REPERCUSSÃO

Indígenas de Roraima repudiam debate sobre fim da Terra Raposa Serra do Sol

Vice-tuxaua geral do CIR diz que indígenas não são contra o desenvolvimento do Brasil e defendeu que autoridades ouçam os povos originários

Indígenas de Roraima repudiam debate sobre fim da Terra Raposa Serra do Sol Indígenas de Roraima repudiam debate sobre fim da Terra Raposa Serra do Sol Indígenas de Roraima repudiam debate sobre fim da Terra Raposa Serra do Sol Indígenas de Roraima repudiam debate sobre fim da Terra Raposa Serra do Sol
Produção agrícola na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Foto: CIR)
Produção agrícola na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Foto: CIR)

Comunidades da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e o Conselho Indígena de Roraima (CIR) repudiaram a aprovação de audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados para discutir o fim da demarcação do território indígena roraimense. Um deputado do Espírito Santo defende a rediscussão do tema para restabelecer a região como alternativa ao castigado pelas enchentes Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional de arroz.

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As lideranças avaliam que a proposta representa o retorno da invasão à reserva de 1,7 milhão de hectares, homologada há 15 anos, e que tem 32 mil indígenas macuxi, wapichana, taurepang, patamona e ingarikó, conforme o CIR. A região situada nas cidades de Uiramutã, Normandia e Pacaraima é dividida em 233 comunidades.

Produção agrícola na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Foto: CIR)

O vice-tuxaua geral do conselho, Enock Taurepang, disse às autoridades que a demarcação serve para preservar a vida dos indígenas e o meio ambiente. Para ele, é “retrógrado” e “colonizador” o pensamento de parlamentares que desejam rediscutir o tema.

“A gente vive em País democrático, onde as comunidades indígenas precisam ser ouvidas, respeitadas da forma que querem viver. As instituições e o próprio movimento indígena não estão parados, a gente tem criado estratégias e mecanismos de como apoiar de fato as nossas iniciativas de produção”, destacou.

O coordenador Arizona Menandro, do território indígena que abrange as regiões Surumu, Baixo Cotingo, Raposa e Serras, ressaltou que os povos indígenas ocupam toda a reserva com suas plantações tradicionais e que na maior parte dela existe a pecuária sustentável, sendo uma das maiores produtoras de bovinocultura do Estado.

Produção pecuária na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Foto: CIR)

“Hoje, aproximadamente possui 40 mil cabeças de gado no nosso território. As comunidades indígenas aumentaram, a população teve um aumento, o território foi todo ocupado. Os arrozeiros deixaram degradados, deixaram o nosso território devastado, e houve a defasagem dos animais silvestres. E hoje o povo indígena está tentando ainda recuperar o nosso território, usando pra bovinocultura, fazendo reflorestamento. A Raposa Serra do Sol tem também as nossas produções orgânicas. Aqui não tem uma família que passa necessidade”, pontuou.

O CIR destacou que o território indígena avançou na pecuária, agricultura, piscicultura e outras produções sustentáveis, sem os fazendeiros e arrozeiros que destruíam o meio ambiente antes da demarcação, aos quais define como “invasores”. O conselho lembrou que organiza a criação do Fundo Indígena Rutî para apoiar atividades produtivas familiares, comunitárias e regionais, fortalecendo iniciativas já existentes nas comunidades.

“Vamos começar a apoiar essas iniciativas de produção, justamente para sair dessa prisão e dessa armadilha que o Governo usa para as comunidades indígenas, para cooptar lideranças e famílias. Exemplo: eu dou algumas coisas para você e em troca eu quero você para sempre aos meus pés, para sempre me ajudar a chegar ao poder de governo, de vereador, deputado federal e de senador”, exemplificou Enock Taurepang.

Produção de grãos na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Foto: CIR)

O tuxaua explicou que os indígenas não são contra o desenvolvimento econômico do Estado brasileiro e defendeu que as autoridades ouçam os povos originários. “Que os governantes sejam capazes de vir conversar com a gente e não vir com modelo montado, de que tudo que a gente fala e quer, não cabe no modelo do Governo. Por isso, sempre vai existir esse embate”, lamentou.

Segundo maior território indígena do Brasil, a Raposa Serra do Sol foi homologada em 2005. Quatro anos depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou a demarcação contínua, em vez de terras em ilhas, o que resultou na expulsão de milhares de pessoas, incluindo rizicultores.

Perfil Lucas Luckezie
Lucas Luckezie

Jornalista

Formado pela UFRR. Iniciou a carreira em 2013 na Folha, onde está em sua 2ª passagem. Já trabalhou na Câmara de Boa Vista e na afiliada da TV Globo (Rede Amazônica), além de ter colaborado com SporTV, Globo e CNN Brasil. Tem experiência multimídia como repórter, apresentador, editor-chefe e assessor.

Formado pela UFRR. Iniciou a carreira em 2013 na Folha, onde está em sua 2ª passagem. Já trabalhou na Câmara de Boa Vista e na afiliada da TV Globo (Rede Amazônica), além de ter colaborado com SporTV, Globo e CNN Brasil. Tem experiência multimídia como repórter, apresentador, editor-chefe e assessor.

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