Política

Frente cresce contra proposta de Constituinte na Venezuela

'É a união de forças frente à ditadura, uma ampla frente antiditatorial', destacou o analista Rafael López

Frente cresce contra proposta de Constituinte na Venezuela Frente cresce contra proposta de Constituinte na Venezuela Frente cresce contra proposta de Constituinte na Venezuela Frente cresce contra proposta de Constituinte na Venezuela

O rechaço cada vez maior de figuras políticas e organizações à Constituinte proposta pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi definido pela Mesa de Unidade Democrática (MUD), principal coalizão opositora do país, como uma frente comum aberta a todos os setores.

Além da MUD, a Igreja Católica, partidos como o marxista Bandeira Vermelha, juristas, organizações de defesa dos direitos humanos, acadêmicos e intelectuais formam a principal resistência ao governo, juntamente com chavistas críticos como o famoso maestro Gustavo Dudamel, o Maré Socialista — dissidência do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), legenda de Maduro — e o deputado Eustoquio Contreras, único da coalizão governamental a se desvencilhar das ordens do Palácio de Miraflores.

— As circunstâncias estão forçando a convergência de diversos atores — afirma o analista José Rafael López Padrino. — É a união de forças frente à ditadura, uma ampla frente antiditatorial.

Essa frente ampla também é vista com bons olhos no exterior, especialmente na América do Sul, onde vários países, encabeçados por Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), levantaram suas vozes contra “o golpe definitivo de usurpação dos direitos do povo”.

— O madurismo se configura como algo diferente do chavismo original, que tem a procuradora-geral Luisa Ortega como grande defensora — afirma Luis

Salamanca, ex-reitor do Conselho Nacional Eleitoral. — Há a impressão de que ela está montando seu próprio projeto político.

Ainda assim, o cientista político acredita que um triunfo da frente comum é inviável:

— Maduro não vai parar. Ele está sozinho com sua camarilha, mas segue a toda, como um trem sem freios a toda velocidade — afirma. — Somente a força poderá repelir a força.

Mais uma vez, todos os olhares se voltam para o Exército e o general Vladimir Padrino López, ministro da Defesa, que, inicialmente apoiou sem pestanejar o plano do “filho de Chávez”. Porém, posteriormente, enfatizou seu apoio ao sufrágio universal, o que abre espaço para diferentes interpretações.

— Pode ser que surjam os mesmos militares que se levantaram após as eleições parlamentares de 2015 para defender o resultado eleitoral — afirma Salamanca. — Não acredito num pronunciamento (militar), mas em pressão interna.

Paralelamente, nomes do chavismo têm saído em defesa da proposta de Maduro. Na sexta-feira, num comício, o número dois do PSUV, Diosdado Cabello, afirmou que a Constituinte tem o objetivo de blindar a revolução bolivariana, e garantiu que a formação da nova Assembleia Nacional será levada adiante.
— Não há como voltar atrás — afirmou Cabello.

O ministro da Educação, Elías Jaua, que preside a comissão responsável pela Constituinte, informou que o governo venezuelano solicitou uma reunião com o núncio apostólico, Aldo Giordano, para mediar o diálogo e tentar frear os protestos que se intensificaram desde o anúncio da Constituinte, no dia 1º de maio.

A chamada “marcha dos avós” reuniu idosos que driblaram os cordões de isolamento formados por policiais, e chegaram à sede da Defensoria do Povo, em Mérida, para protestar contra o governo.

Liderada pelo governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, a manifestação enfrentou dificuldades e foi temporariamente dispersada pelas forças de segurança com gás lacrimogêneo. Reprimidos, os idosos foram obrigados a buscar rotas alternativas. Ao menos cinco manifestantes foram levados a hospitais.

Por sua vez, 11 jogadores da seleção nacional de futebol divulgaram um vídeo intitulado “Basta” pedindo o fim da repressão.

“A Venezuela inteira exige sua liberdade. Já basta de tanta repressão e de tantos mortos”, diz Nicolás “Miku” Fedor, que joga no Rayo Vallecano, da Segunda Divisão espanhola.

Na quinta-feira, o governo demitiu a ministra da Saúde, Antonieta Caporale, no cargo há quatro meses. A demissão aconteceu três dias após a publicação de um relatório que apontou crescimentos na mortalidade materna e infantil no país, além de aumentos nos casos de malária, difteria, tuberculose e coqueluche.

O país vive uma série crise de escassez de remédios, com desabastecimento de até 80%.

Com informações do Extra

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