SAÚDE FEMININA

Atendimento ginecológico para mulheres neuroatípicas deve ter cuidado especializado

Cuidado à saúde da mulher deve ser abrangente e inclusivo, segundo especialistas

Atendimento ginecológico para mulheres neuroatípicas deve ter cuidado especializado

Com a crescente conscientização sobre a neurodiversidade, a área da saúde busca adaptar-se para atender às necessidades específicas de cada paciente. No campo da ginecologia e obstetrícia, esse cuidado se torna ainda mais fundamental. Em um cenário onde a falta de compreensão pode levar a experiências traumáticas, a Equipe Cuidar e Acolher lança um alerta sobre a necessidade de um atendimento mais empático e especializado para mulheres neuroatípicas, como as autistas.

Para ilustrar essa realidade, a equipe ouviu a jornalista Cyneida Correa, uma mulher autista que compartilhou sua experiência, desde o diagnóstico na vida adulta até um momento de extrema vulnerabilidade em um parto. Sua perspectiva reforça a urgência de uma mudança de paradigma no cuidado à saúde feminina.

O desafio no atendimento: uma perspectiva da paciente

Cyneida recebeu o diagnóstico de autismo na fase adulta, após a pandemia. “Até então, eu achava que o mundo era estranho e que apenas eu era ‘normal’”, relata. A descoberta, embora desafiadora, foi libertadora, pois a ajudou a compreender suas dificuldades e formas de comunicação e raciocínio.

No entanto, essa jornada de autoconhecimento também trouxe à tona a memória de uma experiência médica profundamente dolorosa. “Tive uma experiência extremamente traumática no nascimento da minha primeira filha. Fui submetida a gritos e agressões físicas enquanto sentia as dores do parto, além de não receber o atendimento adequado. Acredito que meu autismo dificultou ainda mais a compreensão e o enfrentamento daquele momento”, desabafa.

Para ela, a falta de comunicação e o desrespeito a suas particularidades sensoriais foram os principais gatilhos para o desconforto. “A falta de cuidado com o ambiente, com barulhos, luzes fortes e pressa, nos deixa muito ansiosas. Acredito que o mais importante é treinar os profissionais de saúde para compreender as particularidades sensoriais e emocionais e promover uma comunicação mais clara e eficaz”, sugere a jornalista.

Cyneida enfatiza a importância de um ambiente tranquilo, informações antecipadas sobre os procedimentos e a necessidade de respeito ao toque físico. “O toque pode ser difícil, especialmente quando não há explicação prévia. Os profissionais poderiam sempre avisar antes de cada passo, explicar o motivo e fazer tudo com delicadeza, respeitando se eu precisar de uma pausa”, detalha.

Atendimento Humanizado e Respeitoso

“O relato de Cyneida reforça nosso compromisso de que cada mulher, independentemente de sua neurotipicidade, merece um atendimento humanizado, respeitoso e individualizado”, afirma a médica Chayanne Alves.

“Em nossa equipe, entendemos que as peculiaridades de mulheres autistas, com hipersensibilidade sensorial ou outras neurodivergências, não são obstáculos, mas sim pontos de atenção que devem ser acolhidos para garantir a segurança e o bem-estar da paciente. Estamos dedicadas a prestar um atendimento que leve isso em consideração, com empatia e preparo técnico”, complementa.

Acolhimento e Preparo da Equipe

A médica Daniela Souza Araujo detalha como a equipe se prepara para esse tipo de acolhimento.

“A comunicação clara e a paciência são nossas ferramentas mais importantes. Em nosso trabalho, priorizamos um ambiente tranquilo, evitamos estímulos desnecessários e explicamos cada etapa do exame ou procedimento com calma, dando tempo para a paciente processar a informação. Além disso, incentivamos a presença de um acompanhante de confiança”, conclui.

A equipe reforça que o cuidado à saúde da mulher deve ser abrangente e inclusivo, e que as particularidades emocionais e sensoriais de cada paciente são pontos essenciais para a qualidade e a segurança do atendimento.

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