Política

Empresários, políticos e bancários estão entre os presos em RR

Investigação identificou esquema fraudulento na concessão de créditos rurais pela Caixa; Mandados foram cumpridos em Roraima, Ceará, Paraná e Amapá

Seis pessoas foram presas temporariamente em Roraima nesta terça-feira, 17, durante cumprimento da terceira fase da Operação Assucena, deflagrada pela Polícia Federal (PF-RR) em parceria com o Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR). A suspeita é de desvio de R$ 6 milhões da Caixa Econômica Federal.

Dos nove mandados de prisão expedidos pela 4ª Vara da Justiça Federal em Roraima, seis foram cumpridos em Boa Vista, Caracaraí e Cantá. No total, foram nove mandados de prisão temporária e 17 mandados de busca e apreensão. Os outros mandados foram cumpridos nos estados do Ceará, Paraná e Amapá, com a participação de mais de 60 policiais federais. A Justiça também concedeu a quebra do sigilo bancário e fiscal e o bloqueio de bens e valores de alguns envolvidos.

Até o fechamento da matéria, o processo continuava em segredo de Justiça. Porém, dados obtidos pela Folha apontam que os alvos eram três homens e três mulheres, sendo um deles um proprietário de uma empresa agropecuária atuante em Roraima, uma que foi candidata à vereadora no município de Caracaraí nas últimas eleições, e uma servidora da Caixa Econômica no Estado.

MOTIVAÇÃO – Conforme informações repassadas pela PF e pelo MPF-RR, o objetivo da operação era prender membros de organização criminosa que seriam responsáveis por desvios de mais de R$ 6 milhões de reais por meio de um esquema fraudulento na concessão de créditos rurais pela Caixa Econômica Federal. 

“A fraude consistia em uma articulação prévia entre um gerente da Caixa Econômica, um projetista (engenheiro agrônomo, representante de empresa de projetos agrícolas credenciada pela Caixa) e particulares beneficiários do crédito rural, os ‘laranjas’, que após obter o empréstimo ficavam inadimplentes”, explicam as instituições.

Segundo os órgãos de controle, o esquema só foi possível com o apoio de pessoas do banco estatal, que indicavam aos suspeitos o representante da empresa de projetos agrícolas. O engenheiro então fazia a consolidação dos projetos utilizando dados dos laranjas e das empresas de fachada, além de criar as garantias inexistentes.

“As concessões dos créditos aconteciam sem a fiscalização das terras e sem a verificação de cadastro dos interessados, o que permitia que um beneficiário do Bolsa Família recebesse cerca de R$ 200 mil em empréstimos”, completou.

O MPF-RR e a PF afirmam ainda que, na relação de laranjas, constam o pai, mãe, esposa, companheira, filhos e terceiras pessoas ligadas aos envolvidos e que não tinham nenhuma relação com produção agrícola ou propriedades rurais. O levantamento aponta que os empréstimos eram concedidos às empresas de fachada, como se fossem destinados a grandes empresas envolvidas no agronegócio do Estado. Porém, a informação é que o crédito obtido não era utilizado para desenvolvimento de área rural e também em esquema de lavagem de dinheiro público. 

“Mais uma vez os recursos públicos são utilizados como algo próprio, particular. As transações indicam verdadeira festa de empréstimos. Com o recrutamento de ‘laranjas’, a criação de empresas de fachada e a confecção de documentação falsa conseguiam a liberação dos créditos rurais sem o preenchimento dos devidos requisitos. A única intenção era atacar o patrimônio da empresa pública”, afirmou o procurador da República Érico Gomes de Souza. 

Os investigados poderão responder também, na medida de sua participação, pelos crimes de peculato, organização criminosa, corrupção passiva e ativa, estelionato contra entidade de direito público e crime contra o sistema financeiro (art. 5.º da Lei nº 7.492/86). Se condenados, as penas para os principais suspeitos podem ultrapassar os 30 anos de prisão.

ASSUCENA – O nome da operação, Assucena, tem relação com a identificação da primeira empresa investigada no esquema criminoso. (P.C.)