Jessé Souza

Facamos um trato entao 4438

Façamos um trato, entãoOkay, vamos combinar e parar de vez com essa cobrança paranoica de paneleiros e panelaços, do patinho amarelo, da camisa da Seleção desbotada pelos 7 a 1 da Alemanha. Vamos pôr um ponto final nessa insistência de que foi golpe, de que foi um atentado à democracia.

Vamos esquecer também os mensalinhos e mensalões, assim como deletamos os anões do orçamento de nossa memória, os presepeiros de toda espécie, os fantasmas, os laranjas, enfim, toda a fauna que desfila nesse lodo que se chama política partidária. Também vamos esquecer esse negócio de triplex, pedalinhos e propinodutos.

Aliás, é bom pôr uma pedra em cima da mala de dinheiro, das gravações, das delações premiadas, das prisões dos altos canastrões, das esposas comprando milhões em joias e movimentando muita grana em contas no exterior. Enfim, esquecer esse negócio de Lava Jato.

Aproveitando a música do RPM da década de 1980, vamos colocar no esquecimento também o caso Sudam, Maluf, Lalau, Barbalho, Sarney, deixando tudo como está, ou seja, apenas uma música cantada da boca pra fora, reconstruindo uma nova letra que faça valer os dias atuais de injustiça e impunidade.

Afinal, o RPM já dizia, em sua Alvorada Voraz, que o que vale é a propaganda, pois nesse país é o dinheiro que manda, juram que não corrompem ninguém, agem assim pro seu próprio bem. Canta quem quer e relembra quem viveu esperando a democracia desabrochar.

Mas vamos esquecer também que a Globo é quem manda e desmanda no país, que pega bilhões e sonega milhões nesse jogo sujo de tira-e-bota presidente, de fingir que é notícia importante, mas que na verdade é apenas parte desse processo de ludibriar aqueles que nem sabem votar, como já dizia Pelé.

Coloquemos no esquecimento toda essa conjuntura que retira direitos dos trabalhadores, dificulta aposentadoria e nega recursos para saúde, educação e segurança por longos 20 anos. Educação pra quê mesmo, se vamos continuar conduzindo os mesmos canastrões a cada dois anos?

Façamos o trato de esquecer tudo, de ligar a TV e fingir que estamos nos informando sobre coisas importantes (nada de Friboi), mas estamos apenas reproduzindo tudo aquilo que nós mesmos criamos, um Frankenstein chamado Brasil, grande, trapalhão, sem memória, sem juízo, remendado a cuspe.

Vamos apagar tudo aquilo que vimos, do dinheiro na cueca do deputado à grana jorrando das bombas da Petrobrás, passando pelos bilhões do BNDES para financiar os ricos que querem ficar milionários. E vamos ficar na nossa insignificância que eles sempre quiseram. E o último que sair que apague a luz…

*[email protected]: www.roraimadefato.com.br