, onde brasileiros esperam horas na fila, sob sol e chuva, um visto de entrada no país vizinho, que só virá rápido perante uma propina.

Logo na entrada me deparei com uma “Santa Helena” que parece parada no tempo, não evoluiu e já sofre com a diminuição de turistas por lá, uma vez que os preços não atraem ninguém. Las Claritas é um “velho oeste” do século XXI, cidade garimpeira onde todos são a lei. Em Guasipati o ônibus parou para abastecer, quase de graça, e onde meu olhar alcançou, viu pobreza e gente mendigando, seguimos…

Em Upata pudemos comer, em uma “panaderia” havia pão com Ramon e Queijo…, para nós. Para os venezuelanos não havia pão. Pegamos uma autopista de dar inveja por sua organização de tráfego e asfalto impecável. Passamos por uma floresta de pinhais e o prof. aqui ficou pasmo com a beleza.

Chegamos à grande Barcelona, passamos rapidamente e vi barracos encravados em suas serras e pobreza em suas ruas. Chegamos atrasados em Puerto La Cruz, perdemos o ferry… Ponto pra mim que desfrutei uma noite na linda cidade, que infelizmente está tomada por miséria e insegurança… Então olhei tudo da frente do hotel.

Margarita me surpreendeu pelo tamanho e me desiludiu por seus preços. A lenda de coisas muito baratas não era real, mas suas belezas naturais eram de fato exuberantes e resolvi aproveitar da melhor maneira possível.

No entanto a situação das pessoas é tão tocante que a “naturaleza” fica em segundo plano. Os motoristas que conduziam os dois ônibus de nossa excursão nos contavam relatos que nos partiam a alma… “Salário de 38 Reais”. “Três dias de fome semanal pra poder alimentar os filhos”… “calça de trabalho emprestada porque não tem como comprar uma pelo valor de seus insignificantes salários”… Eles conquistaram com suas simpatias e comoveram com suas realidades. O grupo ficou tão emocionado que já há empregos dignos esperando ambos em Manaus.

O Alexandre Lima que foi à Venezuela não voltou… Se modificou com as lágrimas de Johnny ao ver minha esposa dar um “papito” (Melitos) ao seu pequeno filho. O Alexandre se deparou com a realidade ao ver Ecktor chorando ao ganhar 1kg de farinha que levei. No porto, na hora do regresso, ambos fizeram questão de ir se despedir… “Foram os dias que mais comemos”… “Quero ir ao Brasil para trabalhar nem que seja limpando o chão”, disse o motorista com nível superior… “Alexssander, ajudame”, foi sua frase de adeus, impossível não chorar.

A volta foi silenciosa, um pouco de mim ficou por lá… O silêncio da savana e o Monte Roraima escondido entre as nuvens simbolizavam o dor do povo venezuelano que clama não só por socorro, mas principalmente por comida neste primeiro momento, pois perderam seus empregos, sua alegria, sua dignidade só lhes resta a esperança.

E eu? Bem, vou dar mais valor a cada dia de trabalho e a cada prato de comida.

*Professor Manauara

A oposição na Venezuela, qual o caminho? (Parte I) – Ranior Almeida Viana*

Escrevi este texto em duas partes, respeitando os caracteres que me cabem. Qual o papel da oposição em um Estado Democrático? Abordaremos a seguir quais foram os passos tomados pela oposição até chegar ao ápice da crise no país vizinho.

As frentes opositoras venezuelanas coabitam duas formas de enfrentar Maduro, e uma conseguiu se sobrepor à outra momentaneamente: elas se resumem na via rápida e na via eleitoral.

Em meados de 2014, o ex-prefeito Leopoldo López, o então prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, e María Corina Machado, que na época era deputada, impuseram a chamada Saída, que terminou com mais de 40 mortos.

López e Ledezma terminaram na prisão, o que significou uma derrota política da via rápida para a saída do presidente, era evidente que pretendiam provocar um pronunciamento militar.

No ano de 2015, foi retomada a via eleitoral, e a Mesa de União Democrática (MUD), uma aliança perfeita, conseguiu no final daquele ano conquistar dois terços da Assembleia Nacional, o que reforçou o caminho eleitoral como o ideal para acabar com o governo de Nicolás Maduro.

Porém, paradoxalmente, houve um erro de cálculo dos homens de frente da oposição, que começaram a contar com hipótese que acertariam em suas decisões e puseram suas aspirações particulares acima de uma estratégia comum para alcançar seu fim.

A desunião que se materializou quando foram propostas quatro alternativas para desalojar Maduro do Palácio de Miraflores: a renúncia, a revogação, uma Assembleia Constituinte e uma emenda constitucional que reduzisse seu mandato.

No fim, a convocação de um referendo para revogar o mandato do presidente foi a alternativa que todos apoiaram e que o governo impediu, por meio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e de vários tribunais.

O presidente Maduro se negou a organizar as eleições para governadores, que deveriam ocorrer em 2016, o que levou uma parte importante dos venezuelanos a questionar novamente a opção eleitoral.

O fracasso político fez a Mesa de União Democrática perder força, pois ficou sem resposta diante da suspensão da consulta popular. Ao mesmo tempo, participou de um diálogo ao qual chegou sem estratégia clara e sem acordo entre os principais partidos de oposição, gerando mais frustração entre seus eleitores.

PS. Continua na próxima a Parte II deste texto.

*Licenciado em Sociologia – UERR, Bacharel em Ciências Sociais – [email protected]

Novas veredas – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O que o homem superior procura está nele mesmo. O que o homem inferior procura, está nos outros.” (Confúcio)

Iniciamos mais uma caminhada que percorreremos em trezentos e sessenta e cinco dias. Mas já aprendemos a caminhar. Os tropeços que virão serão reprises de velhos desencontros. Ainda não aprendemos o suficiente para saber em que grupo estamos: se no dos positivos ou no dos negativos. Então vamos aproveitar a nova caminhada para prestar mais atenção a isso. O que você procura, tanto pode estar em você como nos outros; dependendo do seu modo de pensar, de acordo com seu grau de evolução racional. Mas enquanto você continuar procurando o que você quer, nos outros, vai continuar dependendo do sapo da Alice.

Tudo de que você necessita está em você. É só você manter o equilíbrio, enquanto estiver na corda bamba. Procure ser feliz fazendo com que as outras pessoas sintam-se felizes com sua presença. Mas, cuidado com o desmando em que a nossa cultura está naufragando. Cuidado com o exagero. Este está tornando as veredas mais ínvias. Aprendemos com as Relações Humanas, que devemos sempre elogiar alguém. Não há quem não goste de um elogio. Mas este tem que ser sincero e educado. O que faz de nós pessoas dignas, quando elogiamos. Mas a grosseria do preconceito está nos impedindo de sermos educados.

Maneire na conversa, tenha cuidado com o exagero doentio no entender o que é um assédio sexual. Sempre adorei elogiar as pessoas. Há sempre o que se elogiar. Sempre. Mas dia desses estive numa clínica, para fazer um exame simples. O atendimento foi excelente. A atendente era uma mulher bonita, educada e usava um par de óculos que tinha tudo com o estilo dela. Terminado o atendimento fiquei parado, querendo elogiar seu estilo na combinação dos óculos. E foi aí que temi que meu elogio fosse confundido com um assédio sexual. Pode parecer tolice minha, mas não é. A banalidade está tomando conta da nossa cultura. Então vamos fazer alguma coisa, no ano que se inicia, para começar a corrigir essa distorção. Nosso crescimento vai depender de cada um de nós.

Vamos dar menos crédito e atenção às futilidades que estão dificultando nossa caminhada pelas veredas da vida, que devem ser percorridas sem entraves. Sigamos o exemplo do “Lobinho Raimundinho”. Vamos aprender a “pulápu riba”. Não permitamos que os obstáculos que virão em 2018 nos impeçam de alcançar o nível de desenvolvimento racional que nos cabe alcançar. Tudo de que necessitamos para ser feliz está à nossa vota e nas coisas mais simples. Não deixe de elogiar, mas com sinceridade e educação. Pense nisso.

*[email protected]