ALTO ALEGRE

Eleição para prefeito 'tampão’ tem clima de descrédito, desconhecimento e busca por boca de urna

Três candidatos disputam o cargo com mandato até 31 de dezembro de 2024. Pleito foi convocado após cassação de prefeito

Portal de entrada do Município de Alto Alegre, em Roraima (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Portal de entrada do Município de Alto Alegre, em Roraima (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

A população de Alto Alegre, cidade 95 quilômetros distante de Boa Vista, vai às urnas em 28 de abril para escolher o novo prefeito para um mandato “tampão” até 31 de dezembro de 2024. O atual prefeito Valdenir Magrão (MDB), o professor Wagner Nunes (Republicanos) e o empresário Gaúcho da Soja (União Brasil) disputam a preferência de 11.269 eleitores no pleito suplementar e seus rostos estampam os adesivos de veículos espalhados pelas ruas e vicinais do Município.

Carros adesivados dos candidatos a prefeito de Alto Alegre (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O pleito foi convocado após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar o prefeito Pedro Henrique Machado por distribuir 1 mil cestas básicas em 2020, ano eleitoral marcado pela pandemia da Covid-19. Machado, que chegou a ser preso pela Polícia Federal (PF), ainda responde a um processo na Justiça Federal por fraude licitatória. Ele já disse que comprovaria sua inocência pelos crimes.

Descrença na política

Em meio aos últimos escândalos de corrupção, a Folha constatou em visita à cidade uma descrença na política local por parte do eleitorado. “Não vou votar. Política é algo que me perturba a cabeça”, disse o autônomo Brian Curuso Flett, 59, o qual lamenta o desconhecimento da própria população em viver esse cenário.

Repórter Lucas Luckezie em conversa com a população alto-alegrense (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Sem saber da eleição

A cidade ainda tem ignorância sobre a convocação de eleições suplementares e o motivo de serem realizadas. “Não sei porque esse negócio aí”, disse o agricultor Valdo Félix Lima, 64. “Negócio de política inventam tudo para a facilidade deles. Mas pra nossa é difícil”, afirmou ele, adiantando que pretende se abster da votação, após ser informado pela Folha da existência do pleito.

Seu Valdo fala à Folha sobre eleição suplementar em Alto Alegre (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

“Se precisar de duas eleições, a gente vai às duas”, disse o trabalhador rural Valtenor Cabral da Silva, 42, que por outro lado reclamou das condições ruins da vicinal 2, especialmente no período chuvoso. “Um buraco só. Não dá pra sair de casa. Carro atola, quebra”.

O técnico de Enfermagem, Francerli de Souza Barros, 54, lamentou em ter que sair de casa para votar não somente nas eleições suplementares, como em ter que escolher vereador e prefeito para mandato de quatro anos, em outubro. “Lamentável, mas é a vida”, afirmou, ressaltando a necessidade de melhorar a Saúde e a Segurança do Município.

Francerli de Souza comenta sobre duas eleições em Alto Alegre (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Medo de perseguição

Movimentação em Alto Alegre (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Dezenas de pessoas se recusaram a comentar sobre as eleições devido ao medo de possível perseguição política por declarações públicas. No entanto, houve quem resumisse o próprio sentimento, embora sob anonimato. “Precisamos melhorar a Saúde, limpeza na cidade, educação”, sugere uma eleitora.

Boca de urna

A reportagem percebeu, ainda, uma expectativa pela venda de votos, conhecida como boca de urna, a exemplo de um grupo de pessoas sentadas em frente a um dos comitês de campanha. Tipo de prática repudiada pelo aposentado e estudante de Direito, Evandro Moreira, 52, que vive há 12 anos na cidade. “A população é corrupta porque vende o seu voto”, disse. “A população poderia entender um pouco de política para poder mudar essa situação [de corrupção na cidade]”.

Evandro Moreira critica perfil corrupto de parte do eleitor alto-alegrense (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Esperança

Seu Valtenor trabalha em propriedade da vicinal 2, em Alto Alegre (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Por outro lado, há uma esperança de dias melhores para a cidade. A profissional do lar, Rosimeire Emiliano da Silva, 29, diz esperar a melhoria das vicinais intrafegáveis da vila São Silvestre, onde mora, bem como nas unidades escolares e de saúde da localidade.

“Quando a gente precisa [de dentista no posto de saúde], não tem, porque colocam maior dificuldade para atender. Nem todo mundo tem condição para contratar um profissional particular”, lamentou.