SAÚDE MENTAL

Roraima tem mais de 800 tentativas de suicídio em um ano e demora por atendimento psicológico é criticada

Além do aumento de casos entre adolescentes e jovens, houve crescimento de mortes de lesões autoprovocadas desde 2019

Somente em 2023 foram 819 casos de suicídio registrados no estado, sendo 663 na capital, Boa Vista. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Somente em 2023 foram 819 casos de suicídio registrados no estado, sendo 663 na capital, Boa Vista. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

O estado de Roraima registrou mais de 3 mil tentativas de suicídio nos últimos cinco anos. Somente em 2023 foram 819 casos registrados no estado, sendo 663 na capital, Boa Vista. Os dados são da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde, solicitados pela FolhaBV à Secretária Estadual de Saúde (Sesau).

Além do aumento de casos entre adolescentes e jovens, houve crescimento de mortes de lesões autoprovocadas desde 2019. De acordo com o levantamento, o estado registrou queda no ano da pandemia, em 2020, saindo de 707 casos de autolesão para 422. Nos anos seguintes, aumentou para 522 (em 2021) e 680 (em 2022).

De 2019 a 2023, os maiores números de casos aconteceram em Boa Vista, que totalizou 2.342 tentativas de suicídio; Rorainópolis com 254, e Caracaraí e Mucajaí, com 102 e 101.

Demora no atendimento psicológico é alvo de crítica

Mesmo com o alto número de tentativas de suicídio nos últimos cinco anos, as pessoas que sofrem com transtornos mentais procuram ajuda sempre que necessitam. No entanto, o serviço público estaria deixando a desejar quando, ao tentar atendimento, a população não consegue o suporte.

“Eu desisti de ir [procurar ajuda], demora muito. Falei que eu queria uma psicóloga para poder conversar porque estava com depressão e pensava em suicídio. Vieram me mandar mensagem depois de quase dois meses”,

contou um ex-usuário do Centro de Atenção Psicossocial III (CAPS III), que terá a identificação protegida.

O jovem ainda relatou que, ao longo dos anos em que pediu suporte no CAPS, houveram momentos em que não havia profissional, tendo que deixar o nome em uma longa lista para atendimento, além da falta de cuidado dos profissionais. “Às vezes a pessoa chegava lá em crise, falando dos problemas e eles só atendiam mesmo quando fazia um escândalo. Eu larguei de mão, [porque] a gente vai lá para poder procurar ajuda e não recebe”, completou.

Atendimento pelo CAPS III

CAPS III está localizado na avenida Ene Garcês, 497, no Centro de Boa Vista. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Gerido pelo governo do Estado, o CAPS III atende pacientes com intenso sofrimento psíquico a partir de 13 anos. Conforme o Departamento de Políticas de Saúde Mental, órgão subordinado à Coordenadoria Geral de Assistência Especializada da Sesau, o acolhimento inicial é realizado no momento da busca pelo serviço pelo paciente.

“Não necessita de agendamento prévio. As demais ofertas de cuidados para as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes serão agendadas conforme a necessidade de cada paciente e vagas disponíveis […] Realizando atendimento tanto por demanda espontânea ou através de encaminhamento de outros pontos da rede inter e intrasetorial (Rede de Saúde, Assistência Social, Educação, Justiça, entre outros)”

informou o Departamento.

O Estado ainda disponibiliza 11 leitos de saúde mental habilitados pelo Ministério da Saúde no Hospital Geral de Roraima (HGR). Segundo o Departamento de Políticas de Saúde Mental, os casos de urgência e emergência são admitidos na unidade e permanecem até estabilidade clínica. “Após a alta o paciente e/ou familiar receberá um encaminhamento para continuidade do tratamento nos demais pontos de atenção existentes no Estado que compõem a Rede de Atenção Psicossocial”, explicou.

Suporte pelo CAPS II

CAPS II está localizado na rua Pavão, 295, no bairro Mecejana. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Quem tem menos de 13 anos é atendido no Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II), gerido pelo município. Segundo a Secretária Municipal de Saúde, os atendimentos no Centro acontecem no mesmo dia, sendo as vagas de emergência são prioridade. Em caso de ajuda pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), Hospital da Criança ou outra unidade, o paciente é acolhido e o atendimento é realizado na hora, com ou sem encaminhamento.

“O paciente pode chegar ao CAPS II sem encaminhamento para receber o acolhimento necessário. Se o caso for grave e persistente, abre-se o prontuário na unidade para acompanhamento. Sendo um paciente de caso leve ou moderado, ele é encaminhado para outros pontos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), como as UBS ou o Hospital Coronel Mota”, explicou a Secretaria.