Nova Bancada Cristã avança e reacende discussão sobre o papel da religião no Congresso (Foto Lula Marques Agência Brasil)
Nova Bancada Cristã avança e reacende discussão sobre o papel da religião no Congresso (Foto Lula Marques Agência Brasil)

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (22), por ampla maioria — 398 votos a favor e 30 contra —, o pedido de urgência para votação de um projeto de resolução que cria uma nova bancada parlamentar: a Bancada Cristã. A proposta foi incluída de última hora na pauta pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e tem provocado reações diversas entre parlamentares e analistas políticos.

Se aprovada, a nova bancada — composta por deputados evangélicos e católicos — passará a ter status oficial no Regimento Interno da Câmara, somando-se às já existentes bancadas feminina e negra. O líder do grupo terá voz e voto nas reuniões de líderes e poderá se manifestar semanalmente durante o tempo destinado às comunicações de liderança.

A iniciativa é de autoria dos deputados Gilberto Nascimento (PSD-SP), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, e Luiz Gastão (PSD-CE), presidente da Frente Parlamentar Católica. No texto, os autores afirmam que a formalização da bancada representa o reconhecimento de uma “realidade política e social amplamente consolidada”, argumentando que a medida reforça o compromisso do Parlamento com a “representatividade plural”.
“Convicções morais partilhadas por grande parcela da população brasileira devem encontrar expressão legítima, organizada e transparente no processo legislativo”, diz o requerimento.

Apesar do discurso de pluralidade, a proposta foi recebida com cautela e críticas por parte de alguns parlamentares, que apontam riscos à separação entre Estado e religião e questionam a necessidade de institucionalizar um grupo com base em crenças religiosas em uma Casa que, pela Constituição, deve manter-se laica.

As frentes evangélica e católica — que já atuam de forma articulada há anos — continuarão existindo e poderão atuar junto à nova bancada “de forma independente, em pautas que convergirem e expressarem valores comuns”.

O presidente Hugo Motta afirmou, ao fim da votação, que pretende garantir um “debate amplo” sobre o tema antes da deliberação final. Ainda assim, o avanço rápido da proposta — em um momento de forte mobilização política de grupos religiosos no Congresso — acende o alerta sobre os limites entre representatividade e influência confessional no processo legislativo brasileiro.