
Pesquisadores da Fiocruz Bahia, em parceria com o Ministério da Saúde, iniciaram um estudo pioneiro que poderá representar um avanço significativo na prevenção de leucemia no país. O objetivo é avaliar se o dolutegravir, medicamento usado no tratamento do HIV, pode evitar que gestantes infectadas pelo vírus HTLV-1 transmitam a infecção aos filhos, um dos fatores que desencadeia casos de leucemia e de mielopatia.
O HTLV-1 (vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1) afeta as células do sistema imunológico e está associado a doenças graves, como leucemia e mielopatia, além de aumentar a vulnerabilidade a outras infecções. Ele pode ser transmitido sexualmente, ou de mãe para filho, principalmente pela amamentação.
A testagem de gestantes é obrigatória no pré-natal e mães com resultado positivo são aconselhadas a não amamentar. No entanto, como há um risco residual nas gestantes ou no parto, o estudo busca preencher essa lacuna de prevenção. Se for comprovada eficácia, esta será a primeira intervenção farmacológica do mundo com esse propósito.
Além disso, o resultado poderá servir de base para novos protocolos nacionais, ajudando o Brasil a alcançar a meta da Organização Pan-Americana da Saúde, que é eliminar a transmissão vertical do HTLV-1 até 2030.
Entenda como será feita a pesquisa
Conforme as informações divulgadas no portal Agência Brasil, o estudo acompanhará 516 gestantes com HTLV-1 a partir da 24ª semana de gestação até o parto. Após o nascimento, os recém-nascidos continuarão recebendo o tratamento por 28 dias. Esse grupo será comparado com outro grupo-controle, que seguirá apenas a recomendação já vigente de não amamentação para mães HTLV positivas.
Segundo a pesquisa, todos os pares de mãe e filho participantes serão monitorados até os 18 meses de idade, para verificar se o remédio reduz infecções ocorridas durante gestação ou parto, situações estimadas em cerca de 5% dos casos de transmissão vertical.
Vale ressaltar que o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que entre 2023 e 2025 haja 11.540 novos casos de leucemia por ano no Brasil. Em 2020, ocorreram aproximadamente 6.738 mortes pela doença no Brasil, segundo dados do INCA, o que corresponde a uma taxa de mortalidade de cerca de 3,18 por 100.000 habitantes.
Caso o estudo confirme que o medicamento dolutegravir reduz ou elimina as infecções verticais de HTLV-1, a adoção da medida representará uma nova ferramenta para prevenção primária de leucemias associadas ao vírus, com redução de custos futuros de tratamento, melhoria da qualidade de vida de crianças expostas e suas famílias, além de aliviar a carga do sistema de saúde.
Além disso, o estudo também reforça a importância de diagnóstico precoce e vigilância epidemiológica já que o HTLV-1 é considerado muitas vezes silencioso, com muitas pessoas infectadas sem saberem. Estima-se que entre 800 mil e 2,5 milhões de pessoas vivam com o HTLV no Brasil.