Em uma sociedade acelerada, dormir bem tem se tornado quase um privilégio. Segundo dados da Associação Brasileira do Sono (ABS), cerca de 73 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de distúrbio relacionado ao sono. As queixas mais comuns incluem insônia, dificuldade para relaxar à noite e sonolência excessiva durante o dia. Mas afinal, o que está por trás dessa epidemia silenciosa de noites mal dormidas?
Entre os principais vilões estão três fatores aparentemente banais, mas profundamente conectados: ansiedade, cafeína e o uso excessivo de dispositivos eletrônicos antes de dormir. Juntos, eles formam um ciclo nocivo que afeta não apenas o sono, mas a saúde física e mental como um todo.
Ansiedade: o travesseiro vira palco de preocupações
A ansiedade está entre as causas mais citadas por quem relata noites agitadas. “O excesso de estímulo mental durante o dia e a dificuldade de ‘desligar’ à noite fazem com que o cérebro permaneça em estado de alerta, mesmo quando o corpo está exausto”, explica a neurologista e especialista em medicina do sono, Dra. Camila Rios.
Pensamentos acelerados, preocupações financeiras, problemas no trabalho e até a cobrança por produtividade impactam diretamente a qualidade do sono. “Dormir bem exige uma desaceleração progressiva. Se a mente continua ativa, o sono se torna superficial ou não vem”, completa.
Cafeína: o inimigo disfarçado
Se por um lado o café é companheiro fiel de manhãs produtivas, por outro pode ser um sabotador do descanso. A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central e sua meia-vida no organismo pode durar até 6 horas — ou mais, dependendo da sensibilidade individual.
“Tomar café no fim da tarde, mesmo sem perceber efeitos imediatos, pode atrasar a produção de melatonina, o hormônio que induz o sono”, alerta a nutricionista funcional Carla Moura. Além do café, outros vilões escondidos são refrigerantes à base de cola, chás escuros e chocolates, muitas vezes consumidos no período noturno.
Telas e luz azul: o impacto silencioso da tecnologia
Mais de 80% dos brasileiros usam o celular ou assistem TV até poucos minutos antes de dormir, segundo pesquisa do Instituto do Sono. O problema não é só a distração, mas o efeito fisiológico da luz azul emitida por telas de smartphones, tablets e notebooks, que inibe a produção de melatonina.
“Esse tipo de luz sinaliza ao cérebro que ainda é dia, confundindo o ritmo biológico e atrasando o início do sono profundo”, explica a neurocientista Mariana Fontes. Além disso, o conteúdo consumido — notícias, redes sociais, vídeos rápidos — tende a manter a mente em estado de alerta.
Como dormir melhor? A importância da higiene do sono
Para combater os vilões modernos do sono, especialistas recomendam adotar uma rotina de higiene do sono — conjunto de práticas simples que ajudam o corpo e a mente a se prepararem para o descanso.
Veja algumas estratégias eficazes:
Crie uma rotina de horários: tente dormir e acordar sempre nos mesmos horários, inclusive nos fins de semana.
Evite cafeína após as 15h: e fique atento a alimentos com cafeína escondida.
Desconecte-se ao menos 1 hora antes de dormir: troque as telas por leitura leve, meditação ou música relaxante.
Cuide do ambiente: prefira quartos escuros, silenciosos e com temperatura agradável.
Pratique exercícios físicos com regularidade: mas evite atividades intensas muito tarde.
Evite discussões ou trabalho logo antes de deitar: reserve esse momento para atividades calmas.
Dormir bem é questão de saúde
O sono de qualidade é fundamental para regular emoções, manter o sistema imunológico fortalecido, melhorar a memória e evitar doenças crônicas. Não é luxo nem perda de tempo — é necessidade biológica.
“Dormir bem deveria ser tratado com a mesma seriedade que alimentação e atividade física. A privação do sono tem impacto direto sobre ansiedade, obesidade, hipertensão e até depressão”, reforça a Dra. Camila Rios.
Neste fim de semana, que tal fazer um teste? Reduza o café, evite telas à noite e estabeleça uma rotina relaxante. Seu corpo vai agradecer — e seus sonhos também.
