Fiscalização encontra até barata na comida servida no HGR

Apesar das inúmeras denúncias, a empresa Meiodia Refeições Industriais continua servindo alimentos em condições inapropriadas para pacientes, acompanhantes e servidores das unidades de saúde do Estado. Em relatórios a que a Folha teve acesso, o nutricionista que fiscaliza o contrato no Hospital Geral de Roraima – HGR, relata ter encontrado até barata nas hot-boxes (caixas térmicas) onde são acondicionadas as refeições, e no refeitório do hospital.

No Ofício nº 51/2023, enviado à Coordenadoria Geral de Administração da Secretaria Estadual de Saúde – Sesau, no último dia 14 de março, o nutricionista Rodrigo Coutinho Silveira, encaminha os relatórios de fiscalização da alimentação servida durante o mês de fevereiro no HGR.

No documento, relata que a empresa continua a apresentar falhas graves de armazenamento, preparo, manipulação e distribuição dos alimentos, além da falta de organização e higiene ambiental; a falta de equipamentos e utensílios adequados e uma equipe de colaboradores em quantidade insuficiente, destreinada e sobrecarregada.

“Sendo assim, mantenho o posicionamento para a suspensão do contrato com atual empresa devido a sua total incompetência técnica e financeira de exercer adequadamente o serviço contratado, causando enormes riscos à saúde de pacientes e servidores das unidades de saúde do estado”, afirma.

Ainda no ofício, o nutricionista lembra que houve fiscalização por parte do Departamento Estadual de Vigilância Sanitária, em conjunto com Departamento de Vigilância Sanitária Municipal de Boa Vista, na Cozinha Central da empresa MeioDia, conforme consta no processo 20101.012309/2023.16, “quando foram apontadas falhas estruturais que reforçam os problemas pontuados nos relatórios dos meses anteriores e que se mantiveram no mês de fevereiro”.

Reclamações

São inúmeras as reclamações apontadas diariamente pela fiscalização, como atraso constante de mais de meia hora na entrega das refeições; pouca comida; suco entregue em copos menores que a quantidade prevista no contrato; alimentos na consistência inadequada para algumas dietas; salada azeda; problemas na conservação dos alimentos, que chegam em temperatura abaixo do exigido; sujeira no piso, no container e nos utensílios onde são manipulados os alimentos; lixo e mau cheiro no refeitório, falta de copeiras; trabalhadores da empresa manipulando os alimentos sem utilizar luvas e toucas, além de garrafas térmicas mal higienizadas e exalando odores no momento de servir o lanche aos pacientes.

De acordo com os documentos da fiscalização, o contêiner preparado pela empresa para servir de copa não apresenta a mínima condição para a confecção de sucos e mingaus.

“Só há um liquidificador para ser utilizado e esse equipamento está apresentando vazamento, sujando todo o ambiente durante a sua utilização. Não há filtro e a água utilizada é direto da torneira. Por fim, o único equipamento de refrigeração (balcão refrigerado) está com problemas de vedação nas portas, prejudicando o armazenamento adequado dos alimentos e preparações que necessitam ficar sob controle térmico”, detalha o relatório.

Problemas recorrentes

Nas fiscalizações realizadas em dezembro do ano passado e janeiro deste ano, foram encontradas nas marmitas larva, unha postiça e até grampo. Agora, chama a atenção as baratas pelo refeitório, mesmo após a desinsetização realizada pela empresa, e nas caixas térmicas que acondicionam a comida, e que são chamadas de hot-boxes.

O inseto foi encontrado no dia 10 de fevereiro na hot-box que continha as dietas especiais para o jantar dos pacientes do HGR. Nesse mesmo dia, foi flagrada uma embalagem violada com pães, “provavelmente ocasionada pelos gatos que adentram o contêiner onde eles ficam armazenados”, diz o relatório.

Contrato milionário

A Meio-Dia foi contratada pela Sesau para fornecer alimentos para pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde, pelo valor de R$ 35 milhões, mesmo após a empresa ter sido penalizada no ano passado pelo ex-secretário de Saúde, Leocádio Vasconcelos, determinando a suspensão temporária de participar de licitações; impedimento de contratar com a Sesau; descredenciamento junto ao Sicaf e declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Sesau, pelo prazo de dois anos.

A empresa recorreu da decisão e o pedido continua pendente de julgamento na Casa Civil do Governo de Roraima, o que permitiu que ela fosse novamente beneficiada pela Sesau, fornecendo alimentos em condições inadequadas para os doentes de Roraima.

Outro lado

Ao ser questionada sobre o assunto, a Sesau emitiu a seguinte nota:

A Secretaria de Saúde informa que tem prestado todos os esclarecimentos aos órgãos de fiscalização e controle quanto às irregularidades envolvendo a Meio-Dia Refeições.

Esclarece ainda que respeitou todos os trâmites estabelecidos em contrato, para que a empresa pudesse atender as demandas das unidades da rede estadual de saúde, em caráter de urgência, e que inclusive solicitou que a referida reforçasse as práticas de preparo, acondicionamento e envio de alimentos, conforme recomendação do Tribunal de Contas do Estado de Roraima.

Vale destacar que de todas as unidades, a única que não houve 100% do atendimento foi o Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento.

Logo que tomou conhecimento das denúncias, a pasta adotou todas as providências cabíveis, inclusive dispensou a empresa em questão por descumprimento do licitado e todas as cautelas de higiene exigidas pela Vigilância Sanitária. Atualmente, a questão segue fase recursal para a devida finalização de vínculo contratual.

A Sesau pontua que sempre teve como premissa a preocupação com o bem-estar dos servidores e dos usuários que recorrem aos serviços das unidades, e que fará o acionamento  da segunda colocada no processo licitatório, a fim de manter a prestação do serviço.