O ex-vereador Ruan Kenobby e os vereadores Roberto Franco e Adnan Lima
O ex-vereador Ruan Kenobby e os vereadores Roberto Franco e Adnan Lima (Fotos: Arquivos pessoais)

O ex-vereador de Boa Vista, Ruan Kenobby, detalhou um suposto esquema de fraude na cota de gênero no partido DC, nas eleições municipais de 2024. Ele apresentou alegações finais na ação que pode cassar os vereadores da sigla, Roberto Franco – o mais votado do pleito passado com 4.043 votos – e Adnan Lima, que recebeu 2.687.

Kenobby, que se mudou para Boston (EUA) após ficar como segundo suplente da sigla com 1.722 votos, foi o único dos citados no processo a concordar com o denunciante Major Emmanuel, ex-candidato a vereador pelo União Brasil, de que o DC fraudou a cota.

“90% das mulheres que ali constam como candidatas foram incluídas apenas para cumprir a cota exigida para tal, sendo campanhas fictícias. Tanto o Vereador Adnan como o Vereador Roberto Franco tinham conhecimento de tal situação e participaram ativamente na preparação das referidas candidaturas “FAKES”, inclusive os mesmos sendo os cabeças de tal operação”, afirmou Kenobby à Justiça, por meio de “confissão de culpa” ao alegar ter sido impedido de apresentar declarações em audiência de instrução.

Os 19 candidatos que apresentaram alegações finais, as quais a Folha BV teve acesso, pediram a improcedência da ação por falta de provas. Já Major Emmanuel pediu que a Justiça reconheça o crime eleitoral e anule todos os 15.464 votos concedidos ao DC em 2024. Isso poderia cassar os vereadores eleitos, deixá-los inelegíveis e resultar no recálculo do coeficiente eleitoral, o que poderia mudar a atual composição da Câmara.

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Procurado, Roberto Franco negou todas as acusações, disse que não participou de nenhuma reunião com as lideranças do partido durante as eleições e que está “tranquilo” porque realizou a própria campanha, embora sem mandato na época.

“Isso é uma armação pra me prejudicar politicamente. O que eu acho é que ele quer extorquir a mim e ao Adnan, pedir dinheiro, por estarmos no mandato”, declarou.

Adnan Lima, por sua vez, disse receber a acusação com “tranquilidade” e reafirmou a defesa apresentada nos autos de que “não houve ilegalidade de cota de gênero no partido Democracia Cristã”.

“Confiando em Deus em primeiro lugar e na justiça! E sigo trabalhando em prol da minha cidade buscando atender as demandas da população”, declarou.

O ex-presidente municipal do DC, Dermailton Bezerra, o Miúdo, não retornou.

Como funcionava o suposto esquema

Na ação, Ruan Kenobby detalhou que tinha um acordo com Lima e Franco para repassar, mensalmente, R$ 1 mil para cada candidatura falsa. Em uma das oportunidades, ele disse ter enviado R$ 2 mil para Adnan Lima custear a própria cota do mês, referente a duas candidatas.

Para comprovar a alegação, Kenobby anexou um comprovante de depósito de R$ 1,2 mil para o vereador. Ele também mencionou a entrega de R$ 800 em espécie para o parlamentar.

O ex-vereador ainda relatou que, depois dessa ocasião, todos os valores mensais foram entregues em espécie a Miúdo, na sede da sigla. A ideia era que o dirigente cumprisse os acordos com as candidatas e evitasse suspeitas sobre as transferências de valores.

Suposta candidata fictícia era esposa de funcionário de Kenobby

Às alegações finais, Ruan Kenobby juntou fotos, portarias e prints de rede social para comprovar que uma das candidatas falsas, que recebeu apenas 20 votos apesar de ter mais de cinco mil seguidores no Instagram, era esposa de seu então funcionário na Câmara Municipal na época das eleições.

Um comentário dele na postagem dela indicaria que o servidor, antes da convenção, a apoiaria, mas que durante a campanha, conforme fotos no processo, o então assessor de Kenobby passou a fazer campanha para a reeleição dele.