Originário da Amazônia, o jambu (Acmella oleracea) é uma hortaliça conhecida pelo efeito característico: um leve formigamento na boca. Presente na culinária regional e na medicina tradicional, a planta combina baixo valor calórico com alto valor nutricional, sendo fonte de fibras, vitamina C, ferro, potássio e antioxidantes como flavonoides e saponinas.
Na mesa dos amazônidas, o jambu aparece em pratos icônicos como o tacacá e o pato no tucupi, mas também ganha espaço em saladas, pizzas e até em bebidas, como a famosa cachaça de jambu. Além do sabor único, a planta carrega propriedades digestivas, analgésicas, antissépticas e diuréticas.
Compostos ativos e potenciais medicinais
O espilantol, composto ativo do jambu, é uma alquilamida responsável pelo efeito anestésico e pela estimulação da salivação. Estudos apontam que a substância possui propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas, com potenciais benefícios na redução de dores, infecções bucais, ansiedade e até na melhora da memória.
Uso popular e riqueza agronômica
Por séculos, comunidades indígenas e ribeirinhas empregaram o jambu para aliviar dores de dente, tratar aftas, herpes labial e distúrbios digestivos. Apesar disso, a ciência ainda carece de estudos mais aprofundados sobre seu cultivo, especialmente em relação a práticas de adubação, rendimento agrícola e manejo sustentável.
Pesquisas em bioinovação científica
Na Universidade Federal do Pará (UFPA), o Laboratório de Tecnologia Supercrítica (Labtecs) desenvolve, desde 2019, produtos inovadores à base de jambu. Entre as criações estão filmes orodispersíveis para pacientes com câncer, cremes antienvelhecimento, lubrificantes íntimos com efeito estimulante e enxaguantes bucais sem álcool.
No Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, também da UFPA, pesquisas confirmam cientificamente efeitos já conhecidos na cultura popular: o espilantol interage com receptores nervosos, aliviando temporariamente a dor, melhorando a circulação, reduzindo inflamações e podendo beneficiar o sistema cardiovascular.
Oportunidade e desafios
A versatilidade do jambu coloca a planta no centro da bioeconomia amazônica, com potencial de atuação em diferentes cadeias produtivas: da alimentação funcional aos cosméticos e à farmacêutica. O desafio, segundo especialistas, está em ampliar a produção agrícola com sustentabilidade, garantindo retorno econômico sem comprometer a biodiversidade.
Tacacá, sabor e benefícios de um patrimônio amazônico
O tacacá é um dos pratos mais emblemáticos da culinária amazônica, preparado com tucupi (caldo extraído da mandioca brava), goma de tapioca, camarão seco e folhas de jambu. Além de sua importância cultural e identitária, a receita também traz benefícios à saúde:
Efeito estimulante: o jambu provoca leve dormência e ativa a circulação, tornando a experiência sensorial única.
Fonte de energia: a goma de tapioca fornece carboidratos de fácil digestão.
Rico em minerais: o tucupi concentra nutrientes da mandioca, enquanto o camarão seco é fonte de cálcio e proteínas.
Propriedades funcionais: os compostos bioativos do jambu contribuem para a ação antioxidante e anti-inflamatória do prato.
Mais do que alimento, o tacacá simboliza a fusão entre tradição indígena e identidade amazônica, um elo entre saberes ancestrais e práticas gastronômicas contemporâneas.