DESCANSAR É SAÚDE!

Você também sente culpa por descansar? Bem-vindo à geração que não sabe relaxar

Produtividade tóxica, carga mental e a sensação constante de que nunca é suficiente: o descanso virou mais um item da lista de tarefas — e não um direito básico

Homem pensativo (Foto: Pixabay)
Homem pensativo (Foto: Pixabay)

É sábado, você finalmente tem um tempo livre. Sem reuniões, sem prazos, sem e-mails urgentes. Mas, mesmo assim, ao deitar no sofá ou recusar um convite para “produzir alguma coisa”, surge aquela sensação incômoda: a culpa por não estar fazendo nada.
Essa culpa, embora silenciosa, se tornou parte da rotina de uma geração que cresceu acreditando que produtividade é sinônimo de valor pessoal. E agora, mesmo quando o corpo pede descanso, a mente cobra resultado.

A cultura do ‘fazer sempre mais’

A chamada produtividade tóxica é uma distorção moderna da busca por eficiência. Mais do que trabalhar duro, ela exige estar constantemente ocupado — estudando, empreendendo, se reinventando. O problema? Esse ritmo constante não só esgota o corpo, como alimenta uma culpa crônica por qualquer pausa.

“A gente aprendeu que descansar é perder tempo, que lazer é luxo. Isso nos distancia da nossa própria saúde mental”, afirma a psicóloga Carolina Muniz, especialista em comportamento contemporâneo.

Segundo ela, há uma romantização do cansaço e uma pressão coletiva para transformar até o ócio em performance — seja exibindo uma rotina “perfeita” no Instagram ou sentindo que o descanso precisa ser “merecido”.

O fim de semana que não descansa ninguém

Sábados e domingos, que antes simbolizavam pausa e recuperação, hoje parecem apenas uma extensão do trabalho invisível. Mesmo quem está “de folga” frequentemente está cuidando da casa, resolvendo pendências acumuladas ou sentindo que deveria estar sendo “mais útil”.

Além disso, há a carga mental invisível, especialmente sobre mulheres, que seguem sendo responsáveis por organizar, antecipar e pensar por todos — mesmo quando aparentemente estão descansando.

Dados que explicam o cansaço coletivo

Um estudo publicado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em parceria com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) revelou que o excesso de trabalho está ligado a mais de 745 mil mortes por doenças cardíacas e AVC todos os anos.

No Brasil, segundo uma pesquisa da Isma-BR (International Stress Management Association), cerca de 70% dos trabalhadores sofrem de estresse e 32% apresentam sintomas de burnout.

E o mais alarmante: descansar virou motivo de culpa para 6 em cada 10 jovens brasileiros, de acordo com levantamento feito pelo LinkedIn em 2024. Entre os principais motivos apontados estão “medo de ficar para trás” e “sensação de improdutividade”.

Descanso não é luxo — é saúde

Desaprender essa lógica não é simples, mas é necessário. O descanso genuíno — aquele sem culpa, sem metas e sem cobranças — é parte essencial do equilíbrio emocional e físico. Sem ele, não há produtividade sustentável. Só exaustão.

“A ideia de que só somos valiosos quando estamos produzindo precisa ser questionada. O ócio, o lazer e até o tédio fazem parte do nosso bem-estar psíquico”, explica a psicóloga.

Como começar a mudar isso?

Algumas práticas simples podem ajudar:

  • Desconectar intencionalmente das redes e do trabalho nos fins de semana.
  • Reaprender o ócio, incluindo momentos sem tela, sem propósito e sem culpa.
  • Estabelecer limites claros entre tempo produtivo e tempo de descanso.
  • Normalizar o não fazer nada — sem se justificar ou sentir vergonha.
  • E, acima de tudo, lembrar que você não precisa se provar o tempo todo.

O direito de parar

Descansar não é preguiça. Desacelerar não é fracasso. E se você sente culpa por isso, não está sozinho — mas está, talvez, precisando (e merecendo) parar.

Porque enquanto a sociedade continuar confundindo valor com produtividade, seguiremos exaustos. E o que devia ser alívio no fim de semana continuará sendo mais uma cobrança invisível.

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